Num episódio de O Gambito da Rainha, um locutor compara a enxadrista fictícia Beth Harmon a uma campeã soviética chamada Nona Gaprindashvili - mas diz que Nona “nunca enfrentou homens”.
Nona, hoje com 80 anos, diz que estão apagando sua história e resolveu processar a Netflix.
“Estavam tentando fazer essa personagem fictícia abrir os caminhos pra outras mulheres, mas, na realidade, eu já tinha aberto os caminhos e inspirei gerações”, disse Nona em entrevista recente.
“Minha vida toda está sendo descartada, como se não fosse importante.”
Nona Gaprindashvili enfrentou e venceu homens no xadrez nas décadas de 60, 70 e 80, tornando-se a 1ª mulher do mundo a receber o título de Grande Mestre de Xadrez, em 1978.
O que Beth Harmon passou na ficção parece ter acontecido na vida real com Nona, que é georgiana.
A questão é que a série a menciona por nome, de forma a enaltecer a própria protagonista.
No processo que Nona moveu contra a Netflix, ela exige que a fala do locutor sobre “nunca ter enfrentado homens” seja removida.
O Gambito da Rainha recebeu 18 indicações ao prêmio Emmy.
“Numa história que deveria inspirar mulheres ao mostrar uma jovem competindo com homens no mais alto nível do xadrez mundial, a Netflix humilhou uma mulher de verdade que foi pioneira e de fato enfrentou e venceu homens na mesma época”, diz o processo, segundo o jornal NY Times.
Falamos sobre a série, que trouxe discussões interessantes, no ano passado:
No último clássico contra o FCSB, o Dínamo de Bucareste entrou em campo com cachorros para estimular a adoção.
A causa é bonita, ainda que o Dínamo tenha tomado de 6 a 0.
A motivação da campanha é que a cidade de Bucareste tem um problema grave de cães abandonados nas ruas.
(É uma boa ideia dizer, antes de prosseguir, que esse tema é sensível e talvez você prefira não continuar lendo. Seja como for, a campanha é muito legal. E, para amenizar, não vamos usar nenhuma imagem de mau gosto, é claro.)
A origem do problema está no plano de sistematização executado pelo ditador romeno Nicolae Ceauşescu no início dos anos 80.
A ação, que visava alterar a paisagem urbana da capital do país, fez com que cerca de 40 mil pessoas fossem forçadas a se mudar para outros lugares.
Emma Raducanu é filha de pai romeno, mãe chinesa, nasceu no Canadá e é britânica.
Seu triunfo no US Open virou um palco de disputa entre aqueles que acreditam que essa é uma vitória do multiculturalismo e aqueles que acham que essa é uma projeção muito pesada para uma atleta.
Raducanu, de apenas 18 anos, foi chamada de “uma história londrina” de sucesso pelo prefeito de Londres, Sadiq Khan.
O próprio Khan é descendente de imigrantes, com pais que vieram do Paquistão, e sua visão política é centrada nessa questão.
Mas a tenista também foi parabenizada pelo líder da direita populista Nigel Farage, um dos arquitetos do Brexit, cuja retórica anti-imigratória é conhecida.
Ele já afirmou, por exemplo, que romenos cometem mais crimes e ninguém fica feliz quando um se muda pra vizinhança.
Nessa nova temporada do futebol turco, um clube tem chamado a atenção, tanto pela sua movimentação no mercado quanto pelo retorno à 1ª divisão após décadas:
O Adana Demirspor, clube de raízes históricas políticas de esquerda e hoje com ligações com o governo Erdoğan.
Ao todo, foram 26 anos longe da 1ª divisão.
O que não quer dizer que o Adana Demirspor não seja um clube tradicional, com uma torcida fiel: fundada em 1940, a equipe tem hoje a 10ª maior torcida de toda a Turquia, mesmo com anos de sofrimento nas divisões inferiores.
Adana é a 6ª maior cidade turca, distante de centros como Istambul e Ancara.
O clube foi fundado por operários ferroviários, razão pela qual sua torcida historicamente se identificou com pautas de esquerda, mantendo amizades com torcedores de clubes como St. Pauli e Livorno.
O jogo das Eliminatórias africanas entre Guiné e Marrocos marcado pra amanhã foi suspenso devido a um golpe de Estado em curso no país da África Ocidental.
(Ou seja, se esse Brasil e Argentina tivesse sido marcado pra 7 de setembro, quem sabe poderia terminar dessa forma…)
Soldados guineanos apareceram em rede nacional de TV neste domingo dizendo que eles dissolveram o governo do país. O Ministro da Defesa de Guiné, por outro lado, afirma que o golpe foi impedido pela guarda presidencial.
A seleção do Marrocos está deixando o país às pressas.
Muitos tiros foram ouvidos nas últimas horas, inclusive pelos marroquinos, na região do palácio presidencial, localizado na capital guineana, Conacri.
No poder desde 2010, o presidente Alpha Condé foi aparentemente detido pelos militares. Informações ainda estão desencontradas,
Samia Suluhu Hassan é a 1ª mulher a presidir a Tanzânia.
Por isso, foi duro para as jogadoras de futebol do país ouvirem dela, na semana passada, que elas “não tinham chance de se casarem” porque “pareciam homens”, já que “não têm peito”.
O comentário revoltou tanzanianas.
Suluhu Hassan falou sobre o assunto em evento com a seleção masculina sub-23 do país. Ela reconheceu que as jogadoras “dão orgulho”, mas que “uma vida de casada é um sonho” pra maioria.
Esse foi o jeito de ela defender que o país pague aposentadoria pra atletas femininas.
É preciso contextualizar: ela assumiu após a morte do presidente John Magufuli, governante de tendência autoritária. Curioso é que Magufuli era um grande negacionista da covid-19, e sua morte sob circunstâncias pouco claras levanta até suspeitas de que ele morreu devido ao vírus.