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Dec 10, 2021 31 tweets 10 min read Read on X
Olá, pessoal! Esse é o segundo fio da série sobre a #aids. Neste, abordaremos a origem do vírus.

Segue o fio 🧶
O HIV é um retrovírus que infecta primariamente os componentes do sistema imunológico humano, como as células T CD4+, macrófagos e células dendríticas. Ele destrói as células T CD4+ direta e indiretamente.
Trata-se de um membro do gênero Lentivirus que costuma infectar espécies de mamíferos, causando doenças de longa duração, com um longo período de incubação. Os lentivírus são transmitidos como um vírus de RNA em sentido positivo.
Após a entrada na célula-alvo, o genoma do RNA viral é convertido em DNA de cadeia dupla através da enzima transcriptase reversa codificada pelo vírus, que é transportada juntamente com o genoma viral na partícula do vírus.
O DNA viral resultante penetra no núcleo da célula, onde é integrado ao DNA celular por uma enzima integrase, também codificada pelo vírus. Integrado, o vírus pode tornar-se latente, permitindo que ele e sua célula hospedeira não sejam detectados pelo nosso sistema imunológico.
Alternativamente, o vírus pode ser transmitido, copiando seu genoma de RNA e proteínas virais, que são "empacotados" e liberados a partir da célula como novas partículas virais, com a capacidade de iniciar o ciclo de replicação novamente.
Dois tipos de HIV já foram caracterizados: HIV-1 e HIV-2. O HIV-1 é o vírus que foi originalmente descoberto (e também inicialmente referido como LAV ou HTLV-III). É mais virulento, infeccioso e é a causa da maior parte das infecções de HIV no mundo.
O HIV-2 é menos infeccioso em comparação ao HIV-1, o que indica que menos pessoas serão infectadas por exposição ao HIV-2. Devido à sua capacidade de transmissão relativamente fraca, o HIV-2 está amplamente confinado à África ocidental.
Acredita-se que ambos vírus se originaram em primatas no centro-oeste africano e passaram a infectar os humanos no início do século XX. O HIV-1 parece ter se originado através da evolução do SIV(cpz), o vírus da imunodeficiência símia (SIV), que infecta os chimpanzés selvagens.
O parente mais próximo do HIV-2 é o SIV(smm), vírus do macaco do Velho Mundo que vive no litoral da África Ocidental. Os macacos do Novo Mundo são resistentes à infecção pelo HIV-1, possivelmente por uma fusão genômica de dois genes com resistência viral pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18854152/
Há evidência de que humanos que participavam de atividades com animais selvagens, como caçadores ou vendedores de animais silvestres,se infectaram com o SIV. No entanto, o SIV é um vírus fraco que, normalmente, é suprimido pelo sistema imunológico humano dentro de poucas semanas.
Acredita-se que várias transmissões de pessoa para pessoa desse vírus foram necessárias para dar-lhe tempo suficiente para se transformar no HIV. Estudos genéticos do vírus sugerem que o ancestral comum mais recente do grupo M do HIV-1 remonta ao ano de 1910.
A epidemia do HIV é ligada ao surgimento e crescimento das grandes cidades africanas coloniais e mudanças sociais da época, como aumento da promiscuidade sexual, disseminação da prostituição e alta frequência de casos de doenças genitais (como a sífilis pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20376191/
Embora as taxas de transmissão do HIV durante a relação sexual vaginal sejam baixas em circunstâncias normais, elas aumentam se um dos parceiros sofrer de uma doença sexualmente transmissível que ocasione úlceras genitais.
