Bom dia. Se há algo que fico incomodado é com a acusação que as manifestações de junho de 2013 foram projetadas pela direita ou que abriram as portas para a extrema-direita. Fico particularmente incomodado com mau-caratismo e falta de rigor metodológico. Explico:
1) O mau-caratismo se expressa por aquele tipo de militante que quer surfar em qualquer onda que aparecer na sua frente para conseguir emplacar uma versão mais abonadora de quem ele apoia. Não tem compromisso algum com a seriedade e uma discussão franca e oportuna
2) Já o pesquisador de final de semana não pesquisa ou não sabe pesquisar. Procura a melhor onda, mas trabalha com sofismas ou com algum viés de confirmação.
3) Já topei com textos acadêmicos que sugeriam que havia uma corrente dos Comitês da Copa e outra, dos Comitês de Atingidos pela Copa. Citavam até uma terceira corrente, o "Não vai ter Copa". Acontece que era uma única rede de Comitês da Copa criados por jovens universitários
4) O Comitê da Copa de Belo Horizonte compunha a rede de 12 comitês e ganhou o nome de Comitê de Atingidos pela Copa. E todos comitês adoram a palavra de ordem "Não vai ter Copa".
5) Eram jovens universitários que foram motivados por seminários organizados por universidades e que tiveram como principal expositora a urbanista Raquel Rolnik. Produziram muitos dossiês ( . br.boell.org/pt-br/2014/12/… ) que os desavisados nem consultaram
6) No PT, a corrente majoritária abafou as orientações da Juventude do PT, que apoiou as manifestações de 2013 do começo ao fim. Vou postar as entidades que se envolveram ou apoiaram 2013. Percebam como são de esquerda:
7) Apoiaram 2013: SindUTE, o sindicato de professores da rede estadual, filiado à CUT; Associação de Geógrafos do Brasil, Associação Cultural José
Martí, Assembleia Nacional de Estudantes, Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania ...
8) ... , LER-QI (Liga Estratégica Revolucionária), Brigadas Populares, COPAC (Comitê Popular dos Atingidos pela Copa), MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas), UJR (União da Juventude Rebelião), UJC, MST, além dos partidos PCR, PCB, PSOL e PSTU, dentre tantas
9) Em BH, organizações populares e partidos de esquerda convocaram uma reunião no centro da cidade, na sede do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte (Sindrede) desde o início com a intenção era estabelecer um bloco de esquerda
10) Estavam nesta articulação (em 2013): Brigadas Populares, o Levante Popular da Juventude, a Via Campesina, a Marcha Mundial das Mulheres, organizações LGBT da capital mineira, MLB (Movimento de Luta dos Bairros), SindUTE, CUT, movimento estudantil e ... PT
11) O COPAC, comitê de atingidos pela Copa de BH, surgiu de um encontro realizado em 2010 (o Encontro das Comunidades da Resistência), articulado pelas Brigadas Populares, o projeto Polos da Cidadania (UFMG), Movimento da População de Rua e núcleos de Sem Teto.
12) O que quero sugerir é que esta versão sobre 2013 ter sido articulada pela direita ou extrema-direita é uma disputa de narrativa. Disputa política, possivelmente partidária, que não tem relação alguma com pesquisa e análise séria ou profissional
13) Sou sociólogo desde 1984. Desde então, sou pesquisador profissional. Tive uma formação gramsciana na PUC SP e durante muito tempo estive alinhado com a linha teórica denominada Novos Movimentos Sociais (NMS) que analisa as práticas de organização autônoma da sociedade civil
14) A corrente teórica NMS invertia a interpretação do mundo institucional, enfatizando a necessária legitimação pela sociedade civil, não o contrário. Daí a busca de pesquisas sobre identidades, imaginário, representação social e cultura política
15) Fico realmente incomodado com essa provocação barata que sugere irresponsavelmente que 2013 tem vínculos com o bolsonarismo. As articulações empresariais que desaguaram no bolsonarismo começaram na década de 1990 e estão fartamente registradas numa tese de doutorado
16) Não posso, como profissional da área que desde a década de 1980 realiza pesquisas sobre movimentos e mobilizações sociais no Brasil, deixar passar esse viés de confirmação de quem não tem compromisso com pesquisa e rigor analítico. Quem desejar ler o que pesquisei sobre 2013:
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Lá vai a exposição que fiz hoje à tarde para o Fórum 21 que havia prometido pela manhã.
