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Feb 17 35 tweets 7 min read
O caso dos cinco jovens negros mortos em um carro que foi atingido por 111 tiros:
Em 28 de novembro de 2015, cinco jovens negros foram mortos em um carro que foi atingido por 111 tiros no bairro de Costa Barros, na zona norte do Rio de Janeiro.
A chacina de Costa Barros matou os jovens Wesley Castro Rodrigues, 25, Roberto de Souza Penha, 16, Wilton Esteves Domingos Júnior, 20, Cleiton Corrêa de Souza, 18 e Carlos Eduardo Silva de Souza, 16.
Os cinco amigos eram moradores da zona norte do Rio de Janeiro e estavam reunidos para comemorar o emprego novo de Roberto, que havia recebido seu primeiro salário como ajudante em um supermercado.
No fim da tarde, os cinco jovens foram embora em um Palio Branco, dirigido por Wilton, acompanhados de uma moto dirigida por Wilkerson, irmão de Wilton, com seu amigo Lourival na garupa.
Já chegando perto de casa se encontraram com quatro policiais militares do 41º Batalhão, em Irajá, um dos mais letais do Rio de Janeiro.
Antes do trágico encontro, os policiais estavam à procura de assaltantes que teriam roubado e estariam saqueando um caminhão da Ambev, possivelmente em Costa Barros. Eles tinham apenas uma pista: os responsáveis estavam em um carro e uma motocicleta.
Por volta das 21 horas, na Av. José Arantes de Melo, os policiais encontraram os cinco jovens no Palio branco e os dois amigos na moto. Receberam ordem de parada e assim fizeram. Em seguida, 111 tiros foram disparados.
Um desses tiros foi no para-choque traseiro da moto de Wilkerson, que conseguiu fugir.
Algumas pessoas ainda ouviram os gritos dos jovens dizendo "Não atira, somos moradores!"; E não somente isso, também trabalhavam e estudavam.
O resultado foi as cenas e imagens estampadas e veiculadas nos meios de comunicação em geral: um carro desfigurado pelos enormes buracos de balas; dentro, cinco jovens, todos negros, ensanguentados e arrebentados, um deles com o maxilar solto pela potência dos tiros.
Via-se, também, ao lado de um dos pneus, uma arma, comprovadamente "plantada" pelos policiais. De acordo com a perícia, nenhum dos jovens estava armado e que da moto não saíram tiros, ao contrário do que alegaram os policiais.
Jorge Roberto, pai de Roberto, foi um dos primeiros a chegar e sofrer ao ver seu filho dentro do carro. Os outros familiares também chegaram, registrando a imagem que ficaria para sempre em suas mentes.
Márcia Ferreira, mãe de Wilton e Wilkerson, foi ameaçada por policiais, ela viu um policial colocando uma arma próxima ao carro, tirando a chave do contato e jogando no porta malas do veículo.
No dia seguinte, os quatro policiais foram presos e levados para o Batalhão Especial Prisional, em Niterói. No funeral, a comunidade fez uma manifestação, levando à rua uma bandeira do Brasil com buracos, como de balas.
Três dias depois, após denúncia do Ministério Público, foi decretada a prisão preventiva dos policiais. Três deles respondem por cinco homicídios qualificados, duas tentativas de homicídio qualificado, fraude processual e e porte de arma com numeração adulterada.
O comando-geral da PM abriu processo administrativo para julgar a expulsão dos policiais da corporação. Dois dias após o incidente, o comandante do batalhão foi exonerado.
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informou que irá defender as famílias nas áreas criminal e cível, buscando providências, reparação material e moral, ajudando a Polícia Civil no processo de investigação e inserindo as pessoas no programa de proteção às testemunhas.
Semanas depois, reforço pericial: uso de força excessiva sem ter havido uma razão para tal, 40 disparos atingiram os jovens. A arma deixada debaixo do carro era de treino, desarmada e com o gatilho ao contrário e nenhum tiro saiu dela.
Três meses depois, os familiares dos jovens estiveram em um programa de TV e relataram que não houve qualquer ressarcimento ou apoio psicológico, como prometido, e sequer qualquer ajuda para o funeral.
O julgamento ocorreu quatro anos após o crime. A Justiça do Rio de Janeiro condenou, na madrugada do dia 9 de novembro de 2019, dois policiais militares a 52 anos e seis meses de prisão pelo assassinato de cinco jovens em Costa Barros, na Zona Norte do rio.
Os policiais chegaram a dizer que houve confronto com os jovens, mas a perícia descartou essa versão. Além dos dois condenados, a Justiça absolveu um policial militar das acusações e outro ainda será julgado.
O julgamento começou na quinta-feira (7) e durou mais de 20 horas. O sargento Marcio Darcy Alves dos Santos e o soldado Antônio Carlos Gonçalves Filho foram sentenciados a 52 anos e seis meses de prisão por cinco homicídios duplamente qualificados.
O soldado Antônio terá que cumprir 8 meses e 5 dias a mais pelo crime de fraude processual. Já o Fábio Pizza Oliveira da Silva foi absolvido de todas as acusações e teve o alvará de soltura expedido.
Enquanto Thiago Resende Viana Barbosa abriu mão do advogado para ser assistido pela Defensoria Pública e deve ser julgado em outra data.
O ponto alto do julgamento foi quando a acusação apresentou um vídeo feito pelos moradores da região que mostra os meninos mortos e as marcas de tiros no carro e um outro vídeo com a imagem de um dos PMs tapando a câmera de segurança que os filmava pouco antes do crime.
O ministério público e os assistentes de acusação já recorreram à decisão do 2º Tribunal do Júri que absolveu o cabo Fabio Pizza. Agora, o caso vai para análise do Tribunal.
Os policiais negaram o crime; afirmaram ter atirado apenas na direção de uma passarela e de um buraco na estrutura, de onde vinham tiros contra os policiais. Tal versão foi descartada.
Enquanto mães e pais aguardam, ficam as lembranças de quem se foi, tragédias que se desdobram daquela inicial, repercussões fatais de tamanha crueldade, reforçadas por idas e vindas judiciais que se arrastam e pressionam subjetivamente e adoecem as pessoas diretamente envolvidas.
Joselita, mãe de Roberto, morreu com 44 anos, meses após o ocorrido. O diagnóstico era de anemia e pneumonia. Dias depois, Wilkerson, irmão de Wilton, sofreu um aneurisma cerebral e morreu.
Segundo seu pai, familiares e amigos, sua morte foi causada pelo estresse vindo do trauma, além da falta de cuidados médicos nos hospitais. Adriana, mãe de Carlos Eduardo, emudeceu logo após a morte do filho.
Ficava agressiva sempre que via um policial. Em tratamento médico, com grave quadro depressivo, tentou o suicídio mais de uma vez; numa delas, ao entrar no mar, foi salva por um rapaz.
Carlos, o pai de Carlos Eduardo, logo após a morte do filho, também tentou o suicídio, na Ponte Rio-Niterói, atormentado pelas lembranças das imagens de seu filho morto.
Mônica, mãe de Cleiton, perturbada com as mortes, vive à base de remédios e tem dificuldades para sair de casa.
Os familiares das demais vítimas fecharam acordos reparatórios, porém os valores não podem ser declarados. Quanto mais o tempo passa sem uma data para o julgamento, o sofrimento dos familiares se estende.

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