Copa Conmebol, Supercopa, Recopa Intercontinental... Copa Iberoamericana? Que diabos? Pois é: a Conmebol tem, atualmente, ONZE competições DEFUNTAS que considera como títulos oficiais em seus registros. Nesta nova THREAD DO RECESSO, recuperamos a história desses torneios extintos
Começamos nos anos 60. Após a criação da Libertadores, para fazer uma final do mundo contra o melhor time da Europa, a Conmebol decidiu dar um passo além: e se nós pegássemos os times que já venceram essa final e fizéssemos jogar entre si? Era a ideia da RECOPA INTERCONTINENTAL
Essa “supercopa” de velhos campeões do mundo não contou com grande entusiasmo europeu. Havia só dois times de lá aptos a entrar no torneio quando ele foi criado, em 1968, e o Real Madrid não quis jogar – deixando a Internazionale sozinha e pré-classificada à final.
Do outro lado veio o Santos, que superou Peñarol e Racing. O Peixe fez 1x0 em Milão e levou a taça. Em 1969, o segundo e último torneio só contou com sudacas mesmo. Em turno e returno, o Peñarol foi campeão num quadrangular envolvendo Racing, Santos e o novo campeão Estudiantes.
No início dos anos 70, a Conmebol deu-se conta que precisava ter um segundo torneio no continente. A Libertadores já era um sucesso (menos no Brasil), mas a Europa tinha uma competição secundária e nós não: para imitá-los, surgiu a RECOPA SUL-AMERICANA, sem relação com a atual.
Essa Recopa de 1970 era, na realidade, uma Copa de Ganhadores de Copa, no mesmo modelo da Recopa Europeia: a ideia era reunir vencedores de copas nacionais da América do Sul – como a maioria dos países NEM TINHA copas, precisaram criá-las para o torneio sair.
Foi uma competição peculiar pois contou com muitos times “menores” que não costumavam ganhar campeonatos nacionais e, assim, não frequentavam a Libertadores: a Argentina mandou o Atlanta, o Paraguai mandou o Libertad, o Uruguai mandou o Rampla Juniors. Brasil e Colômbia nem foram
Disputada em dois grupos de sede única (em Quito e La Paz), seguida por uma final entre o melhor de cada chave, a Recopa tornou-se histórica por seu campeão: o MARISCAL SANTA CRUZ, da Bolívia, que nem existe mais, ainda é o único time de seu país com uma taça oficial da Conmebol.
O torneio não deu muito certo e a Conmebol só realizou a primeira edição. Em 71 alguns clubes do continente se organizaram para disputá-la pela segunda vez, mas em caráter amistoso. A segunda Recopa, que não é reconhecida pela Conmebol, foi vencida pelo América de Quito.
Um torneio desse período que teve um pouco mais de sucesso foi a COPA INTERAMERICANA, um duelo entre o vencedor da Libertadores e o campeão da Concacaf – “um pouco mais” de sucesso porque, em várias ocasiões, os campeões daqui nem quiseram jogar a partida, mas às vezes ela saía.
O curioso é que a Interamericana surgiu querendo ser uma semifinal do Mundial, um duelo das Américas antes de pegar os europeus. Mas o desnível era tanto que a ideia não foi adiante. Jogo virou só uma chance extra de engordar as vitrines. Só 4 das 18 taças foram parar na Concacaf
Com muitas interrupções e desistências, a Interamericana foi disputada de forma intermitente entre 1968 e 1998 mas, em 31 temporadas, só teve 18 edições. Era comum que o vice-campeão da Libertadores fosse enviado, especialmente quando um brasileiro devia jogá-la.
Foi assim que a Universidad Católica venceu a edição de 94, substituindo o São Paulo (em final válida por 93), e o Atlético Nacional ganhou em 1997, substituindo o Grêmio (final de 95). O único brasileiro a jogá-la foi o Vasco, na edição final em 98. Perdeu pro DC United.
Há uma lenda na internet de que o Grêmio jogou em 83, mas o jogo não era a Interamericana: era para ser, mas a Concacaf não apurou seu campeão a tempo (o vencedor de 83 só saiu em 84). A partida virou uma taça amistosa contra um convidado (o América-MEX), a Copa Los Angeles.
