Contos de Djuha: um clássico da cultura Sefardi
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Antes de falarmos sobre contos Sefardi, sejam eles humorísticos, lendas, folclóricos ou mesmo lições de moral diretas, é importante falar sobre um personagem comum em muitas dessas histórias, em especial as humorísticas: Djuha, Juha ou mesmo Goha.
Histórias sobre Djuha compõem cerca de 1 por cento do IFA (do qual falaremos em breve). Djuha é a fonte primária de piadas e provérbios humorísticos na cultura sefardita, existindo das mais variadas formas, dependendo da região e período.
Em geral, Djuha é conhecido como o “Tolo Sábio”, uma forma de sátira àqueles que têm poder e em como é exercido. A moral é que, em suas histórias, ele parece tão estúpido, sendo, na verdade, o mais inteligente, e expõe as ambiguidades idiomáticas e suas contradições.
Djuha é mais comum entre judeus de origem espanhola, mas é parte de praticamente toda cultura sefardita. Nas regiões do Irã e Afeganistão, as histórias de Nasreddin Hoca são mais comuns. Nelas, o personagem (semelhante a Djuha) é chamado Molla (ou Mulla), que significa professor.
No Iraque, Iêmen, Líbano e entre árabes israelenses, existem os contos de Abu Nuwas.
A primeira referência conhecida à Djuha é feita por Al-Djahiz, no século 9 da era comum. Já ao começo do século 10, a expressão “Ahmaq min Djuha” ou “Mais estúpido que Djuha” passa a ser usada.
Histórias sobre Djuha se mantiveram comuns no norte da África por meio de árabes e Imazighen, e na Pérsia se tornou Júhí. Porém, sua cidade de origem varia. A tradição árabe medieval o considera parte da cidade de Hims, e tradições turcas dizem que Sivrihsar é sua cidade natal.
Os contos de Nasreddin Hoca se espalharam pela China e Finlândia, e suas histórias continuam a ser contadas pelo mundo todo, sendo algumas vindas de relatos de soldados da Primeira Guerra Mundial, outras como tradições e piadas.
Djuha é um personagem extremamente importante na construção do folclore Sefardita, e suas histórias devem ser contadas para as novas gerações.
Agora um relato pessoal de uma das adms:
“Depois de estudar sobre o Djuha e suas versões, eu não pude não me lembrar de uma série de histórias que minha avó me contava, sobre um personagem de outro nome, mas com características bem parecidas.
Pensei que pudesse ser coincidência, só um outro personagem no arquétipo de Pícaro, mas como o pai e mãe da minha avó são judeus sefarditas, achei que valia a pena perguntar.
Ela me contou que era o pai dela quem contava essas histórias. Eu contei o que sabia, ela contou o que sabia. A gente encontrou algumas histórias em comum, algumas que estavam tanto nos registros do IFA quanto nas histórias que ela cresceu ouvindo de seu pai.
Conheci Djuha por esse nome há pouco tempo, mas que me é querido, e faz parte das histórias que cresci e mais gostava de ouvir quando criança. Descobrir que eu já o conhecia, ou ao menos conhecia uma de suas versões, foi algo incrível que marcou tanto a mim quanto minha avó.
Eu não esperava que fosse vê-la tão feliz ao saber que mais pessoas conheciam as histórias com as quais ela cresceu. E descobrir que são uma herança, uma tradição bem mais antiga do que ela acreditava.
Eu não esperava descobrir algo sobre minha própria família em textos de pessoas de todo lugar do mundo. Eu já gostava do Djuha antes, agora gosto muito mais.”
“Uma Divisão Justa”
Contado por Hannah Rabbi à Moshe Rabbi.
“Em um dia de mercado, Djuha e dois amigos foram ver o que poderiam comprar como parceiros. Eles compraram um carneiro e duas ovelhas e os arrastaram para fora do mercado. Então, era hora de dividir e ir para casa.
“Venham, vamos fazer uma divisão justa”, propôs Djuha. “Vocês, meus amigos, são dois, peguem uma ovelha e serão três. O caneiro e eu pegaremos a outra ovelha.”
📌 Fonte: livro “Folktales of the Jews”, volume 1.
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Essa página surgiu de uma ideia de uma das nossas ADMs, que estava escrevendo um livro com base em personagens Sefaradim e judaísmo e se deu conta de que quase não existe público para isso.
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E a maioria das grandes páginas literárias, por mais incríveis que sejam, nunca nem citaram judeus.
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Bruxas se tornaram parte do imaginário popular. Qual famosa obra de fantasia não possui a figura maléfica, com seu grande nariz, seu chapéu pontudo e seus rituais macabros?
E afinal, de onde isso surgiu?
Voltemos ao ano de 1486, com a publicação do livro “Malleus Maleficarum", de Heinrich Kramer. A obra inquisitorial dividida em três partes, instruindo sobre a relação do diabo com a bruxaria, assim como formas de identificar o mal e combatê-lo, foi o guia para a “caça às bruxas”.
Não tem como falar da união de terror e comédia sem citar a Família Addams. E mesmo que a história não tenha origem judaica, ela muitas vezes é tida como uma referência na infância de muitas famílias judias estadunidenses. E os motivos para tal não são poucos.
Charles Addams (ou Chas Addams, pseudônimo), em 1938, publicou a primeira história da família de seu sobrenome, inspirada na cidade em que cresceu. A história original é uma série de tirinhas publicada na New Yorker, piadas com base na inversão de valores da família tradicional.