Olá, pessoal! Esse é o segundo fio da série sobre a #aids. Neste, abordaremos a origem do vírus.

Segue o fio 🧶
O HIV é um retrovírus que infecta primariamente os componentes do sistema imunológico humano, como as células T CD4+, macrófagos e células dendríticas. Ele destrói as células T CD4+ direta e indiretamente.
Trata-se de um membro do gênero Lentivirus que costuma infectar espécies de mamíferos, causando doenças de longa duração, com um longo período de incubação. Os lentivírus são transmitidos como um vírus de RNA em sentido positivo.
Após a entrada na célula-alvo, o genoma do RNA viral é convertido em DNA de cadeia dupla através da enzima transcriptase reversa codificada pelo vírus, que é transportada juntamente com o genoma viral na partícula do vírus.
O DNA viral resultante penetra no núcleo da célula, onde é integrado ao DNA celular por uma enzima integrase, também codificada pelo vírus. Integrado, o vírus pode tornar-se latente, permitindo que ele e sua célula hospedeira não sejam detectados pelo nosso sistema imunológico.
Alternativamente, o vírus pode ser transmitido, copiando seu genoma de RNA e proteínas virais, que são "empacotados" e liberados a partir da célula como novas partículas virais, com a capacidade de iniciar o ciclo de replicação novamente.
Dois tipos de HIV já foram caracterizados: HIV-1 e HIV-2. O HIV-1 é o vírus que foi originalmente descoberto (e também inicialmente referido como LAV ou HTLV-III). É mais virulento, infeccioso e é a causa da maior parte das infecções de HIV no mundo.
O HIV-2 é menos infeccioso em comparação ao HIV-1, o que indica que menos pessoas serão infectadas por exposição ao HIV-2. Devido à sua capacidade de transmissão relativamente fraca, o HIV-2 está amplamente confinado à África ocidental.
Acredita-se que ambos vírus se originaram em primatas no centro-oeste africano e passaram a infectar os humanos no início do século XX. O HIV-1 parece ter se originado através da evolução do SIV(cpz), o vírus da imunodeficiência símia (SIV), que infecta os chimpanzés selvagens.
O parente mais próximo do HIV-2 é o SIV(smm), vírus do macaco do Velho Mundo que vive no litoral da África Ocidental. Os macacos do Novo Mundo são resistentes à infecção pelo HIV-1, possivelmente por uma fusão genômica de dois genes com resistência viral pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18854152/
Há evidência de que humanos que participavam de atividades com animais selvagens, como caçadores ou vendedores de animais silvestres,se infectaram com o SIV. No entanto, o SIV é um vírus fraco que, normalmente, é suprimido pelo sistema imunológico humano dentro de poucas semanas.
Acredita-se que várias transmissões de pessoa para pessoa desse vírus foram necessárias para dar-lhe tempo suficiente para se transformar no HIV. Estudos genéticos do vírus sugerem que o ancestral comum mais recente do grupo M do HIV-1 remonta ao ano de 1910.
A epidemia do HIV é ligada ao surgimento e crescimento das grandes cidades africanas coloniais e mudanças sociais da época, como aumento da promiscuidade sexual, disseminação da prostituição e alta frequência de casos de doenças genitais (como a sífilis pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20376191/
Embora as taxas de transmissão do HIV durante a relação sexual vaginal sejam baixas em circunstâncias normais, elas aumentam se um dos parceiros sofrer de uma doença sexualmente transmissível que ocasione úlceras genitais.
