Sentir o mundo externo e interno é crítico para a nossa segurança, construção de comportamentos e percepção da própria realidade. Para isso, contamos com muito mais que os 5 grandes sentidos.
E se eu te disser que O SISTEMA IMUNOLÓGICO pode fazer parte disso?
As interações entre os sistemas nervoso e imunológico têm sido um tema de grande interesse nas últimas décadas. Inclusive, fez parte da temática do meu projeto de pós-doutorado! Sem dúvida, é um tema relevante para os estudos tanto na saúde, quanto nas doenças/transtornos
Mas tu sabia que tanto o sistema nervoso, quanto o sistema imunológico 'conversam' entre si?
👉Os sinais neuronais podem afetar as funções imunológicas
👈...e as células imunológicas podem modular a atividade dos neurônios no cérebro e na medula espinhal, ou no resto do corpo!
Recentemente, um grupo de pesquisadores demonstrou que esses sinais imunológicos não são apenas percebidos pelo cérebro: eles podem ser PROCESSADOS em REGIÕES ESPECÍFICAS do sistema nervoso!
No artigo acima, os pesquisadores observaram que uma inflamação na cavidade abdominal (a famosa "barriga") resulta na estimulação de certos neurônios em uma área do cérebro chamada córtex insular, ou ínsula (em vermelho)
O que é isso?
A ínsula é uma região ricamente conectada com várias outras partes do sistema nervoso, como diversas regiões que processam sensações. Além disso, ela pode estar relacionada, também, com aspectos emocionais do comportamento social n.neurology.org/content/93/21/….
Após a estimulação dos neurônios da ínsula pelo evento da inflamação abdominal, a simulação de uma reativação desses neurônios É SUFICIENTE para gerar uma "lembrança" dessas respostas inflamatórias no órgçao específico, bastante parecidas com a inflamação inicial!
Ou seja, resumindo: é como se realmente esses neurônios, que foram ativados durante o processo inflamatório abdominal, ficassem com uma lembrança dessa inflamação nesse órgão.
Ao ativar esses neurônios novamente, uma resposta parecida com aquela inflamação foi gerada!
Os tipos de células imunológicas encontradas durante o processo inflamatório inicial também foram vistos quando reativamos "artificialmente" esses neurônios!
É como se esse conjunto específico de neurônios da ínsula fosse capaz de codificar essa resposta imunológica
E o mais louco disso tudo é que não é a ínsula inteira responsável por isso, e sim esse grupo específico de neurônios! E eles não guardam apenas o sinal inflamatório, mas também infos anatômicas, em que órgão aconteceu o evento, de forma super específica
Isso é IMENSO. E o fato de essa "lembrança" nesses neurônios específicos poder ser "reativada", induzindo uma resposta inflamatória em um órgão específico (muito similar com a anterior) pode nos ajudar a entender ainda mais essas relações neuro-imunológicas
Mas como essa comunicação com um evento ocorrido no intestino aconteceu com a ínsula lá do nosso sistema nervoso🧠? Os autores conseguiram marcar com pequenas moléculas fluorescentes todo o caminho dessa comunicação neural!
E sério pessoal: há poucas técnicas experimentais mais bonitas do que essas que envolvem fluorescência. Uma janela se abre para o nosso corpo, em especial, para o cérebro. São as imagens mais lindas que vocês vão ver!
Conhecendo esses caminhos e vendo que esses neurônios da ínsula tem um papel nessa "lembrança" da inflamação, e se eu inibir eles? Como fica a resposta?
ELA SE ATENUA! É possível reduzir o impacto da resposta inflamatória no intestino modulando esses neurônios da ínsula!
A ciência vem estudando esses efeitos de modulação entre sistema nervoso e sistema imunológicos na comunicação entre os órgãos (como intestino e pulmões) há cerca de uma década. Esse artigo do @jonykipnis representa o potencial imenso dessa área
Esses desafios imunológicos (ex.: inflamação no intestino) na periferia do corpo podem levar a alterações no sistema nervoso de longo prazo, que podem influenciar na progressão de doenças neurodefenerativas***!
E agora, com esse novo trabalho, temos mais evidências demonstrando que a ativação de certos neurônios em regiões específicas do sistema nervoso, envolvidos em processos inflamatórios passados, pode gerar respostas inflamatórias em órgãos específicos no corpo!
