Boa tarde, Mestre @profeborto @adalbertoday @RalphRangel_ @CavalcanteEdmir @acinorevbatista

#SOSEducacao

O artigo no Twitter discute algumas relações entre dinâmica demográfica e nível educacional da população a partir do indicador taxa de analfabetismo.
O recorte entre alfabetizados e analfabetos fornece informações muito elementares sobre uma população.
Reconhecendo a complexidade das demandas da sociedade contemporânea sobre as habilidades de leitura e escrita, pesquisadores têm, nas últimas duas décadas, desviado seu o interesse pelo fenômeno do analfabetismo absoluto, ...
...determinado pela incapacidade de ler (ou ler e escrever) textos simples, para o chamado analfabetismo funcional, que compreende não só a leitura e compreensão de textos em prosa (como mensagens, ...
...notícias e instruções) como também o uso de textos de informação esquemática e numérica (como tabelas e gráficos), bem como habilidades de escrita e cálculo para fins pragmáticos em contextos cotidianos, domésticos ou de trabalho.
Mais recentemente, têm sido utilizados os conceitos de literacy (alfabetismo ou letramento) e numeracy (domínio do cálculo) no lugar de analfabetismo funcional, com o objetivo de melhor classificar os indivíduos que não compõem o grupo de analfabetos absolutos.
A crise brasileira na educação mostra que a escola não conseguiu se adequar à grande maioria da população cuja sociabilização no lar não tem na escrita mais uma maneira de significar, de se comunicar naturalmente, de agir sobre os outros e sobre o mundo.
Daí que o ciclo de analfabetismo se perpetue num processo que não parece ter fim: geralmente, o analfabeto é ele mesmo filho de analfabetos, e, apesar de seus esforços, ele é também pai de analfabetos.
Ser analfabeto hoje em dia significa estar à margem da sociedade tecnológica e burocratizada em função da qual nossas atividades se articulam.
Essa situação periférica não afeta apenas as condições materiais de vida, mas se reflete também na diminuição das expectativas do analfabeto quanto às suas possibilidades de mudança e participação social.
Enquanto uma mãe de classe média considera a alfabetização de seus filhos como um dado, a mãe de uma criança pobre considera a probabilidade de seu filho aprender a ler e a escrever extremamente incerta, ...
...tanto que essa aprendizagem passa a ser a finalidade do processo que se inicia com a matrícula de seu filho na escola.
Esse processo de marginalização da criança se constitui através da linguagem, através da palavra. A linguagem da escola não é a linguagem da criança, seja nos aspectos formais, ou nos aspectos culturais e sociais.
Formalmente, a criança pobre fala uma variedade desprestigiada, que não possui o aval social que o registro escrito confere à linguagem da escola, à variedade padrão da língua.
A língua não é, como muitos acreditam, uma entidade imutável, homogênea, que paira por sobre os falantes. Pelo contrário, todas as línguas vivas mudam no decorrer do tempo e o processo em si nunca para.
Ou seja, a mudança linguística é universal, contínua, gradual e dinâmica, embora apresente considerável regularidade.
A crença em uma língua estática e imutável está ligada principalmente à normatividade da gramática tradicional, que remota à Grécia Antiga, ...
...numa época em que os estudiosos estavam interessados principalmente em explicar a linguagem usada nos textos dos autores clássicos e em preservar a língua grega da "corrupção" e do "mau uso".
A língua escrita - especialmente a dos clássicos - era tão valorizada que era considerada mais pura, mais bonita e mais correta do que qualquer outro tipo de linguagem.
A linguística moderna, no entanto, prioriza a língua falada em relação à língua escrita por vários motivos, dentre eles pelo fato de que todas as sociedades humanas conhecidas possuem a capacidade da fala, mas nem todas possuem a escrita.
Analisando a nossa própria sociedade, podemos concluir que a escrita pertence a poucos, uma vez que grande parte da população brasileira é constituída por analfabetos ou semianalfabetos e que mesmo os que tiveram acesso à escola não a usam muito.
Um fator determinante dos problemas e conflitos que são corriqueiros nas situações interculturais é a percepção que o professor tem sobre sua função na escola.
Esta não é, nem de longe, a de introduzir o aluno, já comprometidamente defasado na sua escolarização e marginalizado pelo seu analfabetismo à cultura letrada.
As diferenças linguísticas podem ser percebidas em todas as línguas do mundo, mesmo em pequenas comunidades de fala, nos níveis fonéticos, fonológico, morfológico, sintático ou semântico.
Por exemplo, a palavra "porta" pode ser pronunciada de várias maneiras, tais como, ou ; a palavra "mulher" pode ser pronunciada "muié"; ...
...as frases "Maria assistiu ao filme" e "faz dois anos que parei de fumar" também podem ser ditas "Maria assistiu o filme" e "fazem dois anos que parei de fumar", respectivamente.
A variação linguística, portanto, é inerente a toda e qualquer língua viva do mundo. Isso significa que as línguas variam no tempo, nos espaços geográfico e social e também de acordo com a situação em que o falante se encontra.
Podemos exemplificar a variação temporal com a forma "você", que passou por uma grande transformação ao longo do tempo.
No século XII, as pessoas diziam "vossa mercê" e hoje, na linguagem falada, e mesmo na escrita informal, encontramos "cê", que não é a melhor nem a pior que "você" ou "vossa mercê", embora entre os não-linguistas a tendência seja a de considerá-la ruim, feira ou deteriorada.
Isso acontece porque a sociedade normalmente é conservadora e demora para aceitar as mudanças, inclusive as linguísticas.
Aparecerão, dessa maneira, em cada região, diferentes variedades. No Brasil, por exemplo, a fala da região nordestina se caracteriza pela abertura das vogais pretônicas "e" e "o", como em "mérgulho" e "cólete", normalmente fechadas em outras regiões.
Há lugares onde se diz , e e outros em que se diz [tomate], [tomati], e [kaska].
As variações também podem ser notadas nas estruturas sintáticas ou no nível lexical. Assim, conforme a região, encontramos "nós fomos ir embora" em vez de "nós fomos embora" e a banana pode ser "anã", "nanica" ou "d'água".
Assim, sociedades rurais e urbanas são importantes fatores sociais, bem como sexo, idade, escolaridade, classe socioeconômica, dentre outros.
Sabemos, por exemplo, que pessoas que vivem nas áreas urbanas falam variedades diferentes dos falantes do meio rural, onde são comuns formas como "nóis vai" ou "eles prantô" em oposição às formas padrão "nós vamos" e "eles plantaram", mais características das regiões urbanas.
Os grupos etários também diferem linguisticamente: os mais jovens, por exemplo, tendem a ser menos conservadores que os mais velhos e isso se refletirá na sua maneira de falar.
Nenhuma é melhor, ou mais correta ou mais bonita que outra, embora umas tenham prestígio social e outras não tenham, e embora algumas possam ser mais adequadas a certas situações sociais que outras.
Algumas variedades são estigmatizadas ou ridicularizadas não porque são feias, incorretas ou ruins em si, mas porque a sociedade, preconceituosamente, associa seu uso a situações e/ou grupos sociais com valores negativos.
A escola, de modo geral e tradicionalmente, tem desconsiderado a questão da variação linguística e dos usos das variedades pela comunidade falante, o que é bastante grave, ...
...já que muito do que é classificado como problema de fala e escrita, principalmente na alfabetização, está diretamente relacionado ao fenômeno.
O professor alfabetizador, geralmente imbuído dos conceitos da gramática tradicional, atribui valores de certo e errado aos textos de seus alunos, desconsiderando que as crianças, ...
...nesta fase, além de não possuir o domínio do sistema gráfico e das complexidades que lhe são características, tende a escrever conforme o seu dialeto regional e/ou social.
Se considerarmos o impacto social da escrita, o letramento, a introdução à cultura letrada significa propiciar as condições necessárias para que a criança possa ser um membro pleno, de atuação segura numa sociedade permeada pela escrita: ..
;avisos, letreiros, panfletos, embalagens, contratos, formulários fazem parte do cotidiano do sujeito letrado sem que representem qualquer ameaça a sua autoconfiança.
O sujeito letrado, nessa perspectiva, é o sujeito instrumentalizado (onde o instrumento é a escrita) para funcionar na sociedade.
O livro, nesse caso, passa a ser uma fonte confiável de conhecimentos, tal qual a interação face a face com pessoas próximas, amigos e familiares em quem confia.
Nesta perspectiva, talvez o sujeito letrado corresponda mais de perto ao sujeito educado (em oposição ao meramente escolarizado).
Se uma criança não possui o gosto pela leitura na infância, na adolescência ou na fase adulta as coisas se tornarão difíceis. Criar o hábito (ou gosto) pela leitura é um primeiro passo que depende basicamente de pais e professores.
Está na hora de mudar isso: A educação é o caminho, antes que o país afunde de vez na ignorância, miséria e violência.
Estamos vivendo tempos sombrios em matéria de qualidade do ensino, em nosso país, especialmente se considerarmos a educação pública. Os resultados são catastróficos. Houve queda no desempenho em matemática. Na redação foi pior ainda. Vamos caminhando para o fundo do poço.
O Brasil dá mais ênfase ao topo, o ensino superior, do que à base, o ensino fundamental.
O resultado é outra manifestação de instabilidade: a qualidade do ensino superior vem sendo puxada para baixo por causa da má qualidade do ensino médio; e este também vem perdendo qualidade por causa da piora no ensino fundamental.
Enquanto isso, o analfabetismo cresce, em vez de decrescer, seja pelos milhões acumulados de seres humanos que nunca pisaram numa sala de aula, seja por outros milhões que deixam a escola sem nada aprender, ...
...como é o caso dos analfabetos funcionais, essa nova praga que ameaça comprometer o futuro da nação.
Isso significa que a maioria desses jovens chega ao final do curso sem saber ler e escrever ou fazer as quatro operações aritméticas, o que é tão mais grave quanto se sabe que ler, escrever e calcular são os pré-requisitos básicos da vida cultural e da sobrevivência competitiva.
É preocupante a falta de conhecimento de diversos profissionais de diferentes áreas em relação à Língua Portuguesa.
Alegam essas pessoas que a simples troca de um Z por um S não muda o valor de uma petição advocatícia, a receita de um médico ou, ainda, o relatório de um professor.
Puro engano: um texto mal escrito abala a imagem do profissional que o escreve e, sem dúvida, desqualifica o trabalho.
Infelizmente, o descaso com o nosso idioma é notório. Além disso, há o desprezo pelas regras gramaticais e ortográficas, como se houvesse um desejo recôndito de prestigiar a ignorância.
Devemos ter cuidado com o que se fala e com o que se escreve, pois a nossa imagem está sendo sempre avaliada.
A proliferação de “houveram”, “menas”. “hs” (para responder horas), mts (para abreviar metro), o uso da 2ª pessoa para o pronome V. Sa. e as constantes derrapadas na concordância verbal, parecem um festival de mau-gosto.
Entre as incorreções que destoam no uso da língua, são frequentes pequenos descuidos, até perdoáveis, mas há casos de barbarismo contra a pureza da língua nos aspectos sintáticos, regenciais, ortográficos, sem falarmos de troca tão comum de tratamento, ...
...como também de organização ilógica de ideias, o que acarreta, frequentemente, ambiguidades e interpretações errôneas de pensamento.

