Como se os problemas no leste europeu não bastassem, e podem inclusive dragar a Alemanha, o governo britânico age para colocar lenha na fogueira, porque (1) o premiê Boris Johnson está ameaçado e quer uma cortina de fumaça; (2) os britânicos querem ver os alemães mal (1/7).
A mamadeira de piroca está sendo disseminada não pelo Breitbart News, mas pelo The New York Times, é de que Putin, segundo a "inteligência britânica", teria um líder pró-Moscou para colocar no poder em Kiev, após a tal "invasão russa" (2/7).
Ocorre que não há planos de invasão russa. Mas a grande questão se a Otan, entenda-se, os EUA, vão ou não entrar de vez na Ucrânia, na fronteira russa. Isso é o novo "O plano de Saddam para suas armas de destruição em massa" (3/7).
Britânicos querem colocar lenha na fogueira para inviabilizar o gasoduto Nordstream-2 e, talvez, mais estruturas de fornecimento de gás russo para a Alemanha. O que faria Berlim ter de se voltar mais para fornecedores do Oriente Médio, sob controle anglo-americano (4/7).
Nem Londres, nem Washington, se preocupam realmente se estourar um guerra. Eles querem um motivo para tornar Moscou um pária definitivo e, assim, tirarem o país da jogada no comércio energético com a Europa (5/7).
Pequim poderia deixar Moscou se virar, como Xi fez durante o mandato de Obama, mas não mais. Depois de Trump, e de Biden manter a pressão sobre a China, Pequim está de prontidão a favor de Moscou. Inclusive porque tem Hong Kong no cálculo (6/7).
Menos poderosos, mas muito mais bem-preparados do que os americanos no jogo internacional, os britânicos sob governo conservador, querem se salvar politicamente e isolar Rússia e China para obter vantagens, jogando os americanos contra a globalização (7/7).
P.S.: um spoiler: caso Johnson caia e entrem os trabalhistas, não espere mudança com a ala direita do Labour no poder. Pode ser até pior.
P.S.: o desglobalismo britânico é uma ameaça. Mas se tornou, no final da confusão toda, uma política de Estado com altos custos para o mundo.
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Há quem veja um erro em Biden, ao dizer que " apenas uma pequena incursão russa [na Ucrânia] dividiria a Otan [sobre como reagir a ela]". Mas o mais provável é dissimulação. Biden, ao meu ver, está aumentando a pressão para forçar a Rússia a agir (1/5). theguardian.com/us-news/2022/j…
Biden, vou martelar pela enésima vez, não está preocupado com a Ucrânia. Inclusive, porque nem os líderes dela estão. A Ucrânia é a bucha de canhão das buchas de canhão numa estratégia de fazer a Alemanha não investir em abastecimento energético, direto, de origem russa (2/5).
Todas as pessoas, à direita e à esquerda, nos EUA sabem que a Ucrânia ser colocada na Otan é um risco com baixíssimos ganhos. E forçaria Putin a responder. O que aconteceria? Basicamente, o presidente ucraniano, Zelensky, tomaria o primeiro avião para fora do país (3/5).
Nos últimos dias, Biden e Blinken recuaram sobre a Ucrânia, talvez preparando outro estratagema e jogando pressão sobre os "aliados alemães". No fundo, Washington sempre quis fazer russos e alemães cortarem relações comerciais energéticas com a crise da Ucrânia (1/13).
Putin não poderia aceitar a entrada da Ucrânia na Otan. Mas precisa trabalhar num espaço de manobra curto. Ele sabe que precisa mostrar Biden fraco, mas não pode ir tão além, sem motivo, porque perderia sim grandes e importantes aliados nos EUA (2/13).
Para os republicanos, interessa que Biden não consiga colocar a Ucrânia na Otan para mostrar que "ele é fraco". Mas tampouco os republicanos fariam isso, que é uma estupidez completa antes de tudo (3/13).
Boric, de forma previsível, montou um gabinete com a setores ao centro nos pontos estratégicos. Há quem compare o Chile com o Brasil, mas embora o patamar de lá seja mais alto, eu vejo problemas mais graves e complexos pela frente que os nossos (1/5).
Um deles é que a herança do Pinochetismo deixou como legado um arranjo econômico anormal. O Chile é uma economia com baixíssima complexidade, centrada em poucos ramos voltados em grande medida à exportação. Estruturalmente é mais grave que aqui no longo prazo (2/5).
Não é trivial mudar isso. E ainda existe uma pesada dos EUA na política local. Os EUA podem maldizer, hoje, o Pinochetismo, mas ele cumpriu o papel que Kissinger imaginava. Não à toa, a esquerda autorizada a governar foi uma decepção. Os socialistas tolerados e inofensivos (3/5)
A Folha conseguiu piorar o que já estava ruim. O texto da Ombudsman sobre a enxurrada de críticas contra o artigo infame de Risério, mais parece uma nota editorial ensaboada. O pronunciamento de Sérgio D´Ávila, o todo poderoso, é pior ainda (1/7).
No fim para além de um oportunismo de caça cliques, uma sede para criar uma cortina de fumaça, também existe coisa pior, o que poderia ser definido como o Projeto Neoliberal, mas que é anterior e mais nocivo: uma manifestação do racismo estrutural (2/7).
Um termo mais técnico seria haitianismo, isto é, o pavor e ao mesmo tempo a superstição criada pela oligarquia brasileira a respeito de uma rebelião de escravos. Sintoma e instrumento, o haitianismo é a chave-mestra da maquinaria racista no Brasil (3/7).
Cazaquistão e o Bitcoin: sim, em parte a megamineração de criptomoedas ajudou a sobrecarregar o sistema energético do país, o que vem junto de uma má reforma do setor e aumento das tarifas. Isso já era um problema ano passado, vejamos: thediplomat.com/2021/09/kazakh… (1/12)
Evidentemente, o Cazaquistão não minera criptomoedas apenas para si. Mas atende várias demandas, sobretudo da Rússia, que usa criptomoedas para driblar sanções americanas - as quais já estão beirando a exclusão russa do sistema financeiro mundial nytimes.com/2018/01/03/tec… (2/12).
O Cazaquistão não é um país miserável. Ele tem um PIB capta que é quase o dobro do nosso. O IDH, sem considerar a desigualdade social é quase top 50, mas considerando ela, o país sobe e é top 40 no mundo. Não é pouca coisa, é melhor do que os melhores da América Latina (3/12).
O Cazaquistão arde numa revolta contra o governo nacionalista. A ex-república soviética é um aliado chave de Moscou, com seu vasto território estratégico, é sede do programa espacial russo e cheio de riquezas naturais, e com 1/5 de população russa (1/16).
Naturalmente, o Cazaquistão tem problemas. Da sua fundação com o fim da URSS até bem pouco, o país esteve sob o comando de Nursultan Nazarbayev, mas seus aliados persistem no poder na forma do partido ironicamente chamado Nur Otan (Pátria Radiante) (2/16).
Nazarbayev foi um quadro do Partido Comunista durante décadas, se equilibrando no poder com uma habilidade incomum. Com o fim da URSS, ele tratou de promover o nacionalismo local, mas manteve vínculos fraternais com os russos (3/16).