A cada nova onda da pandemia eu lembro imediatamente da curva da mudança, da Elizabeth Kubler-Ross.
Vejam as fases e me digam se não é bem assim:
1. Choque: surpresos com a mudança, ficamos sem saber o que fazer; 2. Negação: buscamos tudo que faça parecer que não é verdade;+
3. Raiva: confrontados com a realidade, começamos a ficar com raiva e buscamos culpados; 4. Barganha: começa a fase de negociação pra tentar lidar com a mudança: tentamos barganhar o que aceitamos perder e o que ainda não aceitamos;+
5. Depressão: o “fundo do poço”, com a sensação de que nada mais vai ficar bom de novo; 6. Experimentação: aqui é a fase em que começamos a tentar novos comportamentos para conviver com a mudança; 7. Integração: por fim, aprende-se a conviver (de verdade) com a nova situação.+
Na verdade, a pandemia inteira (não só as ondas) está sendo esse processo.
Muitas das fases negativas são, infelizmente, exacerbadas pelos governos com a inação que leva a perdas familiares que por si só geram um processo de luto extra (pandemia+perda particular). +
Percebemos que tem pessoas que ainda estão travadas na fase da negação, algumas ainda estão barganhando (“será que precisa máscara mesmo?”)…
Vejo muitas pessoas me dizendo para não preocupar pois na África do Sul a curva da omicron caiu rapidamente. Pois bem:
Neste gráfico temos os dados da África do Sul. Vamos focar na curva histórica de casos, desde o início da pandemia: +
Aqui um "zoom" para vermos melhor. Percebem que a onda da Omicron caiu rápido, MAS todas as outras ondas anteriores também?
O gráfico histórico da África do Sul mostra um país que tem estratégias de mitigação do crescimento das ondas. Assim que a onda sobe, ela cai rapidamente:+
A omicron pode ter, sim, a característica de acabar mais rápido por infectar muitas pessoas rapidamente, mas a África, na minha visão, não deveria ser um exemplo para isso justamente por terem mitigado bem as ondas anteriores (o que faz ser provável que fizeram o mesmo agora).+
Vejam o tamanho da onda do estado do Espírito Santo, confirmada. ES é um estado que tem sistemas próprios de registro, então conseguimos ver o que está acontecendo lá.
Condiz com o que estamos vendo no RS também (casos confirmados) e em SP (internações hospitalares).+
Acredito que temos (Brasil todo) de pensar em medidas/maneiras que ao menos tentem *reduzir* a chance de ampliação da cadeia de transmissão, e não medidas que não alteram em nada ou pioram.
- Isolamento em menos dias: chance maior de aumentar do que diminuir transmissão;+
- Cancelar eventos que vão acontecer daqui a 30 dias: não afetam a cadeia de transmissão que está acontecendo HOJE;
- Esperar para ver se hospitalizações sobem: além de não quebrar a cadeia de transmissão, permite a ocorrência de eventos evitáveis.
Pessoal, perdoem pela minha insistência/chatice, mas:
- O apagão de dados continua;
- Se/quando vocês virem dados nacionais, saibam que muitas secretarias estão com problemas de notificação e aqueles números podem não ser 100% confiáveis;+
- Quando falo que os números podem não ser 100% confiáveis, quero dizer que, na situação atual (dificuldade de notificação) os números podem ser maiores do que os divulgados;
- Quanto mais tentamos ver uma situação ampla (estado inteiro/região/país), mais difícil acompanhar;+
- Alguns boletins municipais podem estar passando uma imagem correta da situação, desde que o município em questão tenha sistema próprio e notifique tudinho ali;
- Não temos dados de SRAG por faixa etária desde 29/11/2021;
- Não temos dados de cobertura vacinal desde 07/12/2021;+
Ordem dos acontecimentos nessa nova onda pós vacina na Europa: 1- Estagnação da cobertura vacinal (estagnações entre 50 e 80% com duas doses); 2- Flexibilizações nas medidas de proteção, seja por governo ou por conformidade social (pessoas parando de usar máscaras ou+
usando máscaras menos eficazes, como cirúrgicas ao invés de PFF2; 3- Aumento de casos confirmados, a grande maioria leves (mais leves nos países que estagnaram com cobertura vacinal maior (80%)); 4- Aumento de hospitalizações, novamente correlacionando inversamente com+
cobertura vacinal, ou seja, maior cobertura = menor proporção de hospitalizações; 5- Uma parte das hospitalizações, infelizmente, se convertendo em óbitos. Quanto menor a cobertura vacinal onde estagnou = mais hospitalizações = mais óbitos evitáveis.+
Passo aqui pra desejar um Feliz 2022 para todos, dentro das possibilidades de cada um. Sabemos que o mundo está numa situação não muito boa, por isso o desejo por mais saúde, paz, calma e alegria é ainda mais forte.
+
Estamos correndo uma maratona que já seria difícil se todos fizéssemos tudo certinho.
Como temos momentos onde erros ocorrem, isso prolonga e dificulta mais ainda essa maratona.
Agora mesmo estamos vendo cada vez mais o cansaço dessa maratona chegar em cada um de nós. +
Vemos os EUA, indo para uma *média* de 500.000 casos diários de covid-19. Já estamos vendo hospitalizações subirem de forma exponencial lá. Alguns locais, como New York e Florida estão bem preocupantes em relação à hospitalizações.
Pessoal, agora que atualizamos os dados de casos até 21/12, atualizei também o painel de sintomas da pesquisa CTIS, e percebi que os casos, na região Norte, estão aumentando, mas nas outras, continuam em queda abrupta.
Vejam aqui AM e PA. Vemos aumento de sintomas e casos: 🧶//1
Já quando olhamos BA e PE, vemos o aumento de sintomas mas uma queda abrupta nos casos no final de dezembro: //2
Em SP (Sudeste), GO (Centro Oeste) e RS (Sul) vemos o mesmo comportamento de casos caindo abruptamente.
Em SP vemos um aumento forte de sintomas, GO um aumento não tão forte quanto SP e no RS não vemos aumento de sintomas: //3