No início do anos 1900, as cidades coloniais eram marcadas por uma alta prevalência de prostituição e de casos de úlceras genitais. Acredita-se que em torno de 45% das mulheres do Congo, eram prostitutas e cerca de 15% de todos os moradores da mesma cidade tinham sífilis.
Uma visão alternativa dos estudos defende que práticas médicas inseguras na África, que ocorreram após a Segunda Guerra Mundial, como a reutilização de seringas não esterilizadas durante programas de vacinação em massa +
+ uso de antibióticos e de campanhas de tratamento anti-malária foram os vetores iniciais que permitiram que o vírus se espalhasse e se adaptasse aos seres humanos.
Evidências revelam que o HIV surgiu no centro-oeste da África durante o início do século XX. Mas a AIDS foi reconhecida pela primeira vez em 1981, pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, e o vírus causador foi identificado na primeira metade da década.
Os casos iniciais ocorreram em um grupo de usuários de drogas injetáveis ​​e de homens homossexuais que estavam com a imunidade comprometida sem motivo aparente.
Eles apresentavam sintomas de pneumonia pelo fungo Pneumocystis carinii (PCP), que era uma infecção oportunista incomum até então, conhecida por ocorrer em pessoas com o sistema imunológico muito debilitado.
Pouco depois, um número inesperado de homens gays desenvolveu um tipo de câncer de pele raro chamado sarcoma de Kaposi. Muitos mais casos de PCP e de sarcoma de Kaposi surgiram, quando um alerta foi dado ao CDC, que enviou uma força-tarefa para acompanhar o surto.
Desde sua descoberta, a Aids sempre foi uma doença cercada de preconceito. Inicialmente chegou a ser chamada erroneamente pelo CDC americano de "a doença dos 4 H's", uma vez que a síndrome parecia afetar haitianos, homossexuais, hemofílicos e usuários de heroína.
Na imprensa, erroneamente foi inventado o termo "GRID", de gay-related immune deficiency (tradução livre, "deficiência imunológica relacionada aos gays"). Depois de determinar que a AIDS não estava restrita à comunidade homossexual, percebeu-se que o termo GRID estava errado.
Nesse momento, a sigla AIDS, de acquired immunodeficiency syndrome, foi introduzida em uma reunião do CDC em julho de 1982 e passou a ser o termo correto para definir internacionalmente a doença.
Em 1983, dois grupos de pesquisa independentes liderados por Robert Gallo e Luc Montagnier, declararam que um novo retrovírus de RNA poderia ter infectado os pacientes com AIDS e publicaram as descobertas na mesma edição Science: pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/6601823/ e pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/6189183/
Gallo afirmou que o vírus de um paciente com AIDS isolado pelo seu grupo de pesquisa apresentava uma forma muito semelhante a de outros vírus T-linfotrópicos, isolados, primeiramente, por sua equipe. Eles denominaram o vírus recém isolado de HTLV-III.
Ao mesmo tempo, o grupo de Montagnier isolou um vírus a partir de um paciente que apresentava inchaço dos nódulos linfáticos do pescoço e fraqueza física, dois sintomas característicos da AIDS.
Contradizendo o relatório do grupo de Gallo, Montagnier e seus colegas mostraram que as proteínas do núcleo do vírus eram imunologicamente diferentes das do vírus HTLV-III isolado pelo grupo de Gallo.
O vírus isolado pelo grupo de Montagnier foi chamado de lymphadenopathy-associated virus, LAV ("vírus associado à linfadenopatia"). Em 1986, descobriu-se que ambos eram o mesmo vírus, e LAV e HTLV-III foram renomeados para HIV, sigla em inglês de vírus da imunodeficiência humana.
Fiquem ligados para o próximo fio, que falará sobre a resistência do HIV aos tratamentos antirretrovirais!

