1/ Reconhecer os limites do desenvolvimento brasileiro não é o mesmo que ser contra o desenvolvimento. Por que, então, apontar os limites - insuficiências e deficiências - da industrialização brasileira faz do crítico um "inimigo da indústria"?
2/ A industrialização brasileira não fez uma transformação profunda e ampla nas relações sociais. Reafirmou a primazia do parasitismo sobre o trabalho e a produção. Criou oligopólios poderosos, capazes de extrair rendas. Poder importou mais do que tecnologia.
3/ A agenda da tecnologia nunca foi das empresas, foi de uma elite ilustrada do Estado, mas só a partir dos anos 1970, com grandes anúncios e realizações modestas, porque os grandes grupos estavam satisfeitos com o seu poder.
4/ Nas maiores empresas brasileiras imperou sempre o mandonismo e a família - "meritocracia exige". Executivos profissionais administram os conflitos de interesses, raramente formulam estratégias, muito menos ousadas. Trabalhadores querem-se dóceis e facilmente substituíveis.
5/ Tecnologia demanda neurônios. Os verdadeiros são indomáveis. A tecnologia é subversiva do mandonismo e da autocracia das empresas. As mesmas empresas em que não há viagens a congressos científicos fazem muitas a feiras e convescotes. Os engenheiros conhecem isso muito bem.
6/ Se você visitar virtualmente o USPTO e o INPI, os escritórios de patentes, vai encontrar um retrato devastador das patentes de umas e de outras. faça o exercício: a maior empresa brasileira do setor X e a sua congênere de qualquer um dos 10 países: o 7x1 é coisa pouca.
7/ No placar de patentes, comparando o que é comparável (mesmo setor, tamanhos comparáveis), as diferenças de número de patentes podem ser de 50 a 1 ou mesmo de 100 a 1. Mas se você examinar a patente, então fica ainda mais grave.
8/ "Ah, mas para que reinventar a roda?" O Messi bate 300 faltas por semana para saber bater bem na bola. Vá ao museu ou à Escola de Artes e verá centenas de repetições. O artista original fez antes muitas repetições. O domínio extremo da técnica é base para o exercício original.
9/ Copiar, copiar com adaptações, fazer pequenos incrementos bastou durante muito tempo. Mas não quando o ambiente mudou, quando o ritmo acelerou, quando o novo conhecimento se tornou vital. Era tarde. E qual foi a resposta do grande capital?
10/ A resposta foi refugiar-se nas áreas protegidas, algumas na própria indústria (produtos que não viajam, recursos naturais, monopólios poderosos), na mineração, nas florestas, no agrolatifúndio e nos seus congêneres. Depois, arrematar as empresas que o Estado incompetente fez.
11/ A participação em recursos naturais é antiga, mas
a migração do capital industrial para as áreas protegidas começou ainda nos anos 1970. Os grandes projetos fundiários do Cerrado, rurais e urbanos, têm capitais e "empresários" vindos da indústria.
12/ E as mesmas empresas que gastavam 0,1% ou 0,2% do seu faturamento em P&D (1/10 do que investem as rivais), gastavam muitas vezes isso em publicidade. Não é falta de recursos, é prioridade.
13/ Sem indústria não há desenvolvimento, sem desenvolvimento não há Brasil. Mas se queremos ter de verdade uma indústria precisamos reconhecer as suas fragilidades e pensar caminhos plausíveis. É a isso que os industrialistas-desenvolvimentistas precisamos nos dedicar.

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