Na questão ucraniana, o tempo está passando e Biden, ao despachar armas e "consultores militares" (porque mercenários só nos países do mal, não é mesmo?) para Kiev, apenas contribui para aumentar o risco de uma guerra que ele, cinicamente, põe no colo de Putin (1/10).
Putin, é evidente, sabia que um novo governo democrata, ainda mais chefiado por Biden, iria para cima da Rússia. Hillary anunciou isso aos quatro cantos em 2016. Até aí, sem novidade. Ainda mais depois da tentativa de aproximação de Trump (2/10).
Para além das cortinas de fumaça, a Rússia é uma das poucas divergências reais entre os dois grandes partidos americanos. E não é a uma divergência pequena, convenhamos (3/10).
Moscou, ao mobilizar tropas *do seu lado da fronteira*, deseja fustigar a sério para, sem precisar combater, cessar o avanço da Otan. Washington, com ameaças, deseja não parar e, assim, obrigar Putin cair numa nova, e mais mortal, "armadilha de urso" (4/10).
A posição de Biden é inacreditavelmente torpe. É ele que está alterando o equilíbrio de forças na região, mas com a Rússia equiparando as forças na fronteira, ele acusa os russos de fazer o que ele, na verdade, está fazendo (5/10).
Biden quer que Putin ataque para, assim, excluir a Rússia do sistema global. Putin espera não precisar atacar, sobretudo para não afugentar os alemães do negócio do Nordstream 2, e outros negócios, e assim só atingir os democratas sem prejudicar os republicanos (6/10).
A imagem de uma invasão russa criaria um inimigo externo que tirou fotos com Trump. Pode dar errado, parecer uma derrota, mas transformar Putin no diabo é uma forma de, por arrastamento, atingir o Trumpismo e, ainda, assumir o controle da oferta energética para a Alemanha (7/10).
Se precisar se defender, Putin vai. E terá de arcar com um cenário que, praticamente, inviabilizará o projeto do capitalismo nacional e administrado que ele encabeça. Não é o melhor, mas será o necessário, embora ele espere, do fundo da alma, não precisar disso (8/10)
Quanto mais armas entram na Ucrânia, mais Putin perde tempo num eventual combate, que tenderia a ser mais difícil, mortal e custoso. É um cálculo muito difícil que Biden impõe a ele (9/10)
Sem o Nordestream 2 e com os russos excluídos, p.ex., do sistema internacional de pagamentos, Moscou se torna mais dependente de Pequim e os alemães teriam de voltar a carga para a derrubada da Síria, como fizeram os democratas há dez anos (10/10)
P.S: E Biden nisso? Se cada governo democrata é pior do que o anterior, com Biden os democratas entraram na fase demencial que os republicanos conhecem desde Bush Filho e, de forma definitiva, com Trump.
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O plano Biden para a economia estava dando certo. Até ele resolver o movimento de desglobalização, que agora volta como um bumerangue, ameaçando a recuperação dos EUA. Basicamente, é preciso entender que ele precisaria ter distendido as relações com China e Rússia (1/7).
Ao elevar a tensão com a Rússia, ele gera uma tendência de alta no preço do petróleo, o que arrasta muita coisa direta ou indiretamente. Como parte do Plano Biden passa por emissões bem ousadas de moeda, uma coisa encontra a outra, gerando uma bolha global inflacionária (2/7).
Quando mantém a tensão com a China, ele prejudica o mecanismo sino-americano, que permitia expansionismo fiscal e monetário generoso. Antes, a capacidade titânica de Pequim em atender a expansões da demanda americana manteve a expectativa dos preços sempre controlada (3/7).
Existe uma espécie de dois-ladismos que ao atacar os fracos da esquerda, cria novas falácias - estas com escopo certamente pior. O caso Olavo é emblemático. Em vez de questionar a esquerda sobre como ela não neutralizou um ideólogo, ela o trata como "intelectual público" (1/5).
