Sobre 1. Contexto 2. Transmissibilidade 3. Efectividade das vacinas 4. Medidas e projeções 5. Saúde global
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🚨 tem ciência e incertezas
1. CONTEXTO
Sabíamos que isto poderia acontecer.
A DGS em Out fez um cenário (sem reforço vac) que contemplava uma nova variante. Se forem confirmados os indícios poderá ter impacto a médio prazo (2 a 6 meses) n hospitalizações e mortalidade
Sabíamos que isto podia acontecer porque o vírus continua a evoluir.
O ritmo de evolução do SARS-CoV-2 é 5x maior que o vírus da gripe sazonal
2. TRANSMISSIBILIDADE
Está para mim foi a “red flag” 🚩 uma variante nova com potencial de substituir a variante Delta.
Só variantes mais transmissíveis conseguem derrotar a delta, a Mu que tinha muitas mutações mas era menos transmissível nao se impôs a delta.
2. TRANSMISSIBILIDADE
A omicron tem conjunto de mutações muito alto e algumas com provável vantagem (o vírus torna-se mais competente a infectar e replicar se nas células)
Veremos provavelmente também um aumento das reinfecoes
2. TRANSMISSIBILIDADE
O que ainda não sabemos ?
1. quantificar a capacidade de evasão ao sistema imunitário
2. saber se é mais letal
Os ensaios de neutralização podem dar pistas mais precoces (2semanas), mas só teremos estes dados consolidados daqui a alguns meses.
3. EFECTIVIDADE DAS VACINAS
Provavelmente as vacinas vão perder alguma efectividade (como já tinha acontecido com a Delta) mas vão continuar a funcionar, e proteger especialmente contra doença grave e morte.
Neste momento a VOC omicron já foi detectada na Bélgica, Israel.
Nos próximos dias/semanas será identificada em muitos outros países (Portugal não será excepção)
4. MEDIDAS
Portugal está especialmente vulnerável a introduções em locais onde há grande ligação a África do Sul (Madeira) e Moçambique (Grande Lisboa?) nesta fase inicial.
À medida que a variante se disseminar o risco será mais difuso e difícil de controlar.
4 MEDIDAS
Os travel bans atrasam mas não resolvem tudo.
Vide o exemplo de Israel, com medidas draconianas conseguiu atrasar 2 meses em relação aos UK a dominância da Delta.
4. MEDIDAS
Para que são úteis os travel bans?
Para reduzir novas introduções (caso importado c a variante)
Para sabermos mais informação sobre a variante
Dar tempo pra vacinar mais com booster e diferir o pico da Omicron do pico do inverno (se forem confirmados indicios)
4. Medidas
A variante Omicron tem uma “assinatura” não amplifica o gene S.
O que ajuda a identificar com mais rapidez do que a sequenciacao. Isso será muito útil em Portugal. Em complemento ao que o @irj_pt já faz.
4. MEDIDAS
Em crescimento exponencial a VOC Omicron levará 6 meses até atingir a dominância mundial (mais de 50% casos).
É imprevisível quando pode acontecer em Portugal, mais quanto mais “desconfinado” mais rápido será.
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4. MEDIDAS
Há a possibilidade de os indícios não se confirmarem e a delta continuar a dominar.
O meu instinto ou “educated guess” diz me que há grande probabilidade que a Omicron venha a substituir a Delta como VOC dominante.
4. MEDIDAS
O meu Outlook para Portugal 🇵🇹 continua moderadamente optimista.
O vírus terá uma capacidade cada vez menor de disrupçao das nossas vidas.
Esta variante pode tornar as coisas mais difíceis (como a Delta já tornou), mas ultrapassáveis.
4. MEDIDAS
Mesmo sem a Omicron muito provavelmente vamos ultrapassar a linha vermelha das 255 camas de UCI, provavelmente vamos chegar as 300 a 350.
Provavelmente o efeito da VOC Omicron só terá “peso” daqui a alguns meses. Esperemos que reduzido fruto do roll out das doses de reforço.
5. Saúde Global
A África do Sul fez uma incrível caracterização da Omicron. E será castigada p isso (travel bans).
E urgente um novo mecanismo global de gestão de pandemia para que quem fornece informação não seja castigo (p.e suporte pelo banco mundial dos prejuízos)
Foi um enorme privilégio e desafio estar ao leme da informação e análise durante 1 ano na maior pandemia do século.
Volto para a minha vida académica com a sensação de dever cumprido
Alguns pensamentos
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1. Quando comecei sabia que ia ser uma missão de curta duração, tenho um PhD para acabar nos USA.
Com a epidemia estável, 85% da pop com pelo menos uma dose da vacinar, estabilidade na sucessão do serviço na DGS, demos a minha missão por terminada.
2. Durante este ano tive como missão total e absoluta
2.1 estabilizar os sistemas de informação 2.2 aumentar a rapidez, quantidade e qualidade da informação produzida e partilhada 2.3 melhorar a qualidade da análise
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+ informação = melhor decisão
Uma das medidas de prevenção #COVID19PT mais importantes é a auto-avaliação diária do estado de saúde.
Pensar ao acordar se temos qq tipo de sintoma COVID (falta cheiro ou paladar, dor de garganta, febre, cefaleia,etc)
Se estive doente fique em casa e ligue SNS 24
Para os followers mais técnicos
Sei que 1. Existe transmissão nos assintomaticos e que prov são 20% 2. Existe transmissão nos pre-sintomáticos (2dias antes)
Se no ponto 1. Podemos fazer pouco, no 2. sabemos q são transmissores menos eficazes
Se reduzirmos contactos dos sintomáticos principalmente em settings de “super spreading” que atualmente são maioritariamente no trabalho conseguimos reduzir o números de surtos grandes.
O COVID veio para ficar até a vacina estar disponível, temos de aprender a viver com ele.
Agora que começamos a discutir as estratégias de levantamento das restrições, vale a pena rever algumas coisas e pensar em outras
1. Sem medidas supressão (restrição social intensa) o sistema de saúde teria entrado colapso, e não são só em modelos, é a Lombardia, NYC etc...
2. Obviamente que temos um menor nível de imunidade natural que outros países. Mas o trade-off social que fizemos foi de proteccao dos que tinham maior risco de complicações. Tendo a certeza que lhes podíamos oferecer o melhor que a medicina tem disponível.
3. O equilíbrio que temos de atingir tem num prato da balança a economia (que exige maior contacto social) e no outro a capacidade de resposta da saúde pública e do sistema de saúde (manter controlada a transmissão e oferecer os melhores cuidados possíveis)