Mellanie F. Dutra Profile picture
Biomédica, Neurocientista/Bioquímica, Pesquisadora, Professora e TEDx Speaker | Saúde e Ciências | Ela/Dela | 🇧🇷 | #DefendaoSUS

Aug 24, 2021, 34 tweets

Um brilhante fio de @sailorrooscout discutindo sobre células B de memória induzidas por vacina de RNA, que continuam a aumentar em frequência pelo menos (mas não somente) por 6 meses, MESMO com a queda de anticorpos circulantes!

Acompanhe 🧶👇

Antes de tudo: @sailorrooscout com certeza é meu perfil favorito de fora do país para acompanhar a pandemia e as vacinas. Sigam esse perfil, é super tranquilo usar a ferramenta de tradução do twitter!

Thanks a lot for all your efforts @sailorrooscout ♥️

O estudo foi publicado ontem (23/08/21) na forma de preprint no @biorxivpreprint e pode ser acessado pelo link: biorxiv.org/content/10.110…

Em outro fio, tinha comentado um pouco do papel de células na formação da resposta celular, e comentei que a queda de anticorpos circulantes é algo ✨esperado✨ e, graças a presença de células de memória, uma nova onda pode ser produzida se necessário

Aqui comento o papel das células T:

E também das células B:

Num artigo da @Nature observando a presença da resposta em pessoas recuperadas de COVID-19, observou-se que 7 meses após o início dos sintomas, as células de memória estavam presentes, estáveis e reconhecendo o SARS-CoV-2

É importante destacar que, mesmo recuperados, essas pessoas com histórico de COVID-19 precisam se vacinar. As vacinas fornecem uma imunidade mais abrangente (contra diversas variantes) e reforçará ainda mais essa proteção, tornando-a robusta e duradoura

No preprint, os autores analisaram:
🔹 anticorpos neutralizantes e de ligação
🔹células B de memória
🔹células T CD4 + e CD8 + de memória
Durante 6 meses após a vacinação por vacina de mRNA conforme a imagem ilustrativa abaixo:

Como já se sabe, vacinas de RNA geram uma resposta significativa de anticorpos contra a proteína Spike e contra o RBD, elemento importante para a interação do vírus com moléculas das nossas células. Essas respostas foram altas em pessoas com e sem histórico de COVID-19

Observa-se na figura acima que esses níveis de AC circulantes vão diminuindo com o tempo, o que é completamente esperado. Não significa perda de proteção. Na presença de células de memória, uma nova onda de AC pode ser formada se o organismo precisar dessa defesa

Esses níveis de AC circulantes, e seu esperado decaimento, tem uma dinâmica diferente se observamos frente a variantes como a B.1 e a B.1.351 (#Beta). Mas recai no mencionado acima: esse declínio é esperado, e não indica perda de proteção

Mesmo observando este declínio, as amostras dos participantes tinham AC acima do limite de detecção, mesmo após 6 meses da vacinação. Lembrando que 6 meses não é um prazo máximo. É o tempo que o artigo analisou. Ou seja, é pelo menos (mas não somente) 6 meses!

Análise das células de memória: um aumento contínuo na frequência de células B de memória contra a Spike e o RBD foi observado de 3-6 meses após a vacinação, com níveis estáveis em 6 meses após a 💉 tanto no grupo com, quanto no sem histórico de infecção passada por SARS-CoV-2.

Também se estudou características dessas células B geradas. Uma que chamou a atenção, mostrada na fig. F, é a transição que é observada, para uma população de células B de memória maduras em repouso. Aquelas vigilantes, altamente especializadas, esperando para nos defender 🛡️

De uma forma geral, esses dados demonstram que as vacinas de mRNA induzem uma população de células B de memória que são duráveis por pelo menos 6 meses após a 💉e que são capazes de produzir rapidamente anticorpos funcionais contra SARS-CoV-2 se estimuladas!

Análise das células de memória em relação às #VOC: os autores também investigaram essas dinâmicas considerando as variantes de preocupação (VOC):
🔹#Alfa (B.1.1.7)
🔹#Beta (B.1.351)
🔹#Gama (B.1.617.2)

Os autores observaram que células B de memória específicas para as regiões NTD, RBD e S2 (componentes da Spike) do SARS-CoV-2 são geradas e permanecem estáveis após 6 meses da 💉

De uma forma geral, os dados indicam memória robusta de células B para vários componentes da proteína Spike, bem como #VOCs atualmente circulantes. Essa resposta continua a evoluir e aumentar em frequência ao longo do tempo

O artigo tem uma parte incrível falando da hipermutação somática, bem como dos clones de células B gerados nessa resposta. Em termos gerais, a hipermutação somática é um mecanismo de mutação das células que faz com que o sistema imunológico se adapte a novos elementos invasores

Isso permite que nossas células consigam gerar anticorpos específicos contra qualquer invasor que elas forem apresentadas ao longo de toda a nossa vida. Imaginem quantos desafios imunológicos passamos?! É um mecanismo incrível de adaptação

De uma forma extremamente geral, os dados indicam que a evolução e seleção contínuas desses clones celulares poderiam, portanto, facilitar a proteção cruzada contra diferentes #VOCs. Trabalhos futuros precisam ser feitos para caracterizarmos isso em diferentes contextos

Ainda, em relação às células T, os dados mostram que o componente durável (visto após 6 meses) é largamente constituído de células Th1, uma importante resposta contra agentes infecciosos intracelulares, como vírus

Para entender mais sobre resposta Th1:
biomedicinapadrao.com.br/2010/10/linfoc…

Resumidamente, o artigo adicionou dados quanto as principais relações temporais entre os diferentes componentes da resposta imune humana que estão associados à memória imune de longo prazo após a vacinação de mRNA.

Em resumo, esses estudos demonstram que as vacinas de mRNA induzem uma memória imune durável para o SARS-CoV-2 que continua a evoluir ao longo do tempo. O artigo investigou o período de 6 meses, mas essa resposta pode perdurar por mais tempo.

O declínio dos títulos de anticorpos ao longo do tempo provavelmente reduz o potencial de evitar a infecção. Mas a durabilidade da imunidade celular contribui para respostas rápidas que podem limitar a replicação viral inicial e a disseminação pelo corpo, evitando doenças graves

Ainda, o artigo destaca o benefício da vacinação em indivíduos previamente expostos ao vírus (recuperados), mostrando respostas maiores para alguns componentes. Portanto, pessoas recuperadas DEVEM se vacinar!

Ainda, os autores sugerem, a partir dos dados, que doses adicionais da vacina poderão ajudar nessa questão dos anticorpos circulantes, pois a presença das células de memória seria durável, mesmo com a queda esperada dos AC circulantes

Portanto, essa revacinação pode ajudar a manter uma proteção mais prolongada contra a infecção, com o indivíduo tendo uma proteção contra formas graves da doença já presente induzido pelo regime completo da vacina. Isso é importante no contexto de pessoas mais vulneráveis

Como mencionei nesse fio aqui, é possível que algumas populações precisem de uma 3ª dose, como idosos e pessoas com imunocomprometimento/imunossupressão. Mas existem muitos pontos dentro dessa discussão:

Será importante examinar se existem dinâmicas semelhantes após outros tipos de reforço imunológico, incluindo regimes de reforço de vacinas homólogas e heterólogas.

@sailorrooscout respondeu, no seu fio, algumas perguntas com o "e para a AZ? Janssen? Novavax?": provavelmente uma dinâmica similar é vista. No caso de vacinas de vírus inativado, sabemos que existe resposta celular, mas precisamos de mais dados ao longo do tempo

E termino o fio com a brilhante quote de @sailorrooscout : não é somente só sobre anticorpos (a proteção)!

Fio completo para apreciação:

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