Ainda sob o impacto de 'This is not America', do rapper porto-riquenho @Residente e da dupla franco-cubana @IbeyiOfficial, resolvi fazer um breve - e certamente incompleto - #cordel de referências nesta obra que deveria tocar profundamente qualquer latino-americano. Segue aí. 👇🏽
ALERTA: esse é um cordel com spoilers.
Se ainda não assistiu o clipe, recomendo dar uma pausa aqui na leitura e ir receber o impacto completo de ver o clipe.
Tá aqui o link.
Ah, antes de começarmos, este cordel é apenas um divertimento, não esgota a obra. Não coloquei todas as referências, apenas as que achei pessoalmente mais interessantes. Algumas eu conhecia e outras aprendi agora na internet. Se quiser trazer mais elementos, fique à vontade.
O clipe se inicia citando a obra do chileno Alfredo Jaar, que em 1987 fez uma intervenção em um painel eletrônico na Times Square, explicitando aos gringos o mote de toda a música: os EUA não são sinônimo de “América”.
Na sequência, é lembrada a ação direta liderada pela nacionalista porto-riquenha Lolita Lebrón na Câmara dos Deputados dos EUA em 1954, com os tiros deferidos por ela marcando o início da música.
Residente canta "2Tupac (o rapper estadunidense) se chama 2Tupac por causa de Túpac Amaru do Peru". Túpac Amaru II foi um líder da resistência indígena aos espanhóis e foi executado em praça pública sendo esquartejado por quatro cavalos. A cena do vídeo deixa clara a referência.
As representantes femininas do Exército Zapatista de Libertação Nacional, grupo revolucionário de Chiapas, no México, são referenciadas na cena em que se diz que “o facão não é só pra cortar cana, também é pra cortar cabeças”.
Residente ainda menciona os “falsos positivos” na Colômbia, uma prática de execução sumária de pessoas inocentes como forma de tornar “exitosos” os números de baixas no combate ao narcotráfico. A prática aconteceu por muitos anos, mas se tornou muito comum entre 2006 e 2009.
Enquanto isso, no maior país da América Latina, em uma clara referência a Bolsonaro, o presidente do Brasil almoça carne da pecuária que devasta a Amazônia e limpa a boca na bandeira nacional, em frente a um menino indígena que parece passar fome.
Residente menciona "cinco presidentes em onze dias", referindo-se à crise que ocorreu na Argentina em dezembro de 2001, o 'Argentinazo', quando o caos político e social levou a uma sucessão de presidentes e 39 mortos em protestos.
Nem a Venezuela é poupada, em uma cena em que o um manifestante brande o dedo médio para um batalhão de choque, enquanto outro desfila com o pavilhão venezuelano, provavelmente em referência aos protestos contra Maduro (que continuam a acontecer mesmo hoje).
A cena mais forte de todo o vídeo remete ao assassinato do músico Víctor Jara pela ditadura de Augusto Pinochet, ao mesmo tempo que cita a obra que exalta e critica ao mesmo tempo, “This is America”, de Childish Gambino, pois a letra diz: “Gambino, meu mano, isso sim é América”.
A cena acontece em um estádio de futebol, lembrando o fato de que o Estádio Nacional do Chile foi transformado, no início da ditadura militar de Pinochet em campo de concentração e execução de opositores. Jara foi executado com 40 tiros neste estádio, que agora recebe seu nome.
Outra cena forte em que aparece o Brasil mostra uma imagem dividida no meio, onde um homem negro segura a Copa do Mundo com a mão direita em um estádio de futebol, e com o braço esquerdo ele segura um fuzil em uma favela. A imagem é tão auto eloquente que dispensa explicações.
Quase no fim, uma manifestante envolvida em uma bandeira, remetendo uma foto em uma marcha de protesto contra golpe militar no Chile acontecida em 2016, sopra fumaça (de que?) no rosto de um policial do batalhão de choque.
No vídeo, no refrão da música e até no pingente de Residente há referências ao símbolo do facão (“machete” em castelhano). Trata-se de uma clara homenagem ao Exército Popular Boricua, grupo rebelde que demanda a independência de Porto Rico dentro de uma perspectiva socialista.
Bem, foram apenas algumas referências, e, repito, elas estão longe de se esgotar aqui. Assista ao clipe de novo (recomendo para entender as letras a versão com legendas em português) e, se quiser, traga mais referência nas respostas a este cordel.
Como disse, usei algumas fontes na rede para entender melhor o clipe. Seguem algumas delas, incluíndo o tuíte de @biencatalino (nenhuma em português).
Se quiser uma versão um pouco mais fofa da nossa linda América Latina, mas tão emocionante quanto “This is not America”, veja ou reveja “Latinoamérica”, do Calle 13, do qual também faz parte Residente.
Correção
Conforme apontaram gentilmente @IrlanSimoes, @bananahamockann, @CMoralesR e @Andr6De, a execução de Jara foi no Estádio Chile, menor, e que recebeu seu nome, e não no Estádio Nacional. Ambos foram usados pela ditadura.
Peço desculpas e agradeço pelo toque, pessoal.
O @GuidoAnselmi9 ainda apontou que o local da execução, apesar do nome, é um ginásio e não um estádio. O clipe toma uma certa “licença poética” neste ponto e induz ao erro histórico.
A @Folha precisa tomar cuidado com o jornalismo declaratório, ainda mais ao trazer um artigo de outra mídia. Estou marcando o @folha_ombudsman aqui para que esteja ciente.
A matéria citada saiu no TMZ, um site americano de entretenimento, e a tradução do título é: "Médico da ketamina diz :'Não culpem a ketamina... ainda é um tratamento efetivo'".
"KETAMINE M.D. SAYS DON'T BLAME THE KETAMINE... Still an Effective Treatment" tmz.com/2023/12/19/mat…
Quem me segue sabe que eu combato o sensacionalismo em relação às drogas, especialmente a sua satanização por si mesmas. Para entendermos o uso problemático delas, temos que olhar muito antes para as pessoas do que para as substâncias. Mas também precisamos entender seus riscos.
Oi pessoal, eu gostaria de falar um pouquinho para vocês sobre a morte do ator americano Matthew Perry, o Chandler da série "Friends". Vocês devem ter visto recentemente as informações sobre a causa da morte dele ter sido pelo uso de ketamina.
Antes de continuar, é importante alertar que esse #cordel tem gatilhos relacionados a ansiedade, depressão e uso problemático de drogas.
A ketamina é um anestésico com características psicodélicas dissociativas, cujo nome científico que a gente usa na Medicina é cetamina. Ela vem sendo utilizada de maneira off-label, ou seja, que não está prevista na bula do medicamento, para o tratamento da depressão.
Isso saiu na @Nature no mês passado, mas só vi hoje, e ainda assim eu acho que vale a pena reportar: há uma crise na ciência, e ela afeta a saúde mental dos cientistas. A principal causa, segundo o artigo? A cultura tóxica da carreira. Segue o #cordel aí.
O título do texto é "Há uma crise de saúde mental na ciência - a cultura de pesquisa tóxica é a culpada". O texto informa que pesquisadores relatam altas taxas de ansiedade e depressão, chamando a atenção para a necessidade de mudança antes que seja tarde demais.
Estudantes de pós-graduação e pesquisadores enfrentam diversos desafios, desde baixos salários até assédio e discriminação. Alguns estudos recentes mostram que essas pressões têm impacto direto na saúde mental dos cientistas.
Sobre a tragédia evitável do advogado criminalista que morreu pelo disparo de sua própria arma causado por um aparelho de ressonância magnética, me pergunto: por quê?
Consta que Leandro Mathias de Novaes recebeu e assinou o termo de que informava sobre os riscos do magnetismo.👇🏼
Consta também que ele retirou a munição extra que levava(um pente com trinta balas – e eu também me pergunto pra que ele portava tudo isso de munição) e entregou para a equipe responsável.
Mas, por alguma razão, Leandro decidiu não retirar e entregar sua pistola carregada. 👇🏼
Ao se aproximar do aparelho para falar com sua mãe, que era quem fazia o procedimento, a arma, que estava oculta, foi atraída pelo campo magnético da máquina e bateu no aparelho, onde ficou aderida, mas não sem antes disparar e ferir o advogado, que faleceu 19 dias depois. 👇🏼
Sou um cético fascinado com os fenômenos aéreos não identificados (FANI), o 'rebranding' dos OVNI. Não sei o que são, mas acho que já tá na hora de se estudar o fenômeno a sério. No #cordel, o resumo deste artigo da Scientific American sobre o tema. scientificamerican.com/article/scient…
O artigo discute o aumento recente de interesse governamental nos EUA em estudar fenômenos aéreos não identificados (FANIs, antes chamados de OVNIs). A Agência de Inteligência Nacional dos EUA lançou um relatório não classificado sobre FANIs para o Congresso em 12 de janeiro.
Futuros relatórios serão apresentados anualmente. Além disso, a NASA criou uma equipe de estudo de 16 membros para melhorar o entendimento científico sobre os FANIs. Há também uma ampla variedade de esforços privados de pesquisa.
Já foi aprovado prescrever MDMA e psilocibina na Austrália!
Essa novidade pegou desprevenida a comunidade psicodélica mundial. A Austrália será o primeiro lugar do mundo em que a prescrição terapêutica destes dois psicodélicos será legal.
Em uma decisão inovadora e fora do radar para os estudiosos, a Therapeutic Goods Administration (TGA), o equivalente australiano da ANVISA, autorizará a prescrição do psicodélicos psilocibina e do entactógeno MDMA para fins terapêuticos, por psiquiatras. tga.gov.au/news/media-rel…
A partir de 1º de julho de 2023, medicamentos que contêm as duas substâncias poderão ser prescritos por psiquiatras autorizados. As prescrições terão que sere direcionadas especificamente para o tratamento de dois transtornos mentais.