1) Marcos gerais do comportamento político brasileiro
Alain Touraine sugere que o espectro político brasileiro aderna à direita: socialistas adotam programas socialdemocratas, socialdemocratas defendem agenda liberal e liberais são ultraconservadores no Brasil
2) O autor francês sustenta que a dimensão política do mundo contemporâneo foi capturada pela dimensão econômica (interesses transnacionais) e alijou desta equação da representação formal a dimensão cultural (dos valores e crenças, da energia moral que brota da sociedade civil)
Bom dia. Ontem, postei um fio sobre como os empresários paulistas, cariocas e gaúchos financiaram a escalada da extrema-direita brasileira desde o início deste século. Para dar sequência àquele fio, postarei as movimentações dos Bolsonaros para criação de um think tank. Lá vai
1) Segundo matéria assinada por Manuela Dorea de 5 de julho de 2021, Eduardo Bolsonaro articula a criação de um instituto ultraconservador. Traduzo como um aparelho de extrema-direita comandado por ele. No dia 7 de junho, reuniu 40 empresários, ativistas e influenciadores
2) Empresário estavam representados por Otávio Fakhoury, Andre Kissajikian (incorporadora AK Realty) e Gabriel Kanner (Instituto Brasil 2000), o presidente do Instituto Mises Brasil, Hélio Beltrão, além dos investidores Edu Cavendish (Somas) e Pablo Spyer.
Vou encher um pouco a vida de vocês. Venho defendendo que 2013 não teve nada a ver com a escalada da extrema-direita no Brasil. Acho que essa versão demoníaca de 2013 é uma tentativa de emplacar uma versão paulista (onde a direita teve realmente espaço). Lá vai.
1) Vou reproduzir duas informações interessantes sobre como se articularam jovens desde o início do século XXI, recrutados por empresários paulistas, cariocas e gaúchos, em especial. Constam no livro As Direitas nas Redes e nas Ruas, organizado por Esther Solano e Camila Rocha
2) No início dos anos 2000, existiam na internet alguns poucos blogs e listas de emails nos quais circulavam argumentos em defesa da maior liberdade de mercado (...). Tal cenário começou a mudar a partir de 2004 com a criação da rede social Orkut.
Prometi postar, hoje, um resumo dos dados divulgados pela Vox Populi sobre a intenção de voto - e outros temas correlatos - dos evangélicos para 2022 que apresentei na análise de conjuntura do último dia 11. Promessa é dívida:
1) Os evangélicos seguem o mesmo perfil de interesse na política que os brasileiros em geral: somente 27% têm interesse no "trem"
2) A avaliação que evangélicos fazem do governo Bolsonaro também tem "boca do jacaré" abrindo como ocorre no geral (embora com menos avaliações negativas). A vaia que Jair tomou em Aparecida do Norte, parece, não se limitaria aos católicos
Socializarei, amanhã, os slides da apresentação que fiz na segunda sobre a pesquisa Vox Populi a respeito da intenção de voto dos evangélicos brasileiros. Hoje, contudo, farei um breve fio sobre a postura que considero mais adequada da esquerda em relação à candidatura de Lula.
1) Lula estaria eleito se a eleição fosse hoje. O cenário é cada vez mais favorável: polarização consolidada com Bolsonaro, com queda de popularidade do presidente atual. E o cenário econômico jogando por terra até mesmo a projeção do final dos riscos maiores da pandemia.
2) A terceira via parece sufocada pela movimentação de Lula e pela polarização. À cada pesquisa, parece mais com aquele tipo de banana. A esquerda precisa começar a planejar seus passos a partir da montagem de cenários, sendo que o mais sólido no momento é a vitória de Lula.
Farei um fio com 5 observações sobre a validade das experiências socialistas ou que podem ser incluídas no ethos do campo de esquerda e que não estão merecendo um debate à altura de nossa parte. Lá vai:
1) a quase totalidade das revoltas e revoluções do século XX foram anticapitalistas. Algumas, no ethos da lógica Socialista, como a revolução zapatista de 1910. Contudo, nos "esquecemos" desse fato. Influência de Fukuyama?
2) a teoria marxista permanece válida e pujante, tanto que continuamos discutindo seus conceitos. Considero uma missão impossível desqualificar o conceito de luta de classes, principalmente no Brasil de 2021.