A esquerda estaria assim numa "bolha" que a impediria de vencer. Nem preciso explicar que para esses dois-ladistas, o caminho seria então "furar a bolha", que em grande medida significa novilíngua capitular ao neoliberalismo "progressista" (2/5)
O problema não seria uma esquerda que coloca principismos no lugar de tática e estratégia, ou uma intelectualidade acadêmica alheia à realidade social, mas uma ideia abstrata de bolha, que está embebida de n vulgaridades de teoria de comunicação de quinta (3/5).
Olavo de Carvalho não foi nem filósofo, nem astrólogo, nem propagandista. Ele foi ideólogo. Olavo se dedicou a organizar as narrativas de um projeto político para, assim, executar ele. Nem precisava ser original e não foi, mas foi o grande responsável pelo Bolsonarismo (1/7).
De certa forma, ele, que veio da Dissidência Socialista (assim como, ironicamente, Zé Dirceu) e surfou na onda por ter sido de esquerda e, assim, soube se aproveitar das fragilidades dela -- sempre perdida em seu ziguezague de extremo idealismo e extremo pragmatismo (2/7).
Em 2020, quando @AmeniCaue e eu entrevistamos @ZeDirceu_ para a @JacobinBrasil, o ex-ministro avaliava que já ali Olavo tinha fracassado. Olavo teve um grande plano eleitoral, que ele realizou bem, mas fracassou na tomada e exercício de poder jacobin.com.br/2020/06/os-mil…
(3/7).
Como se os problemas no leste europeu não bastassem, e podem inclusive dragar a Alemanha, o governo britânico age para colocar lenha na fogueira, porque (1) o premiê Boris Johnson está ameaçado e quer uma cortina de fumaça; (2) os britânicos querem ver os alemães mal (1/7).
A mamadeira de piroca está sendo disseminada não pelo Breitbart News, mas pelo The New York Times, é de que Putin, segundo a "inteligência britânica", teria um líder pró-Moscou para colocar no poder em Kiev, após a tal "invasão russa" (2/7).
Ocorre que não há planos de invasão russa. Mas a grande questão se a Otan, entenda-se, os EUA, vão ou não entrar de vez na Ucrânia, na fronteira russa. Isso é o novo "O plano de Saddam para suas armas de destruição em massa" (3/7).
Há quem veja um erro em Biden, ao dizer que " apenas uma pequena incursão russa [na Ucrânia] dividiria a Otan [sobre como reagir a ela]". Mas o mais provável é dissimulação. Biden, ao meu ver, está aumentando a pressão para forçar a Rússia a agir (1/5). theguardian.com/us-news/2022/j…
Biden, vou martelar pela enésima vez, não está preocupado com a Ucrânia. Inclusive, porque nem os líderes dela estão. A Ucrânia é a bucha de canhão das buchas de canhão numa estratégia de fazer a Alemanha não investir em abastecimento energético, direto, de origem russa (2/5).
Todas as pessoas, à direita e à esquerda, nos EUA sabem que a Ucrânia ser colocada na Otan é um risco com baixíssimos ganhos. E forçaria Putin a responder. O que aconteceria? Basicamente, o presidente ucraniano, Zelensky, tomaria o primeiro avião para fora do país (3/5).
Nos últimos dias, Biden e Blinken recuaram sobre a Ucrânia, talvez preparando outro estratagema e jogando pressão sobre os "aliados alemães". No fundo, Washington sempre quis fazer russos e alemães cortarem relações comerciais energéticas com a crise da Ucrânia (1/13).
Putin não poderia aceitar a entrada da Ucrânia na Otan. Mas precisa trabalhar num espaço de manobra curto. Ele sabe que precisa mostrar Biden fraco, mas não pode ir tão além, sem motivo, porque perderia sim grandes e importantes aliados nos EUA (2/13).
Para os republicanos, interessa que Biden não consiga colocar a Ucrânia na Otan para mostrar que "ele é fraco". Mas tampouco os republicanos fariam isso, que é uma estupidez completa antes de tudo (3/13).