Em fins dos anos 80, a Conmebol voltou a buscar uma copa secundária para o continente, e resolveu retomar a ideia da velha Recopa Intercontinental, mas pensando só internamente: em 88, veio a SUPERCOPA SUL-AMERICANA, reunindo os clubes que já haviam sido campeões da Libertadores.
Oficialmente chamada de Supercopa João Havelange, ela congregava os clubes que já haviam vencido a Libertadores (e, mais tarde, também o Vasco da Gama por haver sido campeão do Sul-Americano de 48 – mais sobre isso posteriormente neste mesmo fio).
A Supercopa também levava a uma nova Recopa Sul-Americana, diante do campeão da Libertadores daquela temporada (ou seja, uma "supercopa" que não podia ser chamada assim porque já tinha outra). A Recopa, ao contrário da Supercopa, ainda existe – hoje é Libertadores x Sul-Americana
Foi o torneio secundário mais imediatamente bem-sucedido que a Conmebol já teve, persistindo por dez edições (1988-97, até o surgimento da Mercosul) e distribuindo títulos para Boca Juniors, Cruzeiro, Olimpia, Racing, River Plate, São Paulo e Vélez Sarsfield.
Alguns anos depois da Supercopa, apareceu a COPA CONMEBOL em 1992. Inspirada na Copa da UEFA, tinha participantes que, no papel, inicialmente eram até mais fortes que os da atual Sul-Americana: nas primeiras edições, por exemplo, o vice brasileiro ia à Copa Conmebol.
O torneio, porém, acabou desvalorizado pela própria Conmebol: a Supercopa, mais antiga e reunindo equipes de “mais camisa” (independentemente do momento), aparecia como a segunda competição de fato, até porque dava vaga à Recopa enquanto a Conmebol não levava a nada.
Aliás, a Copa Conmebol até levou à Recopa uma única vez: foi em 1993, quando o São Paulo ganhou a Libertadores e a Supercopa e o Botafogo foi convidado para suprir a falta de adversário na final de 1994.
Ainda assim, nos primeiros anos o torneio fez algum barulho, com finais como Galo x Olimpia (92), Botafogo x Peñarol (93), São Paulo x Peñarol (94), Rosario Central x Galo (95), e assim por diante. Foi só em seu ano final que a Copa Conmebol se desmoralizou por completo.
Em 1999, a Supercopa deixou de existir. A Conmebol, em vez de aproveitar para ampliar a sua competição já existente, decidiu colocar os times mais tradicionais nas recém-criadas Mercosul e Merconorte, gerando uma farra de distribuições sem critério para as vagas da Copa Conmebol.
No Brasil, as vagas foram para campeões ou vices dos torneios regionais (daí a presença de equipes fora da Série A, como o CSA, que seria vice-campeão, ou do São Raimundo-AM). Em outros países não foi melhor. O Talleres, que venceu a edição derradeira, havia sido 16º na Argentina
Os anos 90 foram pródigos em torneios caça-níquel. Sedenta por grana, a Conmebol ainda criou outras COPAS ANEXAS para os quais ninguém dava muita atenção, mas que hoje contam como títulos oficiais nas listagens da confederação: dois dos mais aleatórios foram as COPAS MASTER.
Elas nada mais eram do que inceptions de Supercopa. Havia a Copa Master da Supercopa, disputada por quem já havia vencido a Supercopa, e também houve uma Copa Master da Conmebol, jogada pelos que já haviam erguido a Copa Conmebol...
Foram dois torneios de vida curta. A Master da Supercopa teve duas edições (Boca ganhou em 92 e o Cruzeiro em 95, em dois jogos contra o Olimpia – ninguém mais quis jogar) e a Master da Conmebol, que teve uma edição (em 96, vencida pelo São Paulo).
Outro torneio nesse estilo de “reunir vários campeões mas que ninguém via” foi a COPA DE ORO NICOLÁS LEOZ, que busava reunir os vencedores dos diversos torneios existentes – na edição de 93 entravam os campeões de 92 da Libertadores, Conmebol, Supercopa e Master da Supercopa...
A Copa de Oro, que nem sempre reuniu todos os campeões (em 95 só dois times entraram; em 96 foram vários vices porque os campeões tinham mais o que fazer), teve três edições: o Boca ganhou em 93, o Cruzeiro levou em 95 e o Flamengo ergueu o caneco em 96.