Como a própria reportagem da @Nature comenta: "É tentador especular que o estado imunológico de um animal pode ser codificado e recapitulado dinamicamente pelo cérebro, ajustando o curso das respostas imunes e doenças associadas" nature.com/articles/d4158…
Ainda não está claro exatamente como ocorre a comunicação entre esses neurônios específicos da ínsula e o intestino. Muitas perguntas ainda estão em abertos - e é uma excelente oportunidade para contribuir nesses estudos!
Estudos como esse podem oferecer estratégias super promissoras para projetar abordagens terapêuticas para muitas doenças, incluindo câncer e distúrbios inflamatórios, neurológicos e metabólicos!
No fim, tudo está (muito) conectado, e estamos apenas começando a entender isso!
Títulos de anticorpos para diferentes variantes (Alfa, Beta, Gama, Delta e Omicron):
🔹Do lado esquerdo, VACINADOS que tiveram infecção por ômicron
🔹Do lado direito, os títulos para não vacinados após infecção por ômicron.
Recuperados: vacinem-se!
O preprint conclui: Portanto, indivíduos não vacinados, infectados apenas com a variante Omicron, podem não estar bem protegidos contra a infecção por um SARS-CoV-2 não-Omicron e, consequentemente, devem ser vacinados adicionalmente para proteção total.
Um dos assuntos do momento é a reinfecção pelo vírus da COVID-19. Vemos isso nos relatos do nosso dia-a-dia, mas também estamos vendo isso em números (ainda que seja um número bem subnotificado).
O fio de hoje é sobre reinfecções, riscos e o que fazer para evitá-los 🧶👇
O que é uma reinfecção? É quando uma pessoa apresenta a detecção de uma segunda ou subsequente infecção (por Covid-19, nesse caso), independentemente da variante envolvida. theguardian.com/world/2022/jan…
Alguns dados sugerem que é maior em pessoas:
🔹não vacinadas e potencialmente
🔹naquelas cuja infecção anterior foi mais leve com uma resposta imune mais baixa, que não gerou uma resposta ampla/abrangente e duradoura
A reunião do @US_FDA para avaliar o pedido de uso emergencial da Pfizer para crianças de 6 meses a 4 anos ocorrerá dia 15 de fevereiro! A pfizer também está investigando os efeitos da 3ª dose nessa população, com resultados esperados nos próximos meses
Segundo a reportagem do @g1cienciaesaude ao todo, participaram dos testes clínicos iniciais cerca de 4,5 mil crianças com idade de 6 meses a 12 anos de diversos países.
Com exceção da faixa etária entre 2 e 4 anos, a vacina de dosagem baixa (3 µg) foi capaz de gerar uma resposta equiparável àquela observada em indivíduos de 16-25 anos. Para essa faixa etária, o uso de uma 3ª dose está sendo investigado
Não apostem na proteção pela infecção natural. Temos dados sugerindo que pessoas recuperados pela infecção com a Omicron podem se reinfectar, mesmo pensando num curto espaço de tempo! A proteção pela infecção é variável, pode não ser duradoura e abrangente para outras variantes.
VACINEM-SE. Mesmo recuperados. Temos dados super positivos demonstrando como a vacinação reforça e aumenta (e muito) a proteção em pessoas com histórico de COVID-19
Dados anunciados pela Pfizer apontam que:
🔹Crianças de 6 meses a 2 anos receberiam 1/10 da dose aplicada em adultos, num regime de 2 doses
🔹Porém esse esquema gerou uma resposta comparável à de jovens de 16 a 25 anos washingtonpost.com/health/2022/01…
Porém, na faixa etária entre 2-4 anos, essa resposta (com 1/10 da dose aplicada em adultos) foi um pouco mais baixa do que a vista em pessoas de 16-25 anos. A farmacêutica começou a estudar o efeito de uma 3ª dose baixa para complementar essa resposta
E a Butanvac? Novidades!
O grupo do Dr. @florian_krammer mostra, em um novo preprint:
🔹Alta capacidade de neutralização contra o vírus SARS-COV-2 (tão alta quanto a induzida por vacinas de RNA)
🔹Resposta parece ser focada na porção RBD da Spike!
RESUMO DO MINI-FIO:
🔹Vacina debaixo custo para países de média-baixa renda
🔹Induz títulos de anticorpos neutralizantes comparáveis com vacinas de RNA
🔹Forte resposta induzida pela vacina contra a porção RBD da Spike, que pode ajudar na proteção contra casos graves
Em março de 2021, fiz um fio comentando sobre a Butanvac e a tecnologia empregada para o desenvolvimento dessa vacina: