O historiador britânico Robert Conquest, autor de "The Harvest of Sorrow", é o principal promotor da tese de que Stalin teria matado cerca de 20 milhões de pessoas ao longo da década de trinta e um antigo proponente da tese do "Holodomor".

1/14
Conquest trabalhou para o Departamento de Pesquisa de Informação, um braço do Serviço Secreto Britânico empenhado em subsidiar ações de inteligência contra governos vistos como inimigos do Reino Unido — incluindo a União Soviética.

2/14
Também é autor de um conhecido panfleto anticomunista histérico denominado "O que fazer quando os comunistas chegarem: um manual de sobrevivência", um clássico do humor involuntário, descrevendo monstros comunistas destruindo os alicerces da civilização ocidental.

3/14
Para calcular o número de pessoas que Josef Stalin teria matado, Robert Conquest utilizou-se da projeção da taxa de crescimento demográfico da União Soviética, baseando-se nos dados da década de vinte.

4/14
Isso é, Conquest traçou uma linha de crescimento demográfico imaginária tomando por referência as taxas de natalidade e mortalidade dos anos vinte e estendeu esses valores até o fim dos anos trinta. Em seguida, comparou o resultado do seu cálculo à população efetiva.

5/14
A diferença, diz Conquest, equivaleria ao número de pessoas que Stalin teria matado. A metodologia carece de sentido, pois é baseada na contagem de indivíduos que nunca existiram, pressupondo que a taxa de natalidade teria permanecido inalterada ao longo de 2 décadas...

6/14
...mesmo em meio a conflitos e ao processo de industrialização, cenários tradicionalmente marcados pela redução da taxa de natalidade. Além disso, o levantamento atribui genocídio como única explicação possível para a redução do ritmo de crescimento populacional de um país.

7/14
Em 2008, um pesquisador russo chamado Boris Borisov publicou um artigo denominado "A Fome Americana" (“The American Famine”). O artigo afirmava que mais de 8,5 milhões de estadunidenses haviam morrido de fome durante a Grande Depressão.

8/14
Para chegar ao montante, Boris utilizou a mesma metodologia defendida por Conquest: calculou a diferença entre a tendência da taxa de crescimento demográfica dos Estados Unidos antes da Crise de 1929 e o número efetivo de habitantes que o país tinha no fim dos anos trinta.

9/14
A diferença entre a taxa projetada e o índice efetivo era de 8,5 milhões de habitantes. Como não havia registro de migração compatível com esse número, Borisov alegou que a única explicação plausível para o "sumiço" é a morte em massa de estadunidenses por fome.

10/14
Curiosamente, os mesmos acadêmicos ocidentais, ideólogos e veículos de mídia que tratam as alegações de Robert Conquest como "verdade revelada" consideraram a pesquisa de Borisov como "pseudociência" e "panfletagem política".

11/14
O próprio Borisov, na verdade, afirmou não acreditar nos números que apresentou, que não são compatíveis com as evidências historiográficas conhecidas. Afinal, assim como na Rússia, não há valas, ossadas, evidências materiais que evidenciem que tal fenômeno ocorreu.

12/14
Apesar disso, Boris decidiu publicar a pesquisa para comprovar que a metodologia utilizada por Conquest e outros acadêmicos ocidentais é um mero truque estatístico, sem qualquer confiabilidade científica, que permite, literalmente, criar milhões de mortes do nada.

13/14
A revelação causou um certo frisson nos círculos acadêmicos, mas foi abafada na imprensa ocidental. O artigo da Wikipedia anglófona sobre a pesquisa de Borisov foi deletado.

14/14
Entrevista de Boris Borisov sobre a "fome americana" no Russia Today

Artigo de Boris Borisov sobre a "fome americana" (em inglês).

northstarcompass.org/nsc0903/amholo…

• • •

Missing some Tweet in this thread? You can try to force a refresh
 

Keep Current with Pensar a História

Pensar a História Profile picture

Stay in touch and get notified when new unrolls are available from this author!

Read all threads

This Thread may be Removed Anytime!

PDF

Twitter may remove this content at anytime! Save it as PDF for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video
  1. Follow @ThreadReaderApp to mention us!

  2. From a Twitter thread mention us with a keyword "unroll"
@threadreaderapp unroll

Practice here first or read more on our help page!

More from @historia_pensar

Mar 12
Lápides com nomes de estadunidenses que morreram em decorrência de diabetes não tratada são posicionadas nos jardins do Capitólio de Utah, durante um protesto de pacientes dependentes de insulina. A maioria eram jovens na casa dos 20 anos. Salt Lake City, setembro de 2019.

1/11 Image
A incidência de diabetes na população dos EUA é considerada epidêmica, atingindo 24 milhões de pessoas (8% da população). Desse total, 1,2 milhão são portadores de diabetes tipo 1 - doença crônica autoimune que só pode ser controlada por injeções diárias de insulina.