Na sanha dos caça-níqueis da Conmebol nos anos 90, houve ainda uma obscura COPA IBEROAMERICANA, que até hoje é o único torneio oficial da confederação que jamais foi vencido por um clube do continente.
A razão é simples: teve apenas uma edição, vencida pelo adversário, que era de fora. Jogada em 94, a Iberoamericana opôs o campeão da Copa do Rei da Espanha 92/93 (Real Madrid) e o vencedor da Copa de Oro 93 (Boca). Em ida e volta, Real fez 3x1 lá e levou 2x1 cá, e foi campeão.
As últimas competições extintas da Conmebol, antes de entrarmos no estado atual das coisas, foram as Copas MERCOSUL e MERCONORTE. A Mercosul dispensa apresentações. Grande sucesso no Brasil, ocupava o calendário do fim do ano com a possibilidade de uma taça internacional.
A Mercosul era também a “prima rica” das disputas, reunindo os países com historicamente mais peso na Libertadores e, portanto, camisetas mais conhecidas: Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai jogavam a competição, que existiu entre 98 e 2001.
O Brasil dominou o torneio, fazendo sete dos oito finalistas e vencendo três dos quatro títulos: Palmeiras/98, Flamengo/99, Vasco/2000 (em final que nos deu a VIRADA DO SÉCULO)... o único que foi para outro lugar é o de 2001, vencido pelo San Lorenzo, nos penais, diante do Fla.
Bem menos conhecida por aqui é a Copa Merconorte, equivalente à Mercosul e disputada na mesma época, mas pelos países renegados: Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, além de convidados de EUA, México e Costa Rica.
Não havia um bloco econômico chamado MERCONORTE, e o nome era para deixar claro sua contrapartida à Mercosul. Assim como os brasileiros dominaram no sul, a Colômbia mandou no norte: venceu as 4 edições (Atlético Nacional em 98/00, América de Cali em 99 e Millonarios em 01).
De todo modo, Mercosul e Merconorte foram extintas com a criação da Copa Sul-Americana em 2002, que reunificou tudo. Para a Conmebol, a Sul-Americana é “sucessora” delas, e também da Supercopa e da Copa Conmebol, no posto de “segundo torneio em importância” no continente...
... oficialmente, são títulos equivalentes, mas por torneios diferentes. O que é um caso análogo ao que acontece com um torneio mais antigo que todos estes, que os vascaínos devem estar estranhando não ter sido citado até agora: o Sul-Americano de Campeões de 1948.
O Sul-Americano de 1948, torneio pioneiro a reunir campeões nacionais da América do Sul, está numa situação única: não foi organizado formalmente pela Conmebol (e sim pelo Colo-Colo), mas contou com aval do seu presidente da época, o chileno Luis Valenzuela.
A competição pioneira de 48 foi disputada inteiramente em Santiago do Chile e reuniu os campeões argentino, chileno e uruguaio, além dos campeões das cidades consideradas mais importantes do Equador (Emelec, por Guayaquil) e Brasil (Vasco, pelo Rio), mais o vice do Peru.
Não coube, mas também estava o campeão de La Paz.
Jogado em pontos corridos, o HEPTAGONAL foi conquistado de forma invicta pelo Vasco. O vice foi o River de Di Stéfano. Em 1997, antes de o Vasco ganhar uma Libertadores, a Conmebol permitiu que o clube jogasse a Supercopa Sul-Americana, reconhecendo a equivalência dos títulos.
Hoje, aos olhos da Conmebol, o Vasco está em uma situação única de possuir oficialmente uma Libertadores (1998), mas ser considerado bicampeão sul-americano, graças ao título de 1948. Nenhum outro clube tem títulos sul-americanos de "primeira linha" que não sejam a Libertadores.
Além dos torneios extintos, as taças que a Conmebol também considera oficiais são aquelas que seguem em disputa: Libertadores, Sul-Americana, Recopa, a Copa Intercontinental/Mundial de Clubes, além da Copa Suruga.
Cada vez que um REY DE COPAS lista dezenas de conquistas internacionais oficiais, absolutamente qualquer torneio listado nessa thread, por menor que seja, entra na contagem. Todos eles são considerados pela Conmebol.

(fim)
Leia também a outra thread do recesso:

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🇨🇱 0-1-0-0
🇨🇴 0-1-0-0
🇪🇨 2-0-2-3
🇵🇾 1-2-3-2
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