1) Parece que o Itamaraty vai consolidando o núcleo-duro da Nova Era: a diplomata Gilsandra Clark está cotada para o alto escalão do ministério. Ela acaba de publicar um texto no @DiariodoPoder rasgando elogios ao chanceler @ernestofaraujo.
2) Trata-se de uma homenagem ao senso comum- que, segundo ela, triunfou nas urnas.
"O senso comum (...) parece ser mais resistente às intempéries do que o próprio conceito de verdade (...). Vive-se um período de surgimento de novas atualidades, potencialmente construídas..."
3) "...de modo igualitário pelos muitos agentes responsáveis por criar informação(...)ou seja, qq pessoa c/acesso à internet(...). Ñ resta alternativa senão aprender a conviver com 1 verdade que ñ mais será necessariamente formatada pelas chamadas elites intelectuais/culturais."
4) "E foi o senso comum q elegeu Bolsonaro, q apoia Sérgio Moro(...), q quer poder sair de casa s/a expectativa de ser assaltado ou assassinado, q sabe que o 🇧🇷 é seu lar, e que não há maior tristeza do q a persistente miséria em país q teria todas as condições de ser próspero."
5) "O senso comum e a verdade objetiva dizem que se faz necessário um Ministro corajoso, competente e determinado à frente da Casa de Rio Branco, alguém que tenha a ousadia de esperar um grande Brasil, um diplomata que sinta muito orgulho de ser patriota."
6) Pesquisando um pouco +, encontrei o blog dela (thinkthanksclub.wordpress.com). A 1a postagem é do dia 21/10, entre os 2 turnos da eleição.
O texto é crítica dura ao PT, dizendo q seus dirigentes, na iminência da derrota, relativizam a verdade, "gde baluarte do marxismo cultural".
7) No 2o texto, publicado originalmente no blog do Ernesto"Metapolítica 17" em 13/10, ela diz assim: "Este é o momento q vive o Brasil, o momento da vitória do senso comum. Perdoem-me os marxistas, mas o movimento q Bolsonaro representa não é “onda”, nem “maremoto”. É revolução."
8) No 3o texto, veiculado dps da eleição, ela fala sobre pol.ext. Critica a narrativa do 🇧🇷como país cordial: "Qdo o governo eleito aventa mudanças de rumo de pol.ext. q envolveriam possíveis conflitos, há 1 insurgência da mídia, de políticos e de acadêmicos contra essa decisão."
9) Ela defende 2 pontos polêmicos: a transferência da embaixada em 🇮🇱p/Jlem e, antes disso, a entrada do 🇧🇷p/a OTAN. Diz q a questão da embaixada, p. ex., faz+ sentido para observador externo do q "a ambição brasileira de entrar para o Conselho como membro permanente".
10) Em exercício meio anacrônico, compara 🇧🇷e 🇮🇳em defesa de posições conflituosas de pol. ext.: "Sob a pressão internacional para aderir ao TNP (sobretudo dos 🇺🇸, que ameaçavam com retaliações comerciais), cedeu o 🇧🇷, não cedeu a 🇮🇳, hoje o 9º maior parceiro comercial dos EUA".
11) Finalmente, o texto q saiu hj no jornal "A importância d ser Ernesto" já tinha sido publicado no blog no dia 16/11, 1 dia após indicação do novo chanceler. Ernesto é tratado como 1 gde patriota. Essa admiração ñ surpreende, já q eles já vinham colaborando desde as eleições.
Bolsonaro embarca hoje para a Rússia. O que ele tem a ganhar - e a perder - com essa viagem?
No fio, trago um resumo do que venho pensando a respeito.
Spoiler: a viagem faz todo sentido para Bolsonaro (ainda que seja ruim para o Brasil). Será um trunfo de campanha.
1) Para entender a viagem, temos que olhar para o quadro externo e interno que se apresenta ao Brasil.
Perante o mundo, estamos isolados. Nosso país sempre teve bom trânsito com nações grandes e pequenas, ricas e pobres. A notável reputação diplomática sempre foi ativo valioso🔽
2) Isso se perdeu durante o governo atual. Abraçando uma política externa populista, fundamentalista e agressiva,
Bolsonaro queimou pontes com seus principais parceiros. Hostilizou Biden, Macron e Fernández, brigou com China e Alemanha.