2/11 Image
Apesar disso, um em cada quatro estadunidenses diagnosticados com diabetes não tem acesso a nenhum tipo de tratamento. Isso porque a lógica do lucro que pauta o sistema de saúde dos EUA obriga os diabéticos a optarem pela ruína financeira ou pela morte.

3/11
Read 14 tweets
Mar 11
A pauta da desnazificação da Ucrânia não é nova. Há anos a Rússia vinha denunciando a fascistização do país e as violações de direitos humanos cometidas por neonazistas ucranianos. Em maio de 2014, a Exame já havia publicado matéria a respeito.
+
exame.com/mundo/russia-c… Image
Em um relatório elaborado em 2014, o governo russo já apontava que neonazistas ucranianos eram os responsáveis pelos assassinatos de manifestantes de Kiev que serviram de justificativa para a derrubada de Viktor Yanukovitch. Também denunciou a influência externa no processo.
+ Image
O ex-presidente ucraniano referendou as acusações sobre a ascensão de um regime neonazista em Kiev. Nessa matéria publicada pelo El Pais em março de 2014, Yanukovitch asseverava que a Ucrânia estava sendo governada por "um grupo de neonazistas".
+
brasil.elpais.com/brasil/2014/03… Image
Read 20 tweets
Mar 10
"A Grande Fome de 1601", gravura oitocentista retratando a crise famélica que devastou a Rússia no começo do século XVII. A cena mostra a população agonizando nas ruas de Moscou enquanto o pão é racionado pelas autoridades.

1/27
A história da Rússia é pontuada por inúmeras crises famélicas. Apesar de seu vasto território, as condições geográficas da Rússia sempre limitaram enormemente as áreas de plantio, submetidas ao clima severo e secas sazonais que castigam as safras.

2/27
A histórica concentração das terras nas mãos de poucos proprietários, o sistema de cultivo em campo aberto e a baixa tecnologia empregada na produção também contribuíam enormemente para a ocorrência periódica de episódios severos de fome no país.

3/27
Read 30 tweets
Mar 10
Um manifestante palestino desfralda a bandeira do Brasil diante de um grupo de soldados israelenses, durante um protesto em Bilin, na Cisjordânia, em 10 de dezembro de 2010. Alguns dias antes, o Brasil havia reconhecido o Estado da Palestina com as fronteiras de 1967.

1/18
A política externa brasileira do governo Lula foi caracterizada por um esforço de diversificação das parcerias internacionais e pelo fortalecimento da cooperação Sul-Sul, visando constituir uma diplomacia "ativa e altiva", conforme definição do chanceler Celso Amorim.

2/18
Impulsionado pelo bom desempenho de sua economia, o Brasil passou a exercer um maior protagonismo internacional, integrando-se a um movimento de atuação mais assertiva das potências emergentes em prol da reforma da ordem internacional,...

3/18
Read 18 tweets
Mar 10
O cientista polonês Albert Sabin e pesquisadores soviéticos trabalham no desenvolvimento da vacina contra a poliomielite, doença viral infecciosa responsável por causar a paralisia infantil. Moscou, União Soviética, c. 1955.

1/23
Com auxílio soviético, Sabin desenvolveu, testou e lançou a vacina oral (gotinha) que permitiu erradicar a pandemia de poliomielite nos anos 60. A doença, limitada a surtos de curta duração no período pré-Revolução Industrial, evoluiu para a escala de pandemia no séc. XX.

2/23
Nos anos 40, a doença se espalhou pelo mundo, causando pavor pela alta taxa de letalidade e efeitos devastadores. A poliomielite matava 10% dos infectados e deixava outros 40% com sequelas irreversíveis. A União Soviética foi atingida pela pandemia em 1949.

3/23
Read 23 tweets
Mar 9
Quase todos os registros fotográficos de membros das forças militares ucranianas são acompanhados de símbolos (neo)nazistas nas fardas e patches. E a imprensa, ao invés de esclarecer o significado desses símbolos, tem ajudado a naturalizá-los e associá-los a valores positivos.

+ ImageImage
O emblema do Batalhão de Azov é o mais recorrente. O Batalhão de Azov é uma organização paramilitar neonazista fundada em 2014, com financiamento e treinamento da CIA, responsável por diversos crimes de guerra e massacres cometidos contra as minorias russas de Donbass.

+ Image
O emblema do Batalhão de Azov consiste em um wolfsangel invertido. Wolfsangel é um símbolo heráldico alemão de inspiração viking que foi adotado como primeiro símbolo do Partido Nazista da Alemanha.

+ Image
Read 23 tweets

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just two indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3/month or $30/year) and get exclusive features!

Become Premium

Don't want to be a Premium member but still want to support us?

Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal

Or Donate anonymously using crypto!

Ethereum

0xfe58350B80634f60Fa6Dc149a72b4DFbc17D341E copy

Bitcoin

3ATGMxNzCUFzxpMCHL5sWSt4DVtS8UqXpi copy

Thank you for your support!

Follow Us on Twitter!

:(