Até lá!
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Jan 24, 2023
Olá, pessoal!

Nosso painel que trata das variantes do SARS-CoV-2 acaba de ser atualizado, agora com dados até a semana de 16/01/2023 a 22/01/2023:
Mesmo com dados bem atualizados, é importante lembrar que a quantidade de amostras sequenciadas nos últimos dias é bastante pequena.

Vejam aqui o gráfico do Brasil, onde fica fácil de perceber que a quantidade das amostras referentes a janeiro de 2023 é muito baixa:
Também temos uma página específica para acompanhamento da XBB.1.5 (nesta imagem, filtrado novamente para o Brasil).

Nesta mesma página do painel podemos acompanhar todos os sequenciamentos cujo resultado foi a Omicron (qualquer sub variante), para ver como temos várias:
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Jan 4, 2023
Olá, pessoal! @schrarstzhaupt aqui!

Feliz 2023 pra todo mundo!

Esperamos que este ano seja mais tranquilo para todos nós!

Vamos iniciar com um fio rápido para vermos a situação da #mpox no Brasil? 🧵 //1
Até o dia 03/01/2023 temos 10.544 casos totais notificados, lembrando sempre que a primeira notificação se deu em 27/06/2022, onde 20 casos foram inseridos no boletim nacional. //2
Conseguimos ver algumas coisas ao olhar o gráfico do país todo:
- Vemos uma queda bem lenta na notificação dos casos, é praticamente uma estabilidade, mas com tendência de queda;
- Tivemos uma redução estranha de casos totais no final de 2022, (provável erro de notificação); //3
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Dec 7, 2022
Olá, pessoal! @schrarstzhaupt por aqui!

Com dados de mpox atualizados até 05/12/2022, vemos que a tendência de estabilização continua no Brasil.

Sigam o fio para vermos juntos: 🧵//1
Para entender a estabilidade, o melhor indicador é a média móvel da taxa de crescimento de casos acumulados.

Ao mesmo tempo que os casos entram com data de notificação (e não de início de sintomas), é o único dado que temos: //2
Quando olhamos a região Nordeste, percebemos que tivemos um crescimento mais recente, no mês de novembro de 2022: //3
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Nov 29, 2022
Com os dados de mpox atualizados até 28/11/2022, vemos que os casos continuam surgindo em uma quantidade considerável na região Nordeste do país, sendo 42% dos casos do Nordeste no estado do CE: +
Além disso, a região Norte também teve um aumento recente, no começo de novembro/2022.

68% dos casos estão no AM: +
Quando olhamos o Brasil como um todo, vemos que a região Sudeste é a região com mais casos(41% de todos os casos do país foram notificados no estado de SP).
Percebemos também que há uma tendência de estabilidade, muito provavelmente trazida por esse espalhamento em mais regiões.+
Read 6 tweets
Nov 9, 2022
Olá, pessoal! Aqui é o @schrarstzhaupt, trazendo pra vocês mais uma atualização dos dados de #Monkeypox, agora com os números atualizados até o dia 07/11/2022.

Sigam o fio para vermos juntos: 🧵 //1
O Brasil tem 9.475 casos notificados até o momento (07/11/2022), e a gente consegue ver um aumento meio brusco nos últimos dias quando olhamos os dados do país como um todo (marquei no gráfico): //2
Ao analisar estado por estado, vemos que alguns locais se destacam, com um lançamento de casos abrupto. Vejam o DF, que lançou 18 casos no dia 07/11/2022, mas vinha lançando 3 a 5 casos por dia.

Lembrando: isso é por data de notificação, então pode muito bem ser represamento!//3
Read 15 tweets
Oct 25, 2022
Olá, pessoal! @schrarstzhaupt aqui!

Chegamos a 9.026 casos confirmados de Monkeypox no Brasil até 24/10/2022.

Hoje (25/10/2022) tivemos mais um óbito, nos fazendo chegar a oito óbitos e ao posto de país com mais óbitos no mundo (nesta epidemia de 2022).

Sigam o fio: 🧶 //1 Image
Quando olhamos a média móvel da taxa de crescimento de casos acumulados, notamos uma estabilidade na última quinzena de outubro, o que mostra que as notificações de casos vem entrando em uma certa consistência.

Como essa doença não é endêmica aqui, isso não é um bom sinal. //2 Image
A maior concentração de casos continua sendo na região Sudeste, principalmente no estado de SP (44,47%), seguido pelo Centro-Oeste (GO e DF): //3 Image
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