Um dos assuntos do momento é a reinfecção pelo vírus da COVID-19. Vemos isso nos relatos do nosso dia-a-dia, mas também estamos vendo isso em números (ainda que seja um número bem subnotificado).
O fio de hoje é sobre reinfecções, riscos e o que fazer para evitá-los 🧶👇
O que é uma reinfecção? É quando uma pessoa apresenta a detecção de uma segunda ou subsequente infecção (por Covid-19, nesse caso), independentemente da variante envolvida. theguardian.com/world/2022/jan…
Alguns dados sugerem que é maior em pessoas:
🔹não vacinadas e potencialmente
🔹naquelas cuja infecção anterior foi mais leve com uma resposta imune mais baixa, que não gerou uma resposta ampla/abrangente e duradoura
Outro ponto relevante sobre reinfecções: parece depender da variante. Por exemplo, quando tínhamos a #Delta como a variante predominante, havia um risco maior de reinfecção naqueles recuperados de #Beta e #Gama para essa variante
Dados recentes apontam que indivíduos estão se reinfectando imediatamente após uma recuperação da infecção pela Omicron, principalmente aqueles cuja primeira infecção foi mais branda, tendo uma proteção limitada também para a Delta
Porém, quando temos testes positivos num curto intervalo, fica difícil dizer se não é ainda aquela 1ª infecção, que está levando mais tempo para se resolver. a @UKHSA define uma possível reinfecção como um caso 90 dias ou mais após uma infecção anterior confirmada por Covid-19
Pelos números da @UKHSA desde o início da pandemia até 09/01/22 houve 425.890 reinfecções possíveis, com 109.936 encontradas na semana que terminou em 09/01, representando quase 11% de todos os casos naquela semana. assets.publishing.service.gov.uk/government/upl…
Mas, reinfecções trazem uma limitação imensa em sua detecção: Muito poucas são “confirmadas”, pois isso requer sequenciamento genético. Além disso, com poucas pessoas na comunidade tendo acesso aos testes na primeira onda, muitas primeiras infecções podem não ter sido contadas.
As reinfecções são um problema, de fato. Muitos culpam a vacinação, mas o maior culpado que deveria estar sendo contabilizado agora é a transmissão. É por causa da transmissão que variantes mais perigosas e que "escapam" mais das defesas estão aparecendo, trazendo esse risco
E hoje temos em circulação uma variante cuja transmissibilidade é impressionante [Omicron]. Apesar de várias incertezas apontadas pelo estudo do @imperialcollege , 2/3 das pessoas que tiveram infecção pela Omicron dizem que já tiveram Covid-19 antes cnbc.com/2022/01/26/mor…
De acordo com estudos do @imperialcollege depois de levar em conta uma série de fatores, a #Omicron foi associada a um risco de reinfecção 4,38 e 6,63x maior em pessoas recuperadas de uma infecção pelo SARS-CoV-2 anterior, em comparação com o #Delta. imperial.ac.uk/news/232698/om…
Em relação às vacinas, sabemos que a #Omicron impacta significativamente a proteção contra infecção, pensando no regime de 2 doses. Porém, com 3 doses, observamos essa proteção subir a patamares de 70-75%, demonstrando a relevância da 3 dose
É preciso também destacar que, mesmo a Omicron impactando na proteção contra infecção para regimes de 2 doses, a proteção contra HOSPITALIZAÇÃO segue muito alta com essas 2 doses:
🔹2 doses Pfizer, por exemplo:
E comparando recuperados não vacinados x pessoas completamente vacinadas, vemos que não vacinados apresentam um risco maior de reinfecção. A maioria dos dados são para a onda da Delta.
Dados recentes mostram que, quando pessoas se vacinam, tendo ou não histórico prévio de uma infecção por COVID-19, vemos um reforço imenso nessa proteção, que pode beneficiar também uma redução de risco para novas infecções
Até agora temos:
🔹um risco alto de reinfecção, principalmente pensando em recuperados não vacinados
🔹mesmo pessoas com o esquema vacinal completo tendo risco de infecção, a proteção contra a doença é muito alta
🔹com 3 doses, pessoas vacinadas tem alta proteção contra infecção
Ainda não está claro se reinfecções podem, de fato, ocorrer num curtíssimo espaço de tempo. Há dados da @UKHSA que apontam 2.855 reinfecções prováveis 29 a 89 dias após uma infecção anterior - embora algumas delas possam refletir a detecção contínua de uma infecção inicial.
