Boric venceu no Chile por uma margem maior do que a projetada. Institutos chilenos erraram porque não pesquisam, sequer, a abstenção. Os 8 pontos percentuais a mais do 1º para o 2º turno votou, quase massivamente, em Boric. Ou melhor: contra Kast (1/7).
No duro, sem esses novos eleitores, é possível que Boric tivesse vencido, mas por uma margem apertada. De todo modo, ele terá de construir uma maioria parlamentar num cenário partidário balcanizado quase como o Brasil (2/7).
Os setores à esquerda do centro tem uma tênue maioria. É possível que muitos eleitores de candidatos a Presidente de direita do 1º turno tenham, paradoxalmente, votado em setores à esquerda do centro para deputado e senador (3/7).
A grande questão é que há, ainda, uma Constituinte majoritariamente de esquerda. Mas o que fica como legislação infraconstitucional, de uma Constituinte que está empacada, irá para um Congresso bem menos à esquerda (4/7).
Boric, com suas virtudes e defeitos, é produto de intensas mobilizações, sobretudo estudantis. Ele terá de manter o que puder, e talvez mais um pouco, disso para não ser emparedado pelos seus parceiros de centro-esquerda e centro (5/7).
Do outro lado, resta a política de relações exteriores, onde Boric é certamente bem mais moderado. Governos progressistas sulamericanos fizeram uma grande mobilização a favor dele, mas é preciso que Boric retribua e seja menos isolacionista (6/7).
Na economia, para além de um discurso sobre o fim do neoliberalismo, é preciso um desafio hercúleo de reconstrução e reorientação econômica. Aí está o grande nó da conversa e do país que Boric presidirá (7/7).
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Ano que vem, teremos uma batalha importante no Brasil. Lula é central nisso. São tempos de desordem internacional, deflagrada por uma crise financeira em 2008 no centro do sistema e uma pandemia em 2020, onde a potência central, os EUA, lutam a todo custo para se manter (1/7).
A ordem mundial, primeiro como a ordem da banda capitalista, depois de todo o mundo, viu seu equilíbrio desequilibrado ir para o espaço (abração procê, Varou). E aí, virou esse salve-se quem puder, que nos atravessou em um bom momento, aqui e no continente (2/7).
Tem amigos que investigam bem a natureza do sistema, seus dispositivos, mas insistem em não olhar para essa velharia chamada geopolítica. E, assim, ignoram a ação de frações burocráticas e políticas nacionais em uma terra que não, não é plana (3/7).
Zero surpresa para mim o que está sendo o (des)governo Bolsonaro, e longe de mim, bem longe, me julgar algum gênio por isso. Mas ainda que me choque, não me surpreendo com certa surpresa bem ampla. O Brasil é um país que possui certas bolhas de cognição surpreendentes (1/7).
Eu lembro bem da década de 2000, e da oposição a Lula. Eu ficava chocado com a qualidade e a natureza da oposição a Lula. Ainda que fosse adotar um viés de direita, aquilo estava errado e era perigoso. Era mesmo, deu nisso (2/7).
Existe uma falta de solo comum no Brasil, seja por causa da escravidão e da colonização, mas também pela forma como ocorreu a imigração do século 19 e 20 para o Brasil, vinda da periferia da Europa, Oriente Médio e Extremo Oriente (3/7).
Holliday sendo normalizado pela enésima vez, mas desta vez em companhia coerente. Existe um liberalismo que pode se apresentar como esquerda, mas é, antes de tudo, liberalismo. Não adianta: a diferença entre o MBL e a esquerda liberal é menor do que muita gente gostaria (1/5)
Seja um liberalismo que se apresenta "ao centro" (como Tabata) ou "à esquerda" (como Isa Penna) - embora a segunda está em franca campanha de rebranding, talvez para se unir de alguma forma à segunda (2/5).
Enquanto isso, Holliday é um cara que estava sendo violento com professores e servidores em São Paulo agora há pouco, ou hostilizando fisicamente um vereador idoso do partido de Isa como o respeitável Toninho Vespoli (3/5).
Pibinho do Brasil no 3º trimestre sugere que a parasitagem, pilhagem e incertezas produziram resultados gerais muito ruins. Para as pessoas normais, isso já vinha acontecendo faz tempo, mas agora isso chega mais em cima. Não se enganem: no topo, continuam ganhando (1/5).
O ponto é que neste momento estamos como na crise pandêmica do 1º trimestre: chegou algum problema em cima. Pelo menos para a elitona ter de gerir. E a coisa chegou no campo, com o bloqueio da carne brasileira pela China (2/5).
Isso explica o movimento por Moro: a ilusão de fazer um Bolsonarismo sem Bolsonaro, substituindo o "carisma" pela "frieza técnica", mas mantendo o arranjo geral. O problema é o arranjo, que ainda é capaz de se segurar, mas não produzir crescimento (3/5).
A aprovação de André Mendonça era previsível; uma vez que ele foi à sabatina no Senado, estava tudo certo e amarrado. Se não estivesse, ele nem iria. O que isso significa (1/7)?
Primeiramente, que Mendonça é um quadro da Igreja Presbiteriana. Enquanto Bolsonaro acena para as massas neopentecostais e seus pastores, mas ele Mendonça pertence a uma instituição tradicional com um baita aparato, inclusive universidades (2/7).
Mendonça se indispôs com os ministros do STF, quando tinha de agir como advogado pessoal de Bolsonaro no Ministério da Justiça e na AGU. Isso o obrigou a costurar. A classe política queria Aras e Aras queria a vaga (3/7).
Seguindo a dica da @UrbanNathalia, vi a matéria do @elmostrador sobre Kast e seus vínculos gringos. Uma bomba, mas só reforça o óbvio: a enésima comprovação da relação de atores públicos e privados dos EUA com a extrema-direita latino-americana (1/7). elmostrador.cl/noticias/pais/…
De Kast a Moro, passando por Bolsonaro, Macri, Lenin Moreno, a direita venezuelana, colombiana e os golpistas da Bolívia, sempre um lobby ou alguma agência americana aparece. E não é clichê, ou melhor, a nossa realidade é clichê (2/7).
Uma mega corporação de saúde, com mil negócios no Chile, operando para eleger um fascistão e, assim, salvar seus negócios espúrios de ameaças socializantes -- também conhecida como salvar a vida das pessoas (3/7).