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#60Jogos60Copas: 60 partidas históricas da Libertadores em seus 60 anos. Hoje, o maior Superclássico argentino da história da Copa… antes de 2018. Voltamos a 2004, às semifinais entre os velhos rivais. Confrontos que tiveram galináceos, unhadas e um desfecho então usual.
O #60Jogos60Copas vem recuperando, desde 2019, 60 jogos memoráveis e simbólicos da história da Libertadores (que não foram finais, tirando uma exceção). A série se aproxima do fim, mas você pode conferir os 54 jogos anteriores aqui
Agora, que o River Plate de Marcelo Gallardo não só parece ganhar de tudo como também derrota o Boca em TODOS os jogos transcendentais entre eles, talvez seja difícil para os mais jovens visualizarem a situação, mas no início do século a situação era bem diferente.
Em 2004, época desse confronto, o Boca Juniors vinha de vencer 3 das últimas 4 Libertadores, estava a caminho de um bi na Sula (no próprio 2004 e em 2005) e ainda arremataria a década com outro título de Libertadores em 2007. Era, ademais, o atual campeão da América e do Mundo.
O River, por outro lado, passado o esplendor dos anos 90 (quando ergueu a Copa em 96), vinha minguando. Já não retornou à final continental e nem na Sul-Americana era capaz de sorrir: em 2003, levou uma zebra histórica ao ser vice para o brioso CIENCIANO.
De fato, o River Plate vivia anos de tão pouco brilho internacional que estava a apenas dois anos de distância de perder para o Paulista de Jundiaí em uma dessas inacreditáveis jornadas copeiras dos anos 00.
Assim, se hoje um encontro entre Boca e River na Libertadores vê os xeneizes desesperados para tentar revirar os ventos da história, naquele 2004 a situação era totalmente inversa. Era o River Plate que tentava pôr fim a um rival praticamente INSUPERÁVEL.
Após serem ponteiros de seus respectivos grupos, Boca e River tiveram um par de mata-matas em que cada um passou com sobras em um confronto e sofreu terrivelmente no outro.
No caso do River, o sofrimento veio nas oitavas: após derrotar o Santos Laguna no México, os millonarios caíram em Núñez e tiveram que recorrer aos pênaltis para fazer o trâmite.
Mas, nas quartas, a classificação foi mais tranquila: vitórias por 1x0 e 3x1 contra o Deportivo Cali, sem dor nem desespero.
Para o Boca, foi o inverso. O time de Carlos Bianchi venceu os dois jogos das oitavas, contra o Sporting Cristal…
… mas sofreu que nem um condenado contra o improvável SÃO CAETANO, o time que jamais caiu na fase de grupos da Libertadores nem foi eliminado no tempo normal de um mata-mata, sempre levando seus eventuais ELIMINADORES até os pênaltis.
Como, aliás, aconteceu em 2004 com o Azulão: 0x0 em casa, 1x1 fora, e o triunfo do Boca (que sempre triunfava contra brasileiros naqueles tempos) só veio desde a marca da cal contra os vice-campeões sul-americanos de dois anos antes.
Com Boca e River superando os dois primeiros mata-matas, a tabela determinou um encontro entre eles nas semifinais. E que senhor encontro: tratava-se, naquele momento, do provável maior Superclássico da história (até ali) em jornadas de Libertadores.
Pois vejamos: os dois já haviam se encontrado anteriormente em Libertadores, inclusive em fase semifinal, mas não havia sido em mata-mata direto. Em 78, foi num triangular que o Boca avançou sobre o River… mas também sobre o Atlético Mineiro.
Em 2000, aí sim num mata-mata direto (novamente vencido pelo Boca), o jogo aconteceu em uma fase anterior - as quartas. Após levarem 2x1 na ida, os xeneizes patrolaram na volta.
Mas 2004 tinha a soma desses dois encontros: era um mata-mata direta E TAMBÉM valia vaga na grande final da Libertadores.
Mais do que isso: como a volta da outra semifinal aconteceu na véspera da volta do Superclássico e, nela, o Once Caldas chocou o continente ao tirar o São Paulo, muita gente achou que do Boca x River sairia o campeão. “Final antecipada”, argumentavam.
(Hoje sabemos da ingenuidade dessa "final antecipada", mas era muito difícil imaginar que o raio cairia três vezes no mesmo lugar, após o Once tirar Santos e São Paulo. Ainda mais se do outro lado viesse o Boca, o grande papa-títulos de seu tempo, que havia largado na frente)
Porque, nessa noite, o Boca já entrava candidatíssimo à decisão. Antes da lendária volta no Monumental de Núñez, havia construído sua vantagem na Bombonera. Em 10 de junho de 2004, Schiavi fez o gol que valeu o 1x0 da ida.
O jogo de ida, porém, é muito mais lembrado pelo ARRANCA-RABO que provoca a expulsão de Marcelo Gallardo (o próprio) e Cascini, com direito a Gallardo ARRANHANDO O ROSTO do goleiro Abbondanzieri.
Um momento que deixava clara a alta voltagem que aguardava a todos para o jogo de volta, a “definição do campeão” (que nunca foi) marcada para o Monumental de Núñez. O River precisando tirar uma virada do fundo da alma para mostrar que a ERA SOMBRIA poderia ver um fim iminente.
Assim, na noite de 17 de junho de 2004, mais de 65 mil pessoas foram ao Monumental sonhando com o momento que o River buscaria reviver os felizes anos 90.
