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Outro dia, eu disse aqui que boicotar a indústria pornô não acabava com a indústria pornô. Metade do meu tuíter veio abaixo tirando minha carteirinha feminista, naturalmente rs. Pois bem, vou tentar desenvolver isso rapidamente:
A pornografia é um tipo de trabalho sexual, como tal está sujeita à precarização e vulnerabilidades que envolvem o TS (trabalho sexual).
Existe pornografia de todos os tipos, das menos para as mais problemáticas, estúdios de todos os tipos tb. Nos últimos anos, produtoras independentes começar a produzir o que chamam de "Pornô feminista" ou "pornô queer" tentando ser uma alternativa aos grandes estúdios.
com uma retórica inclusiva, não-violenta e anti-exploratória, o pornô feminista/queer tem crescido, mas obviamente está longe de ser majoritário na indústria (e nunca será).
O maior problema da indústria, como em qualquer outra, é o lucro. Capitalismo explora os trabalhadores para lucrar em cima de nossos corpos. Não é diferente com os atores e atrizes pornô, que frequentemente são obrigados a trabalharem em condições degradantes.
Os contratos Pjotistas tb limitam muito a demanda de condições melhores de trabalho. A falta de toda uma estrutura sindical / de classe tb vulnerabiliza ainda mais especialmente as mulheres cis/trans e travestis.
A necessidade de dinheiro - necessidade que todos nós temos - obriga muitas trabalhadoras sexuais a aceitarem essas condições. Como combater, então, a indústria da pornografia? Como modificar a forma como é produzida e os estereótipos violentos reproduzidos nos filmes?
Através do fortalecimento das organizações e sindicatos de trabalhadoras sexuais. Somente a união de classe pode fazer frente aos grandes estúdios e combater o estigma que envolve o trabalho sexual. As entidades de classe podem demandar melhores condições de trabalho e pagamento.
E por melhores condições também quero dizer combater os estereótipos tóxicos que envolvem o pornô. O sexo violento como padrão (e não um fetiche à parte). As práticas heteronormativas que se repetem ad infinitum.
O boicote n resolve o problema do consumo de pornô tóxico, apenas traz satisfação moral. O que resolve esse problema, o que combate a indústria, é a união das trabalhadoras que trabalham nela e geram o lucro pro patrão.
Tudo isso porque ponografia, em si, não é "errada" ou ruim. Quem nunca gravou um vídeo pro crush? Quem nunca se filmou transando com o/a crush? É perfeitamente natural. O problema é uma indústria que precisa lucrar com isso, tirar a mais-valia.
Como tudo, o capitalismo transforma tudo em uma mercadoria a ser vendida, o sexo não é diferente. Mas precisamos rever nossas estratégias que silenciam as trabalhadoras sexuais - maiores interessadas na discussão - em prol de um abolicionismo estéril.
Estéril pq não é capaz de acabar com o trabalho sexual, só é capaz de torná-lo mais precário, mais vulnerável. A criminalização do cliente n acaba com a venda de serviços sexuais, faz com q as putas sejam forçadas a atender em condições mais degradantes clientes mais perigosos.
É até meio tosco achar que, de um dia para o outro, as putas deixaram o trabalho sexual em prol de qualquer medida para mudá-las de profissão q certamente n dará os mesmos ganhos.
Veja que durante a thread eu não mencionei nenhuma vez a palavra "escolha". Pq de fato, no capitalismo, não temos nenhuma. Nem mencionei "empoderamento", porque ñ acho que trabalho algo empodere de fato.
Tudo o que eu falei reflete o que está sendo produzido e reivindicado por organizações de trabalhadoras sexuais internacionais. São demandas históricas das putas qse sempre silenciadas por um feminismo anti-classe que se recusa a reconhecer as putas como trabalhadoras.
cc @MariliaMoscou talvez curta a thread (e possa comentar hehe)
*deixariam. E desculpe alguns erros de digitação. (achei melhor comentar dada a repercussão dessa thread).