O perigo é a perpetuação desse hábito.
Quando os jovens são chamados aos concursos públicos, o que, infelizmente, está ocorrendo com frequência cada vez maior, a falta de familiaridade com a norma culta da língua tem levado a resultados desastrosos, como assinalam os famosos Exames de Ordem da OAB.
As reprovações acontecem em massa (às vezes o índice é de 80%). Lê-se pouco e escreve-se mal, o resultado só pode mesmo ser deprimente. Isso infelizmente alcança também os exames para o magistério.
É fácil imaginar o que ocorre quando o indivíduo se expressa verbalmente, em que as agressões ao vernáculo doem em nossos ouvidos.
Se os alunos têm dificuldades de escrever e expor com clareza suas ideias é porque sua cota de informação e leitura é mínima, para não dizer inexistente.
O Museu da Língua Portuguesa, de São Paulo, realizou uma interessante e concorrida mostra, intitulada “Menas – o do certo do errado, o errado do certo”, em que todas essas questões foram debatidas por professores e especialistas.
É claro que o ex-presidente Lula foi muito lembrado, pois no início do seu primeiro mandato presidencial era comum utilizar a palavra “menas”. Foi devidamente aconselhado e abandonou o hábito.
A questão controvertida da chamada popular. O filólogo Antonio Houaiss (in memorian) chegou a popularizar o verbete “mengo”, diminutivo do clube mais popular do Brasil.
Mas, ele jamais aceitaria adotar a palavra “probrema” ou “areoporto” – e dar-lhes o status de uma expressão legítima do português contemporâneo.

Vê-se, pois, que há uma abissal diferença entre linguagem popular e regionalismos.
A prosódia, que é a forma de dizer a palavra, tem total liberdade, não se devendo exigir que um gaúcho fale com a mesma pronúncia do que um paranaense.
O que, em virtude do Acordo de Unificação da Língua Portuguesa, que é eminentemente ortográfico, passemos a impor a Portugal ou Angola, por exemplo, o nosso gostoso e incomparável sotaque. Cada povo que cuide das suas peculiaridades prosódicas.
Mas escrever de uma forma é medida de inteligência e simplificação, que já vem tarde.
Do jeito que as coisas caminham, e com essa velocidade coloca-se em risco a sobrevivência da nossa língua inculta e bela, como dizia, no começo do século passado, o inesquecível poeta Olavo Bilac.

Boa noite!

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O júri vai escolher o texto que, com originalidade, saiba dosar informação, erudição, humor, características da crônica da 'cidade de São Paulo'.
O (A) vencedor(a) será anunciado em 18 de maio de 2022 – data de aniversário de José Paulo de Andrade – e receberá um troféu da @RBandeirantes

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