Casos assim também tem sido relatados em crianças, que infelizmente pertencem a uma população com baixa cobertura vacinal (porque começou a vacinar recentemente, por exemplo)
De acordo com dados do @ONS e manifestações da @UKHSA “Muitas dessas reinfecções de intervalo mais curto (citadas no tuíte anterior) provavelmente são crianças em idade escolar porque tiveram os níveis mais altos de infecção em Set/Out, pouco antes do surgimento do Omicron"
Uma imensa preocupação aqui ainda segue sendo os não vacinados: para quem se vacinou, sabemos que há um risco menor para doença mais séria, mesmo pensando em casos de reinfecção. Atenção mega especial para pessoas mais vulneráveis ou com comorbidades associadas.
Porém, não vacinados podem não ter o mesmo desfecho. A gravidade de uma reinfecção depende de muitos fatores, incluindo a variante envolvida e o estado de vacinação de uma pessoa. ons.gov.uk/peoplepopulati…
Na onda da Delta, uma pesquisa recente do Epic Health Research Network apontou que indivíduos não vacinados têm 44% mais chances de serem reinfectados com COVID-19 do que aqueles que são vacinados contra a doença. epicresearch.org/articles/getti…
Para a onda da Omicron, podemos estar vendo uma diferença ainda maior pensando nas pessoas que receberam reforço (3ª dose), tendo ou não histórico prévio de COVID-19, comparado com pessoas não vacinadas. O status vacinal é crítico para uma proteção maior.
O pensamento me parece lógico: estar vacinado, especialmente com três doses (com ou sem histórico prévio de COVID-19) reduz risco de (re)infecção. E mesmo se houver a (re)infecção, a vacina preparará seu corpo MUITO melhor para lidar com isso (e reduzir riscos de sequelas).
Se tu leu até aqui, aguarde mais um pouquinho que tem o final deste fio! hehe
Mas Mell, a BA.2 pode aumentar o risco de reinfecção? Ainda é algo que não sabemos ao certo. Temos alguns dados apontando que sim, indivíduos infectados com a BA.1 (sublinhagem da Omicron) se infectaram novamente com a BA.2 (também sublinhagem da Omicron). timesofisrael.com/several-cases-…
PORÉM precisamos ver esses dados e entender as características desses indivíduos, seu status vacinal, etc. Sabemos que vários fatores influenciam no risco para reinfecção, como vimos neste fio.
Outro estudo dinamarquês aponta que a BA.2 tem um potencial mais infeccioso/transmissível que a BA.1, mas novamente, são dados iniciais, e que precisamos anaisá-los em maior detalhe para entender os fatores que estão envolvidos na análise reuters.com/business/healt…
De qualquer forma, as vacinas parecem seguir protegendo contra essas sublinhagens da Omicron, como explico nesse fio, fazendo, AINDA MAIS, relevante o recebimento da 3ª dose para reduzir riscos de doença e também de infecção
Gente, a moral da história toda é:
🔹reinfecções são um produto da alta transmissão, não de um 'fracasso' das vacinas. As vacinas foram desenvolvidas para proteger contra a doença, e elas também são capazes de reduzir o risco de infecção, principalmente considerando o reforço.
🔹já estamos vendo um novo curso no desenvolvimento de reforços de vacinas, como as vacinas intranasais, que podem ajudar MUITO nessa proteção reforçada das mucosas, a "porta de entrada" do vírus no organismo.
🔹não temos dados sólidos apontando que a Omicron será a última variante pandêmica. Faz sentido pensar que iremos entrar numa endemia no futuro (não sabemos quando), mas dizer que isso é agora, mês que vem ou enfim me parece precoce
🔹Ainda sobre endemia, e ainda sobre o fio da @LeSarturiP : NÃO estamos vendo um sinal de endemia NESTE MOMENTO. Ainda estamos lutando contra a pandemia, e precisamos seguir com o que está dando certo para sair dela
🔹não podemos nos contentar com a situação atual. Ontem mesmo quase retornamos a marca de mil óbitos diários, algo que não víamos desde ~Set/21. Enquanto a transmissão estiver alta, estaremos num risco de ver mais variantes de preocupação aparecendo
🔹por fim, vacinação pessoal. E medidas de enfrentamento. Não custa tu usar máscara ao sair de casa, buscar um lugar aberto para dar uma volta e combinar com mais cuidados. É sobre prezar por sua vida e pela vida do próximo
🔹'ah mas quantas vacinas vamos precisar tomar para sair dessa?' depende muito mais de até quando vamos tolerar uma transmissão alta sem medidas de saúde pública coordenadas e condizentes com a situação.
