O pau está pegando na gloriosa nação do Cazaquistão, a terra do Borat.
Há o pacote completo dos clichês das extintas repúblicas soviéticas: violência policial, censura e degola de estátuas de ex-líderes socialistas.
Preparei esta thread pra você não ficar perdido no noticiário:
Esse cara aqui se chama Nursultan Nazarbayev.
Quando a União Soviética caiu e o Cazaquistão conquistou sua independência, em 1991, Nursultan virou presidente deste país (ele era o único candidato e obteve 98,80% dos votos).
Nursultan Nazarbayev já havia exercido cargos importantes na República Socialista Soviética Cazaque - de primeiro-ministro a secretário do Partido Comunista.
Empossado presidente do Cazaquistão, ele permaneceu no cargo como ditador até 2019.
No poder, Nursultan promoveu aquilo que conhecemos como "culto à personalidade".
Virou estátua, estampou cédula, deu nome à universidade.
Em 2018, decretou o 6 de julho, seu aniversário, como o Dia da Capital do Cazaquistão.
Em 2010, obcecado com o poder, Nursultan Nazarbayev exortou os cientistas de seu país a desenvolverem um elixir da imortalidade.
Nursultan deixava a presidência para virar uma entidade.
No ano passado, o ditador ganhou até uma série documental produzida por Oliver Stone, o cineasta de Hollywood fascinado por ditadores:
“Passei muito tempo com Nursultan. E só posso dizer que certamente fiquei impressionado com esse homem. 40 anos no poder e ele me parece sério.”
No lançamento do filme, Stone foi ao Twitter dizer que você pode falar o que quiser desse cara - "ditador", "tirano" - Nursultan Nazarbayev, o sujeito que tem estátuas erguidas numa cidade que recebe o seu nome, é um "homem modesto".
No último domingo, alguns moradores da cidade cazaque de Zhanaozen decidiram sair às ruas em protesto contra o aumento do preço do gás liquefeito de petróleo (GLP) - o gás de cozinha. O preço dobrou na noite do ano novo.
Rapidamente o protesto cresceu para todo o país, e a reclamação original se transformou num descontentamento generalizado contra o autoritarismo e o papel de Nursultan Nazarbayev no país.
“Shal ket!” ("velho, vá embora") virou o lema das manifestações.
Da noite para o dia, estátuas de Nursultan Nazarbayev foram demolidas; prédios oficiais foram invadidos e incendiados; a residência do presidente Tokayev foi atacada com rifles e granadas, ficando parcialmente destruída; o maior aeroporto do país foi tomado pelos manifestantes.
Na última quarta-feira, Tokayev anunciou a renúncia de Nursultan Nazarbayev do cargo de presidente do Conselho de Segurança do Cazaquistão.
Houve rumores de que ele poderia deixar o país para um “tratamento médico”.
Com poucos observadores estrangeiros e muita restrição à internet, tem sido difícil para a comunidade internacional entender o tamanho dos protestos no Cazaquistão.
O que parece evidente é que eles são os maiores em muito tempo. E que muita gente morreu.
Xi Jinping mandou mensagem de apoio a Tokayev e tratou os protestos como uma "tentativa de forças externas de provocar agitação e instigar revoluções coloridas no Cazaquistão". As aspas são da Xinhua, agência estatal de notícias chinesa.
Moscou, por sua vez, teme que os protestos possam enfraquecer sua liderança no Cazaquistão.
Um dos líderes da oposição cazaque diz que o Ocidente deve enfrentar a enorme influência que a Rússia exerce no país, ou o Cazaquistão virará Bielorrússia.
30 anos após a queda da URSS, das 15 ex-repúblicas soviéticas no mundo, apenas 3 são consideradas democracias (as vizinhas Estônia, Letônia e Lituânia).
Ao fim, o grande legado da revolução de Lenin foi este: a perpetuação da violência.
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Entramos de cabeça na maior pandemia do último século, e sairemos dela com enormes machucados.
Mas não podemos perder o contexto: até o fim desta década o mundo será bem diferente - e há bons motivos pra ser otimista.
Quer conhecer o seu futuro? Eu conto:
Sim, em apenas 8 anos a vida na Terra terá mudado.
Haverá mais pessoas na terceira idade que na infância.
A África será mais populosa que o Leste da Ásia.
A Índia será mais populosa que a China.
Mais da metade do patrimônio líquido mundial pertencerá às mulheres.
Em 2030, o mundo abrigará 1 bilhão de pessoas a mais. E ainda assim, haverá menos europeus no planeta.
A China será o maior país cristão do mundo - e a maior potência econômica mundial.
A segunda maior economia do planeta, em paridade de poder de compra, será a Índia.
Peng é uma tenista chinesa - campeã de Wimbledon e Roland Garros - que chamou a atenção do mundo nos últimos dias ao acusar o ex-vice-premier chinês Zhang Gaoli de estuprá-la.
Peng sumiu após este episódio.
Essa é a sua história.
No dia 2 de novembro, Peng publicou no Weibo - o Twitter chinês - que havia sido forçada a manter relações sexuais com Zhang Gaoli.
Em minutos sua postagem foi apagada, e imediatamente todo conteúdo relacionado ao tema foi censurado na internet chinesa.
Para tentar driblar a censura no Weibo, os chineses passaram a se referir a Peng utilizando nomes semelhantes, com suas iniciais. Mas mesmo essas tentativas acabaram censuradas.
Quando a CNN transmitiu a notícia, o sinal da emissora foi cortado na China.
Partidos e candidatos brasileiros que defendem entusiasticamente, sem asteriscos, este personagem, assumem natural aproximação ideológica com esta plataforma de governo:
1. A criação de uma nova constituição, “que debe concluir en el desmontaje del neoliberalismo y plasmar el nuevo régimen económico del Estado”.
2. A estatização "de los sectores mineros, gasíferos, petroleros, hidroenergéticos, comunicaciones, entre otros"
3. Todas as dívidas públicas “deben ser canceladas en el país, previa renegociación de las cifras primarias”.
4. A regulamentação da imprensa, defendendo os "legados de Lenin y Fidel" nessa matéria. O Peru Libre abertamente não defende a liberdade de imprensa.
Essa é uma história imperdível que resume como poucas a América Latina - tem populismo de direita, terrorismo comunista, Lava Jato, impeachment, golpe de Estado, ditadura, filhotismo, homofobia, pobreza crônica e muita gente morrendo.
Saca só:
Esse cara aqui se chama Pedro Castillo.
Esse sujeito é um representante fiel daquela esquerda sul-americana ainda ressentida por nunca ter superado a queda do Muro de Berlim.
E uma esquerda com dezenas de milhares de mortos na ficha criminal - conto essa história daqui a pouco.
Castillo - com perdão do trocadilho - é do Perú Libre. Seu partido diz ser marxista-leninista e assume defender "os processos revolucionários em Cuba, Nicarágua, Equador, Venezuela e Bolívia". expreso.com.pe/elecciones-202…
As pessoas não têm muita dimensão da influência que esse 4 de junho de 1989, dia do Massacre da Praça da Paz Celestial, tem nos rumos da história.
Vou ilustrar o que aconteceu na sequência disso, inspirado pela coragem desses manifestantes:
Em agosto, mais de 2 milhões de pessoas de Estônia, Letônia e Lituânia formaram uma corrente humana de 675 quilômetros, passando por Tallinn, Riga e Vilnius, numa manifestação contra a URSS conhecida como o Caminho do Báltico.
Os três países conseguiram a independência.
Entre outubro e novembro, manifestações populares derrubaram o Partido Comunista da Bulgária, dando início a eleições livres no país.