Em Portugal, socialistas, de centro-esquerda, fizeram maioria absoluta nas eleições antecipadas, chamadas porque os partidos de esquerda que sustentavam o governo não aceitaram o orçamento proposto. Isso põe fim, definitivamente, à Geringonça que os unia (1/7).
De 2015 para cá, socialistas governavam com apoio das forças mais à esquerda, que concordaram com um ministério socialista, embora não tenham participado diretamente do governo. Era preciso barrar um novo governo do PSD, o PSDB deles (2/7).
A decisão de partidos como o Bloco de Esquerda ou a CDU (comunistas + verdes) em permitir aos socialistas governarem, e não o PSD, que tinha maioria relativa, se deveu à política neoliberal radical que o ex-premiê Passos Coelhos aplicou na esteira da crise econômica global (3/7).
Elas por elas, o PS de Antonio Costa aplicou um ajuste mais suave, negociado com os poderes europeus, que surpreendentemente cederam, e promoveu uma política de crescimento (4/7).
A esquerda ter sustentado o governo, mas não participado dele, o que talvez não fosse aceito pelos socialistas, evitou o pior, mas permitiu a construção de uma narrativa que ignora o papel deles no que deu certo em Portugal de 2015 para cá (5/7).
Quando a CDU e o Bloco protestaram contra o orçamento, ruim, de Antonio Costa, eles pareceram vilões. Por outro lado, a mídia portuguesa passou a torcer por uma vitória da centro-direita. O que se viu foi uma corrida para os socialistas (6/7).
Se o eleitorado de esquerda correu mais para o centro, o de direita radicalizou e votou na extrema-direita, o perigoso Chega e na Iniciativa Liberal, abandonando em parte o PSD e o velho CDS-PP (7/7).
P.S.: Antonio Costa ganhou tempo, mas os custos do orçamento que ele aprovou, pesarão na sua popularidade nos próximos anos. A depender do que se passe, teremos um cenário mais tenebroso daqui a quatro anos.

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Jan 29
A Ucrânia seria o único caso de socorrido que rifa o salvador, ao falar em afobação do governo Biden? Sim, mas é preciso entender como a Ucrânia se deixou usar, mas no fim usou Washington. O jogo é complexo (1/12).
internacional.estadao.com.br/noticias/geral…
Basicamente, Biden foi levado a confrontar a Rússia por duas razões que lhe apresentaram, uma eleitoreira, por conta da associação apressada Trump-Putin, a outra estratégica, isto é, ter controle sobre o abastecimento energético da Alemanha (2/12).
Claro que em certa medida isso veio na esteira de uma derrota: Berlim bateu o martelo, logo no início de seu mandato, e falou que não ia recuar no projeto do mega-gasoduto submarino Nordestream-2 que liga diretamente a Rússia à Alemanha (3/12).
Read 12 tweets
Jan 27
Nesse fio, o @eliasjabbour está pontuando, com precisão, alguns itens sobre reforma agrária: não é apenas sobre divisão da terra de forma igualitária, mas sobre inúmeras outras condições que incidem sobre o processo produtivo (1/10).
Socialismo - científico, pelo menos - não é *apenas* sobre repartição igualitária da propriedade, mas da viabilização desse processo do ponto de vista dos camponeses, mas, também, da massa urbana que vai se alimentar dos excedentes do campo (2/10).
Pegar as terras produtivas existentes e dividir igualitariamente é um começo de história, não ela inteira. É preciso equacionar essa justa distribuição com distribuição de recursos, sobretudo financeiro e técnicos para essa ocupação (3/10).
Read 12 tweets
Jan 27
Países capitalistas mais avançados são, paradoxalmente, países extremamente tristes, estão acometidos por grandes pandemias de doenças mentais. Olhemos para, p.ex., para a Ásia por um foco: a taxa de suicídio (1/7).
en.wikipedia.org/wiki/List_of_c…
Existe uma leitura orientalista de que o suicídio "seria algo normal" e "cultural" no extremo-oriente. Não é. Claramente, as taxas de países socialistas da região são muito melhores do que países capitalistas, principalmente os mais avançados (2/7).
Lugares como Japão, Coreia do Sul e Taiwan têm uma incidência de suicídios maior do que países como Vietnã, Coreia do Norte e China (3/7).
Read 7 tweets
Jan 27
O plano Biden para a economia estava dando certo. Até ele resolver o movimento de desglobalização, que agora volta como um bumerangue, ameaçando a recuperação dos EUA. Basicamente, é preciso entender que ele precisaria ter distendido as relações com China e Rússia (1/7).
Ao elevar a tensão com a Rússia, ele gera uma tendência de alta no preço do petróleo, o que arrasta muita coisa direta ou indiretamente. Como parte do Plano Biden passa por emissões bem ousadas de moeda, uma coisa encontra a outra, gerando uma bolha global inflacionária (2/7).
Quando mantém a tensão com a China, ele prejudica o mecanismo sino-americano, que permitia expansionismo fiscal e monetário generoso. Antes, a capacidade titânica de Pequim em atender a expansões da demanda americana manteve a expectativa dos preços sempre controlada (3/7).
Read 7 tweets
Jan 26
Na questão ucraniana, o tempo está passando e Biden, ao despachar armas e "consultores militares" (porque mercenários só nos países do mal, não é mesmo?) para Kiev, apenas contribui para aumentar o risco de uma guerra que ele, cinicamente, põe no colo de Putin (1/10).
Putin, é evidente, sabia que um novo governo democrata, ainda mais chefiado por Biden, iria para cima da Rússia. Hillary anunciou isso aos quatro cantos em 2016. Até aí, sem novidade. Ainda mais depois da tentativa de aproximação de Trump (2/10).
Para além das cortinas de fumaça, a Rússia é uma das poucas divergências reais entre os dois grandes partidos americanos. E não é a uma divergência pequena, convenhamos (3/10).
Read 11 tweets
Jan 26
Existe uma espécie de dois-ladismos que ao atacar os fracos da esquerda, cria novas falácias - estas com escopo certamente pior. O caso Olavo é emblemático. Em vez de questionar a esquerda sobre como ela não neutralizou um ideólogo, ela o trata como "intelectual público" (1/5).
A esquerda estaria assim numa "bolha" que a impediria de vencer. Nem preciso explicar que para esses dois-ladistas, o caminho seria então "furar a bolha", que em grande medida significa novilíngua capitular ao neoliberalismo "progressista" (2/5)
O problema não seria uma esquerda que coloca principismos no lugar de tática e estratégia, ou uma intelectualidade acadêmica alheia à realidade social, mas uma ideia abstrata de bolha, que está embebida de n vulgaridades de teoria de comunicação de quinta (3/5).
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