No início do anos 1900, as cidades coloniais eram marcadas por uma alta prevalência de prostituição e de casos de úlceras genitais. Acredita-se que em torno de 45% das mulheres do Congo, eram prostitutas e cerca de 15% de todos os moradores da mesma cidade tinham sífilis.
Uma visão alternativa dos estudos defende que práticas médicas inseguras na África, que ocorreram após a Segunda Guerra Mundial, como a reutilização de seringas não esterilizadas durante programas de vacinação em massa +
+ uso de antibióticos e de campanhas de tratamento anti-malária foram os vetores iniciais que permitiram que o vírus se espalhasse e se adaptasse aos seres humanos.
Evidências revelam que o HIV surgiu no centro-oeste da África durante o início do século XX. Mas a AIDS foi reconhecida pela primeira vez em 1981, pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, e o vírus causador foi identificado na primeira metade da década.
Os casos iniciais ocorreram em um grupo de usuários de drogas injetáveis ​​e de homens homossexuais que estavam com a imunidade comprometida sem motivo aparente.
Eles apresentavam sintomas de pneumonia pelo fungo Pneumocystis carinii (PCP), que era uma infecção oportunista incomum até então, conhecida por ocorrer em pessoas com o sistema imunológico muito debilitado.
Pouco depois, um número inesperado de homens gays desenvolveu um tipo de câncer de pele raro chamado sarcoma de Kaposi. Muitos mais casos de PCP e de sarcoma de Kaposi surgiram, quando um alerta foi dado ao CDC, que enviou uma força-tarefa para acompanhar o surto.
Desde sua descoberta, a Aids sempre foi uma doença cercada de preconceito. Inicialmente chegou a ser chamada erroneamente pelo CDC americano de "a doença dos 4 H's", uma vez que a síndrome parecia afetar haitianos, homossexuais, hemofílicos e usuários de heroína.
Na imprensa, erroneamente foi inventado o termo "GRID", de gay-related immune deficiency (tradução livre, "deficiência imunológica relacionada aos gays"). Depois de determinar que a AIDS não estava restrita à comunidade homossexual, percebeu-se que o termo GRID estava errado.
Nesse momento, a sigla AIDS, de acquired immunodeficiency syndrome, foi introduzida em uma reunião do CDC em julho de 1982 e passou a ser o termo correto para definir internacionalmente a doença.
Em 1983, dois grupos de pesquisa independentes liderados por Robert Gallo e Luc Montagnier, declararam que um novo retrovírus de RNA poderia ter infectado os pacientes com AIDS e publicaram as descobertas na mesma edição Science: pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/6601823/ e pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/6189183/
Gallo afirmou que o vírus de um paciente com AIDS isolado pelo seu grupo de pesquisa apresentava uma forma muito semelhante a de outros vírus T-linfotrópicos, isolados, primeiramente, por sua equipe. Eles denominaram o vírus recém isolado de HTLV-III.
Ao mesmo tempo, o grupo de Montagnier isolou um vírus a partir de um paciente que apresentava inchaço dos nódulos linfáticos do pescoço e fraqueza física, dois sintomas característicos da AIDS.
Contradizendo o relatório do grupo de Gallo, Montagnier e seus colegas mostraram que as proteínas do núcleo do vírus eram imunologicamente diferentes das do vírus HTLV-III isolado pelo grupo de Gallo.
O vírus isolado pelo grupo de Montagnier foi chamado de lymphadenopathy-associated virus, LAV ("vírus associado à linfadenopatia"). Em 1986, descobriu-se que ambos eram o mesmo vírus, e LAV e HTLV-III foram renomeados para HIV, sigla em inglês de vírus da imunodeficiência humana.
Fiquem ligados para o próximo fio, que falará sobre a resistência do HIV aos tratamentos antirretrovirais!

