Sempre que você criticar uma ditadura abraçada pela esquerda, o comportamento de seus ideólogos será o mesmo:
- E os EUA?
Hordas de propagandistas comungando do fetiche por velhos sisudos de farda e coturno, repetindo o mesmo mantra.
Imagine o quão inteligentes eles se sentem.
A tática se chama Whataboutism.
Whataboutism é uma falácia.
Falácia é um raciocínio logicamente incorreto. Vem do latim "fallere", que significa enganar.
Exemplo: atacar o argumentador no lugar do argumento é um tipo de falácia chamada Ad hominem. Whataboutism é um outro tipo.
Whataboutism é uma manobra retórica frequentemente utilizada na política por aqueles que procuram evitar um assunto.
A estratégia consiste em desviar a atenção para outro tema, acusando o argumentador de hipocrisia. O objetivo é minar a legitimidade da própria crítica.
O Whatboutism tem como objetivo:
1. Desviar a atenção do tema 2. Diminuir a gravidade do tema, sem admiti-lo, com falsas equivalências 3. Tornar a falsa equivalência o centro do debate
Se o país A supostamente faz X, não podemos criticar o país B. Mas podemos criticar o país A.
Não há um monopólio ideológico do Whataboutism. Há exemplos aos montes por aí na discussão brasileira.
"E o PT hein? E o Lula?", inclusive, virou o meme do tweet original desta thread.
Mas mesmo quem compartilha esse meme muitas vezes apela ao mesmo Whataboutism.
Ninguém promoveu o Whataboutism tão bem quanto a URSS.
Como a URSS era frequentemente criticada pelos crimes contra a humanidade, os propagandistas soviéticos eram treinados, durante a guerra fria, para desviarem dessas acusações com Whataboutism.
É aí que nasce o:
- E os EUA?
Uma das principais táticas de Whataboutism na URSS era conhecida como: "And you are lynching Negroes" ("А у вас негров линчуют").
Em qualquer ocasião em que o governo soviético fosse criticado, a resposta estava na ponta da língua:
- Eles lincham os negros nos EUA.
Como diz o Guardian, o Whataboutism virou uma ideologia nacional russa. Tão importante na autoimagem e na propaganda oficial que o Kremlin - enquanto prendia opositores - encarou o asilo a Edward Snowden como um presente ao Whataboutism.
Na guerra fria, o Whatboutism se espalhou para a zona de influência soviética.
Um exemplo recorrente está na América Latina. Até hoje, sempre que o governo cubano é criticado, por qualquer motivo, a atenção é desviada para onde? Ele mesmo: o embargo.
Quando o governo americano critica os campos de concentração para uigures em Xinjiang, os chineses respondem falando do quê? Dos "crimes malignos" contra os nativo americanos.
A estratégia não é reduzida aos EUA, mas ao Ocidente e à democracia.
Para anular qualquer oposição, a imprensa ocidental também é invalidada, junto às instituições internacionais e grupos de direitos humanos.
Ao fim, só há duas fontes críveis: a ditadura e seus propagandistas.
Em 2021, quando o Canadá emitiu um pedido de uma investigação internacional sobre os crimes em Xinjiang, os chineses responderam dizendo estar "profundamente preocupados com as violações dos direitos humanos contra os povos indígenas no Canadá".
O mesmo aconteceu com a Austrália. Em 2021, quando os australianos criticaram a repressão em Xinjiang, Pequim respondeu acusando o país de promover um "genocídio contra aborígenes".
Em qualquer país democrático, os jornais, as ruas, a arte e as redes sociais estão repletas de críticas contundentes a partidos e políticos importantes - que podem ser presos, perder eleições ou sofrer impeachment.
Esta é a vida cotidiana destes lugares.
As democracias estão sob frequente vigilância da sociedade civil organizada e da comunidade internacional, abertas ao escrutínio.
Não é preciso um asterisco, ou um pedágio intelectual, para criticar Jair Bolsonaro, Joe Biden ou Boris Johnson. A crítica basta por si só.
Para cada crítica a uma ditadura que você lê num jornal de um país democrático, há dúzias de conteúdos contundentes contra políticos e partidos do próprio país democrático.
Nixon caiu graças ao trabalho da imprensa americana. Trump e Bush são mais criticados que Putin e Xi.
Defensores de ditaduras possuem tanta insegurança com suas limitações intelectuais que desaprovam o escrutínio público. É por isso que menosprezam a democracia - porque encontram na violência o único instrumento possível de dominação, como os estupradores e os marginais urbanos.
Essa é a razão por que um apologista de ditadura precisa recorrer a desvios de atenção como o Whataboutism.
Porque ele sabe que se você entender seus tópicos a fundo, perceberá que sua identidade política é formada apenas por vazios, incongruências, inseguranças e propaganda.
Minha dica é: não se distraia com picareta.
Quem banaliza o debate público, comparando qualquer democracia com qualquer ditadura, é serviçal covarde de tirano. Não perca tempo.
Quem não vê diferença entre um modelo e outro sonha com o dia em que a sua voz não será mais ouvida.
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Não, não estou falando da participante do Big Brother.
Estou falando da Eslovênia, o país - aquele que no fim da Segunda Guerra Mundial, junto com Bósnia e Herzegovina, Croácia, Macedônia, Montenegro e Sérvia, formava a República Socialista Federativa da Iugoslávia.
Nesse tempo, este sujeito aqui era o dono do pedaço: o Marechal Tito.
Embora as repúblicas iugoslavas até gozassem de certa autonomia, Tito detinha o poder supremo e governava ditatorialmente, sem oposição.
Em 1963, numa canetada, ele virou presidente vitalício da Iugoslávia.
Sou bloqueado no Twitter: 1) pelo embaixador da China no Brasil, 2) pelo próprio perfil da embaixada chinesa.
Como a China enxerga o Twitter?
É perigoso criticar o Partido por aqui?
Há bots e influenciadores pagos para elogiar o governo chinês e seus diplomatas?
Conto aqui:
O Twitter é oficialmente bloqueado na China.
Ainda assim, muitos chineses acessam este espaço através de uma VPN - uma rede privada, criptografada, capaz de burlar sites bloqueados.
Como acontece o lobby chinês na política brasileira?
Quem são os personagens dessa relação?
Spoiler: essa história envolve prisões, acusações de contrabando, assassinatos, narcotráfico, roubo de carga, corrupção e o Ronaldinho Gaúcho.
Boa leitura:
Esse sujeito aqui se chama Fausto Pinato.
Fausto é deputado federal, filiado ao Progressistas, presidente e idealizador da Frente Parlamentar Brasil-China.
Ele é do Centrão, da bancada evangélica, da bancada ruralista e lidera a Frente Parlamentar do Brics.
A mãe de Fausto Pinato se chama Antonia Ruy Cogo.
Em 2015, o @JornaldoBrasil publicou que ela fez um boletim de ocorrência denunciando ter recebido agressões físicas de Fausto. Na ocasião, disse temer "pelo fato de saber que o filho tem caráter violento". jb.com.br/pais/noticias/…
O pau está pegando na gloriosa nação do Cazaquistão, a terra do Borat.
Há o pacote completo dos clichês das extintas repúblicas soviéticas: violência policial, censura e degola de estátuas de ex-líderes socialistas.
Preparei esta thread pra você não ficar perdido no noticiário:
Esse cara aqui se chama Nursultan Nazarbayev.
Quando a União Soviética caiu e o Cazaquistão conquistou sua independência, em 1991, Nursultan virou presidente deste país (ele era o único candidato e obteve 98,80% dos votos).
Nursultan Nazarbayev já havia exercido cargos importantes na República Socialista Soviética Cazaque - de primeiro-ministro a secretário do Partido Comunista.
Empossado presidente do Cazaquistão, ele permaneceu no cargo como ditador até 2019.
Entramos de cabeça na maior pandemia do último século, e sairemos dela com enormes machucados.
Mas não podemos perder o contexto: até o fim desta década o mundo será bem diferente - e há bons motivos pra ser otimista.
Quer conhecer o seu futuro? Eu conto:
Sim, em apenas 8 anos a vida na Terra terá mudado.
Haverá mais pessoas na terceira idade que na infância.
A África será mais populosa que o Leste da Ásia.
A Índia será mais populosa que a China.
Mais da metade do patrimônio líquido mundial pertencerá às mulheres.
Em 2030, o mundo abrigará 1 bilhão de pessoas a mais. E ainda assim, haverá menos europeus no planeta.
A China será o maior país cristão do mundo - e a maior potência econômica mundial.
A segunda maior economia do planeta, em paridade de poder de compra, será a Índia.