O debate eleitoral dos últimos dias me fez resgatar essa história.
Vocês talvez não lembrem, mas uma grande polêmica das eleições de 1989 foi a candidatura de Silvio Santos, que se fez e desfez como uma estrela cadente na reta final da corrida presidencial.
O dono do SBT, possivelmente o rosto + popular do Brasil, havia recusado diversos convites para entrar para a política. Não queria atrapalhar seus negócios e temia ter o mesmo destino de outros empresários que naufragaram politicamente, como Antônio Ermírio e Olavo Setúbal.
Contudo, o contexto de 1989 era único. Numa eleição definida pela televisão e marcada pela rejeição aos políticos tradicionais, o carisma e a exposição do grande comunicador brasileiro eram vantagens inquestionáveis.
Depois de ler e reler os discursos de Bolsonaro na 🇺🇳 deste ano e do ano passado, notei algumas semelhanças surpreendentes.
Deu a impressão de que ele simplesmente repetiu trechos longos, geralmente associados a narrativas ou mentiras escancaradas.
Dava pra fazer um bingo:
2020:
(...) quero lamentar cada morte ocorrida.
Desde o princípio, alertei, em meu País, que tínhamos dois problemas para resolver: o vírus e o desemprego, e que ambos deveriam ser tratados simultaneamente e com a mesma responsabilidade.
2021:
Lamentamos todas as mortes ocorridas no Brasil e no mundo.
Sempre defendi combater o vírus e o desemprego de forma simultânea e com a mesma responsabilidade. As medidas de isolamento e lockdown deixaram um legado de inflação (...) nos gêneros alimentícios no mundo todo.
BOLSONARO NA ONU:
um rápido bolão do que deve ser dito
2019 foi o ano do antiglobalismo, 2020 foi do conservadorismo religioso. 2021 será da LIBERDADE
1) Liberdades individuais: inimigos internos (STF) e externos (big techs) cerceando o direito à expressão (dos conservadores)
2) Pandemia: Brasil como exemplo de vacinação e de auxílio econômico para informais e autônomos, mas reforçando que vacinar é um direito individual (!!) e que restrições (ex. passaporte de vacina) são ruins
3) Indígenas: conluio entre alguns índios e agentes estrangeiros (cont)
...para controle dos recursos naturais da Amazônia e contra os interesses do agro. Defesa do marco temporal (liberdade de propriedade privada)
4) Economia: foco na recuperação, programas sociais e reformas liberalizantes, destacando indicadores positivos, ainda que distorcidos
Tenho conversado com muita gente sobre o que nos aguarda dia 7. É difícil fazer uma análise fria: descartar uma tentativa de ruptura é ignorar o que Bolsonaro e seus apoiadores vêm dizendo abertamente; falar em golpe, por outro lado, soa alarmista 👇
Não tenho respostas prontas nem bola de cristal, então quero pensar alto com vocês. Para organizar o pensamento, vamos falar de algumas premissas.
1. Bolsonaro sabe que será difícil vencer as eleições. Por mais que diga que as pesquisas são enviesadas, seu círculo mais próximo👇
...sabe que derrotar Lula exigirá uma conjunção de fatores econômicos e políticos quase impossíveis a essa altura.
A carta da fraude eleitoral será usada sistematicamente até ano que vem, mas a derrota do voto impresso esvaziou esse discurso. O bolsonarismo já mudou de assunto👇
A intensa cobertura da tragédia afegã repercutiu no debate público por aqui. Mas não foram somente análises acadêmicas sobre a situação do país. Apareceram diversas comparações entre 🇧🇷 e 🇦🇫, algumas procedentes, outras terrivelmente oportunistas 🧵👇
1) Vamos começar pelo oportunismo. Ao longo da semana, até pra desviar o foco da CPI e das ameaças golpistas, começaram a circular na bolsosfera comparações entre o PT e o Talibã. A única comparação possível que eles encontraram é um tema caro ao bolsonarismo: desarmamento 👇
2) Relacionar desarmamento e ditadura é desonesto, pois ignora que políticas públicas de redução ao acesso a armas (como foi o caso do PT) são baseadas em dados sobre criminalidade e violência. @goescarlos escreveu um dos melhores textos sobre o assunto: