Assistindo à novela #OTempoNãoPara, em que alguns paulistanos foram congelados em 1886 e acordaram na São Paulo de 2018, fiquei imaginando o que o personagem Dom Sabino reconheceria da "sua" São Paulo. Dica: não seria muita coisa.
Em 1886, ainda não existiam marcos da São Paulo atual, como o Viaduto do Chá (mesmo o antigo) e a Avenida Paulista. O Pátio do Colégio, que já existia, era composto por outros prédios, derrubados há muito tempo. Mesmo o Rio Tietê foi retificado e ficou MUITO diferente.
A Catedral também ficava em outro prédio, BEM distinto do atual, inclusive em um local diferente da praça. o Edifício Sampaio Moreira, o "arranha-céu" mais antigo da cidade, ainda não estava nem nos planos em 1886.
Mesmo as estações de trem da época foram substituídas por prédios novos. A Estação da Luz de 1886 era totalmente diferente da de 2018. Da mesma maneira, a estação da Sorocabana que ele conheceu não existe mais — a Estação Júlio Prestes é a substituta de sua substituta.
Sobrou muito pouca coisa da São Paulo de 1886 em 2018. Na verdade, já na segunda metade do século 20 muito pouca coisa de 1886 tinha sobrado. E o que sobrou?
Temos a Igreja Santo Antônio, na Praça do Patriarca, mas talvez Dom Sabino não a reconhecesse, pois a fachada foi modificada a partir de 1899, devido a um incêndio em 1891 e do alinhamento da Rua Direita. Talvez ele reconhecesse o interior da igreja, ou parte dele. 
Fotos: Dornicke/Wikipédia e The Photographer/Wikipédia.
Temos também o Cemitério da Consolação. Embora ele tenha crescido muito de 1886 para cá, se Dom Sabino o conhecia em 1886, talvez reconhecesse alguma coisa lá. Foto: Dornicke/Wikipédia.
Temos ainda a Igreja do Carmo, cujo prédio foi erguido em meados do século 18, ampliado poucas décadas depois e parcialmente reconstruído em 1929. Foto: Dornicke/Wikipédia.
O Presídio Tiradentes, de 1852, já não existe mais, mas seu portal ainda está de pé na avenida homônima. Foto: FranciscoW/Wikipédia.
O Hospício dos Alienados (mais tarde o Quartel do Segundo Batalhão de Guardas), no Parque Dom Pedro, também poderia ser reconhecido por Dom Sabino, apesar do péssimo estado de conservação atual. Foto: Ricardo Guimarães de Siqueira/Wikipédia.
Por incrível que pareça, Dom Sabino reconheceria o Pátio do Colégio, apesar de este ter sido reconstruído já no século 20: os prédios novos foram inspirados nos antigos e são muito parecidos com eles. Talvez parecesse mais familiar que outros pontos "originais".
Na verdade, um dos prédios atuais não foi inspirado no que estava de pé em 1886, porque em 1881 ele sofreu profundas modificações, mas o prédio anterior a esse era muito parecido com o atual. Foto: Militão Augusto de Azevedo/Arquivo Histórico Municipal de São Paulo.
Temos ainda o Solar da Marquesa de Santos, que em 1886 era usado como Palácio Episcopal.
Algumas casas do Centro Velho — e talvez até em regiões mais afastadas — possivelmente já estavam de pé em 1886, mas provavelmente não eram imponentes a ponto de Dom Sabino reconhecer.
Da mesma maneira, as casas bandeiristas do Itaim (no caso desta, suas ruínas), do Butantã e do Tatuapé, entre outras, provavelmente nunca foram vistas por alguém como Dom Sabino no século 19.
Vale destacar que o prédio onde fica, na novela, a empresa Criotec fica no terreno da casa bandeirista do Itaim. As ruínas da casa e uma réplica dela ficam ali. Foto: Carolina Iskandarian/G1.
Vale a pena conferir estas fotos do G1: g1.globo.com/sao-paulo/foto…
Deve haver outros lugares em 2018 que já estavam de pé em 1886, mas não muitos. O fato é que São Paulo nunca foi uma cidade que preservou sua memória. Se até a memória mais recente, do século 20, tem sido constantemente destruída, imagine a do século 19.
Faltou mencionar a Capela dos Aflitos, na Liberdade, de 1774. www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018…