Até lá!
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17 Nov
Olá, pessoal!

Novembro de 2021 e estamos vendo novamente um aumento de casos de covid-19. Desta vez, na Europa.

Vamos entender a situação?

Sigam o fio: 🧶 //1
A primeira coisa que vamos fazer é olhar o continente europeu como um todo, como fazemos aqui com o Brasil.

O que notamos, logo de cara?

Que após a vacinação e as flexibilizações, a onda de óbitos é bem menor em proporção! //2
Conseguimos ver, em um mesmo gráfico, que:
- As vacinas funcionam muito bem (sem as vacinas teríamos muito mais óbitos com essa quantidade de casos);
- As flexibilizações acabam ajudando o vírus no cabo de guerra que ele disputa com as vacinas, dando a ele mais chances. //3
Read 25 tweets
16 Nov
Segundo o anúncio do Ministério da Saúde, a população acima de 18 anos receberá um reforço vacinal contra a COVID-19, o que parece estar previsto iniciar em 2022. Ainda, o intervalo entre a 2ª e a 3ª dose foi reduzido, de 6 para 5 meses

Que tal algumas considerações? 🧶👇
Sabemos - e temos - dados positivos de que esse reforço, pensando na população geral, traz benefícios, reforçando a proteção já gerada pelo regime completo

A queda de anticorpos observada após 6 meses é esperada, e não significa perda de proteção
Neste fio da @mellziland vemos que as células de memória estão lá, as quais tem um papel fundamental na geração dessa proteção, e também de uma nova onda de anticorpos
Read 6 tweets
23 Oct
Achamos essencial retomar a importância de altas coberturas vacinais para a população. Vamos comentar um pouco sobre o que está acontecendo no Reino Unido - mais precisamente na Inglaterra, com uma faixa etária jovem (menores de 14 anos) - e na Rússia. Acompanhe!🧶👇 Image
Ontem, a @mellziland trouxe um alerta importante sobre a subida de casos no Reino Unido, que atualmente monitora a circulação de uma variante “descendente” da Delta, chamada AY.4.2 ou “Delta Plus”

Essa variante foi detectada pela 1ª vez na metade do ano (Jun/21), e este achado vai de encontro ao entendimento de que, com alta transmissão do vírus e baixa cobertura vacinal, existe um risco maior de surgimento de novas variantes mais rapidamente
Read 19 tweets
6 Oct
Oi, pessoal!

Aqui é o @schrarstzhaupt, e estou passando no perfil da Rede para vermos juntos como estão os dados da covid-19 agora que entramos no mês de outubro de 2021.

Bora? 🧶 Sigam o fio!
Já há algumas semanas eu venho falando que há uma possibilidade de reversão da tendência de queda, que por mais pequena que seja, sempre envolve internações e óbitos, então devemos ficar sempre de olho.
Podemos ver essa mudança de tendência em nossos países vizinhos. Vejam Colombia, Peru e Chile, todos apresentando uma mudança na tendência de queda.

A parte boa? Vacinas! Vejam a proporção de casos e óbitos em relação às ondas anteriores. Muito, muito menor.
Read 21 tweets
1 Oct
Covid pega pela roupa?
Uma preocupação que todos temos hoje é o potencial de contaminação da covid-19 (ou outras doenças causadas por agentes transmissíveis) com relação às roupas e vestimentas. Quando lavar? Basta ventilar? Vem conosco que te ajudamos! 🧶
Fio da @melmarkoski
Esse estudo, de pesquisadores da Finlândia, trouxe algumas elucidações importantes... Primeiro, para planejar e executar as medidas preventivas adequadas contra a COVID-19, precisamos entender como o SARS-CoV-2 é transmitido.
pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33927762/
Até agora, o vírus tem se mostrado infeccioso em superfícies, variando de horas a dias, dependendo do tipo de superfície e de fatores ambientais.
Read 19 tweets
29 Sep
Olá, pessoal!
@schrarstzhaupt aqui!
Vocês já ouviram falar sobre o "storytelling com dados"? Hoje iremos falar mais sobre esse processo que utilizamos em nossos fios e vem sendo cada vez mais importante no nosso dia-a-dia Sigam o fio: 🧶
Para entendermos o que é o storytelling com dados, primeiro precisamos entender qual o seu propósito! Muitos de nós já devemos ter passado por aquele momento onde uma decisão precisava ser tomada, seja por nós, ou mesmo por uma liderança, e esse processo era cheio de incertezas;
E, muitas vezes, essas incertezas ocorrem mesmo tendo dados que supostamente nos ajudariam a tomar a tal decisão! Isso acontece pois há um "buraco" entre os dados/gráficos e a tomada de decisão, e é para suprir esse "buraco" que existe o storytelling com dados.
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