O River fardou naquela noite com Germán Lux, Husaín, Horacio Ameli, Nasuti, Ricardo Rojas, Mascherano, Lucho González, Coudet, Maxi López, Montenegro e Cavenaghi.
Já o Boca de Bianchi foi de Abbondanzieri, Perea, Schiavi, Burdisso, Clemente Rodríguez, Villarreal, Ledesma, Fabián Vargas, Cagna, Guillermo Barros Schelotto e Carlos Tévez.
Assim como o River no jogo de volta das semifinais de 2019, quinze anos antes foi o Boca quem atuou de visitante e entrou em campo para jogar com o resultado favorável: a ideia de Bianchi era defender e, no primeiro tempo, o 0x0 se manteve.
Mas a estratégia começou a ir para o espaço quando Vargas, com apenas 20 segundos da etapa final, desesperou-se com uma arrancada de Lucho González, levou o segundo amarelo e foi expulso.
(a recomendação de sempre: o vídeo pode até ser o mesmo, mas em cada tweet estará marcado no tempo do lance que se comenta)
A inferioridade numérica boquense teve impacto imediato: logo aos 6 minutos, o mesmo Lucho González que arranjou a expulsão trouxe a bola desde o meio-campo e bateu de fora da área para fazer 1x0, empatando o agregado.
Com um a mais, o placar já levando no mínimo aos pênaltis e o Monumental de Núñez em chamas, o River via o jogo a seu favor. O Boca cada vez mais buscou segurar, e os millonarios tentaram ir para cima: Marcelo Salas entrou no lugar de Mascherano.
A substituição ousada, porém, mais ajudou a desmontar o meio-campo do River do que a levar ainda mais perigo, e o Boca conseguiu administrar o 1x0 longamente naquele segundo tempo.
Até que, aos 39 minutos, o River deu uma de River do início dos anos 00: com tudo a seu favor, foi lá e teve um expulso por bobagem. Sambueza caiu numa provocação de Schelotto, reclamou, e viu o vermelho.
Subitamente, o que parecia lindo e maravilhoso para o River começou a ganhar contornos de velha história em que tudo iria para o brejo novamente. E, se estava ficando ruim, piorou demais aos 44 do 2º tempo: Tévez fez 1x1.
… e, fazendo referência ao apelido pejorativo que o River recebeu em 1966 por entregar uma final “ganha” de Libertadores para o Peñarol, saiu-se com uma inesquecível comemoração provocativa: imitando GALLINA.
Tévez, é claro, também viu o cartão vermelho naquela noite após o gracejo. Mas tudo valia a pena: o Boca ainda era o Boca, o River ainda era uma galinha, os xeneizes eram finalistas de novo e provavelmente campeões uma vez mais.
Mas espere! Aquela foi a última Libertadores antes da adoção do gol qualificado e, embora o empate de Carlitos tenha vindo bem tarde, ainda havia jogo pela frente. Ao River bastava um gol para voltar a ter os pênaltis como possibilidade.
Jogo suficiente para o gol sair. Aos 48 minutos do 2º tempo, o Once Caldas voltou a ficar sem saber quem seria seu adversário, porque um lance de bola parada pegou a defesa do Boca mal parada e deixou Nasuti sozinho para anotar o 2x1.
Pênaltis, pois.
Os pênaltis deram uma sobrevida ao River, mais ainda pela forma agônica como o gol veio, mas ainda eram uma perspectiva pouco animadora: aquele era um Boca que empilhou títulos sendo FRIO E CALCULISTA na marca fatal.
O Boca de Bianchi, multicampeão, deveu muitas dessas conquistas à precisão desde os onze metros: as finais da Libertadores de 2000 e 2001 e do Mundial de 2003, além de incontáveis outros mata-matas (inclusive o da fase anterior, contra o São Caetano) foram vencidos assim.
E, contra o River, a história de precisão se manteve. O Boca acertou todos. O River, quase: na quinta série de cobranças, Maxi López bateu no canto esquerdo e Abbondanzieri pegou.
"La concha de tu madre"
Na cobrança seguinte, por fim, Villarreal pôs os números definitivos à noite, dando ao Boca a vitória por 5x4 com uma patada firme quase no meio.
O Boca seguia para mais uma final de Libertadores, onde era favoritaço. O River ainda aguentaria muitos anos como coadjuvante continental, até Marcelo Gallardo, agora como treinador, reviver os millonarios dez anos mais tarde (e que ressurreição seria esta).
Com o tempo, aquele Boca x River acabou diminuindo um pouco (mas não muito) pelos fatos que vieram depois. Afinal, hoje sabemos que acabaria havendo um Superclássico muito maior em 2018… e, mesmo em 2019, os dois se encontrariam em outra semifinal direta.
No próprio 2004, o êxtase da classificação do Boca acabou sendo contido porque a final viu o Once Caldas aprontar novamente.
E, ironicamente, o Boca tão bom nos pênaltis viveu sua noite mais infeliz atirando: seria vice ao levar DOIS A ZERO nos penais na decisão.
Ainda assim, a sequência da década seguiu vendo o Boca empilhando taças internacionais. Deu até para se vingar do Once Caldas: como o Boca venceu a Sula ainda em 2004 (na época, dava para jogar ambas), pôde dar o troco na Recopa 2005.
Mas isso tudo, é claro, outras histórias para outros momentos. O #60Jogos60Copas desta TERÇA GORDA fica por aqui.
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