A preocupação não deveria ser quantas doses (que bom que temos vacinas para poder ter oportunidades de reforçar essa proteção, se necessário!), e sim quanto tempo mais seguiremos nessa inércia a uma situação que *ninguém aguenta mais*
E para sair dela, temos que agir enquanto sociedade. Segue fazendo o teu melhor, tentando conscientizar as pessoas ao teu redor. A força para seguir fazendo o certo muitas vezes vem dos bons exemplos que vemos ao redor - e de ter a certeza que não estamos sozinhos nessa luta!
"Estamos entrando/entraremos em uma endemia de COVID-19" é algo que lemos com uma frequência crescente atualmente. Mas o que é uma endemia? Estar numa endemia é bom? Significa segurança?
Vamos esclarecer um pouco essa ideia. E não, não significa um cenário inofensivo
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Nos últimos dias, a palavra 'endemia' se tornou uma das mais mal utilizadas na pandemia da COVID-19. No entanto, algumas interpretações feitas encorajam uma complacência equivocada. Endemias podem ser problemáticas também.
Uma infecção endêmica é aquela em que as taxas gerais são estáticas – não aumentam/diminuem. A proporção de pessoas que podem adoecer equilibra o “nº básico de reprodução” do vírus, (o nº de indivíduos que alguém infectado infectaria, numa população em que todos poderiam adoecer
Títulos de anticorpos para diferentes variantes (Alfa, Beta, Gama, Delta e Omicron):
🔹Do lado esquerdo, VACINADOS que tiveram infecção por ômicron
🔹Do lado direito, os títulos para não vacinados após infecção por ômicron.
Recuperados: vacinem-se!
O preprint conclui: Portanto, indivíduos não vacinados, infectados apenas com a variante Omicron, podem não estar bem protegidos contra a infecção por um SARS-CoV-2 não-Omicron e, consequentemente, devem ser vacinados adicionalmente para proteção total.
A reunião do @US_FDA para avaliar o pedido de uso emergencial da Pfizer para crianças de 6 meses a 4 anos ocorrerá dia 15 de fevereiro! A pfizer também está investigando os efeitos da 3ª dose nessa população, com resultados esperados nos próximos meses
Segundo a reportagem do @g1cienciaesaude ao todo, participaram dos testes clínicos iniciais cerca de 4,5 mil crianças com idade de 6 meses a 12 anos de diversos países.
Com exceção da faixa etária entre 2 e 4 anos, a vacina de dosagem baixa (3 µg) foi capaz de gerar uma resposta equiparável àquela observada em indivíduos de 16-25 anos. Para essa faixa etária, o uso de uma 3ª dose está sendo investigado
Sentir o mundo externo e interno é crítico para a nossa segurança, construção de comportamentos e percepção da própria realidade. Para isso, contamos com muito mais que os 5 grandes sentidos.
E se eu te disser que O SISTEMA IMUNOLÓGICO pode fazer parte disso?
As interações entre os sistemas nervoso e imunológico têm sido um tema de grande interesse nas últimas décadas. Inclusive, fez parte da temática do meu projeto de pós-doutorado! Sem dúvida, é um tema relevante para os estudos tanto na saúde, quanto nas doenças/transtornos
Mas tu sabia que tanto o sistema nervoso, quanto o sistema imunológico 'conversam' entre si?
👉Os sinais neuronais podem afetar as funções imunológicas
👈...e as células imunológicas podem modular a atividade dos neurônios no cérebro e na medula espinhal, ou no resto do corpo!
Não apostem na proteção pela infecção natural. Temos dados sugerindo que pessoas recuperados pela infecção com a Omicron podem se reinfectar, mesmo pensando num curto espaço de tempo! A proteção pela infecção é variável, pode não ser duradoura e abrangente para outras variantes.
VACINEM-SE. Mesmo recuperados. Temos dados super positivos demonstrando como a vacinação reforça e aumenta (e muito) a proteção em pessoas com histórico de COVID-19
Dados anunciados pela Pfizer apontam que:
🔹Crianças de 6 meses a 2 anos receberiam 1/10 da dose aplicada em adultos, num regime de 2 doses
🔹Porém esse esquema gerou uma resposta comparável à de jovens de 16 a 25 anos washingtonpost.com/health/2022/01…
Porém, na faixa etária entre 2-4 anos, essa resposta (com 1/10 da dose aplicada em adultos) foi um pouco mais baixa do que a vista em pessoas de 16-25 anos. A farmacêutica começou a estudar o efeito de uma 3ª dose baixa para complementar essa resposta