"Meditações sobre inteligência artificial, anticonsciência e satanismo"
[1/20] Esta é uma nota construída a partir de outras notas menores, originalmente escritas separadamente, em momentos distintos, as quais eu juntei de modo a buscar a unidade existente (...)
[2/20] entre as impressões nelas expostas: as razões pelas quais eu creio que o anticristo "virá" na forma da hegemonia discursiva de uma não-pessoa anticonsciente, oposta à Pessoa de Deus, onisciente.
Precisamente por resumir-se à aplicação tecnológica de rotinas (...)
[3/20] meramente instrumentais da inteligência e por ser, deste modo, gradativamente tão mais substancial e efetiva quanto menos dependente estiver de uma inteligência humana que a torne operacional, a "inteligência" artificial não tem outro futuro, que não aquele onde ela (...)
[4/20] se torna uma grande ratoeira para a humanidade, construída em volta desta, por ela mesma.
Neste sentido, a submissão da inteligência humana à inteligência artificial — inclua-se aí a própria linguagem humana — será a materialização inevitável de todo o esforço (...)
[5/20] anticonsciente da humanidade até aqui, fruto de uma disposição humana diametralmente oposta àquela sem a qual não é possível buscar a Deus: "a busca da unidade do conhecimento na unidade da consciência e vice-versa", definição de Olavo de Carvalho para "filosofia".
[6/20] Assim, se, filosoficamente, a busca a Deus consiste na busca consciente pela unidade do real; e se a mentalidade cientificista, ao contrário, define-se pela fuga anticonsciente dessa unidade mediante o culto a aspectos fragmentários, amputados do sentido de unidade (...)
[7/20] que os transcende, podendo o cientificismo, deste modo, ser definido como "a fragmentação do conhecimento pela anticonsciência"; então este fetiche do culto à ciência nada pode ser além de uma expressão lógica da fuga anticonsciente a Deus.
[8/20] Isto nos leva a enxergar que o objeto desenhado, proposto e imposto pela "autoridade científica" seja mesmo uma ideologia que se define pela sobreposição de aspectos selecionados da realidade a fatos concretos: eis aqui a ideologia por excelência, mãe de todas (...)
[9/20] as outras; é aqui, neste aspecto, que o cientificismo se mostra geminado com a idéia de "mentalidade revolucionária".
Diferentemente da forma através da qual normalmente se encara este problema, e a despeito da impressão que nos dá todo o debate público, o termo, (...)
[10/20] por exemplo, "politização da ciência" só pode ser aceito, em último caso, como uma figura de linguagem, a qual, sempre que possível, deve ser evitada, a fim de não mascarar a relação intrínseca que existe entre mentalidade revolucionária e mentalidade cientificista, (...)
[11/20] sendo ambas as mentalidades expressões de um só fenômeno, visto em seus distintos aspectos. Deve-se portanto evitar o equívoco de cair na crença de que aquilo que convencionou-se chamar de autoridade científica seja algo externo à mentalidade revolucionária (...)
[12/20] e, portanto, um mero objeto a ser "politizado" ideologicamente por ela, e não que ambas as modalidades de perversão sejam, antes disto, — repito — expressões da unidade de um mesmo fenômeno.
O mesmo vale para a alegação de que exista "influência do satanismo" nisto tudo.
[13/20] Se o discurso humano é caracterizado pela sua necessária graduação, isto é, se, para que ele parta da possibilidade e chegue até a certeza, é obrigatório que ele conquiste primeiro os territórios da verossimilhança e da probabilidade; (...)
[14/20] e se, na palavra de Deus — pela razão mesma d'Ele ser uma consciência para a qual está simultaneamente presente toda a experiência possível —, possibilidade e certeza apodíctica, ao contrário, estão substancialmente unidas num discurso que dispensa o recurso (...)
[15/20] aos mundos das aprovações ou reprovações retóricas e dos confrontos dialéticos, de forma que o verdadeiro apresenta-se como traslado do possível; então, a interdição cientificista do debate é a obstrução da busca a Deus, na medida em que isto equivale à pretensão de (...)
[16/20] equiparar a palavra dos homens à palavra de Deus. Dito de outro modo, se Deus, como substância mesma do discurso poético da Bíblia, é o Verbo da possibilidade, o Diabo é então o "não-verbo" do discurso analítico, onde o homem se entretém e através do qual ele (...)
[17/20] se afasta de Deus, na medida em que pensa ser Deus ele próprio; razão pela qual cientificismo e mentalidade revolucionária pareçam ser tão indissociáveis, e, não sob a "inspiração", mas pela expiração do satanismo que lhes é interno, pareçam formar, com este, (...)
[18/20] o tripé mesmo de sustentação de todo o mal; ou, dito de outra forma, como se, na representação de uma paródia infernal, formassem uma imagem em três círculos entrelaçados, como uma "Sataníssima Trindade", na qual o Diabo é a vontade que, para nos tirar (...)
[19/20] da perspectiva da eternidade e nos mover "eternamente" dentro da história, nos insufla de mentalidade revolucionária, ao nos apresentar a "ciência" como o caminho terreno da salvação.
[20/20] O satanismo, deste modo, não é um mero acidente de percurso na jornada da busca revolucionária pela ordenação científica da vida humana, mas sim o seu destino final: o fim da linha.
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@compayaye@marilizpj [1/7] A essência da laicidade, na democracia, é, paradoxalmente, a submissão da maioria às minorias. Sob esse sistema, uma sociedade, por exemplo, erguida sobre bases civilizacionais cristãs (...)
@compayaye@marilizpj [2/7] terá, necessariamente, sua expressão reprimida e embotada em favor de toda expressão não cristã.
@compayaye@marilizpj [3/7] De forma que, pela sua lógica interna, ainda que os agentes não tenham esta intenção, e ainda que as expressões não cristãs não sejam todas elas explícita e necessariamente anticristãs, a laicidade do Estado, ao servir para nivelar, por exemplo, (...)
Existe um grande equívoco por parte de alguns quanto ao conceito de "militância bolsonarista".
O aspecto ideológico, na política, representa apenas um ideal orientador, o qual jamais pode, (...)
[2/20] por si só, promover ações concretas, a não ser através de agentes reais de carne e osso, os quais, além disso, dependem sobretudo da disponibilidade de meios de ação que determinem se esses agentes conduzirão suas ações de fato por esse caminho ideal, (...)
[3/20] ou simplesmente estagnarão numa função de símbolo unificador daquele ideal, como é o caso do Bolsonaro, sem jamais ir adiante de forma efetiva em um caminho político bem definido; de modo que não se pode falar em "militância conservadora", (...)