Vi o "Democracia em Vertigem". Achei menos petista do que o trailer prometia, o que é bom. É mais apegado à democracia que à esquerda e, me parece, empata com a visão de grande parte do mundo sobre o que aconteceu no Brasil de 2013 pra cá.
O principal pecado do doc, pra mim, é não explicar como se desenrolou a crise econômica. Porque isso é simplesmente o principal fator pro impeachment. Não é o único, mas a condução desastrada (pra dizer pouco) de Dilma deitou o governo na frentr do rolo compressor golpista.
Mas, de resto, está tudo muito bem amarrado e embasado. É a história de um fracasso de projeto social-democrata carcomido pela corrupção e histeria coletiva alimentada por uma centro-direita que migrou tanto à direita que perdeu o controle da narrativa. O absurdo venceu.
Complemento com as impressões de um amigo: no fim, vence a ideia de que o povo será sempre excluído do poder em favor das oligarquias. Lula só chegou porque cedeu. Bolsonaro faz tipo outsider, mas é o agronegócio, o sistema financeiro e o empresariado sem medo de parecer nojento.
No mais, compartilho com a diretora a esperança dos 2000 e o desespero dos 2010. O Brasil não tem maturidade social pra um projeto de país. Não há nenhuma perspectiva fora de uma oligarquia agressivamente pilhadora, uma classe média alienada e os outros 85% lutando pra sobreviver
Na última edição do Travessia (Sucessos Únicos), trouxemos a história de Volta Seca, o cangaceiro do bando de Virgulino Lampião que lançou um disco em 1957 com as músicas supostamente feitas pelas bandoleiros. Entre as quais, Mulher Rendeira e Acorda Maria Bonita.
Volta Seca foi o mais jovem bandoleiro do grupo de Lampião, a versão brasileira de Jesse James, Butch Cassidy ou Ned Kelly. Ele foi recrutado pelo grupo ainda garoto após fugir de casa, onde sofria maus tratos da madrasta num cenário de miséria generalizada.
Conta-se que Volta Seca tinha bons dotes musicais, o que conquistou Lampião. Ele foi subindo na hierarquia do grupo e com o chefe compuseram algumas músicas. Entre elas, o clássico Mulher Rendeira, que tocamos no programa.
Está próximo de uma reviravolta - e provavelmente de um filme - o caso da "mulher mais odiada da Austrália". Vou contar.
Kathleen Folbigg foi condenada por matar seus quatro filhos em momentos diferentes, sempre quando estavam em torno dos 2 anos de idade. Agora um grupo de cientistas diz que há evidência recente suficiente pra crer que dois deles tiveram morte súbita por um defeito genético.
E os cIentistas também dIzem haver indícios de que os outros dois filhos também tiveram morte súbita por conta de UM SEGUNDO DEFEITO GENÉTICO. O grupo, que tem até alguns Nobel inclusos, pediu que ela seja libertada: abc.net.au/news/2021-03-0…
Terminei o doc dw 2009 sobre o Monty Python, disponível no Netflix (ao menos no daqui). Coisa fina. Dá um conforto na alma ver.
Conheci Python na faculdade, um professor falou coisas incríveis. Na mssma semana fui à 2001, ao lado da Cásper, e peguei o Live at Hollywood Bowl. E depois os outros.
Diferente da maioria dos meus amigos, achava o Cálice Ságrado o filme mais fraco, e O Sentido da Vida, meu predileto. A esquete do "Every Sperm is Sacred" é uma das maiores peças de humor em todos os tempos e é, ao mesmo tempo, uma homenagem a e o enterro dos grandes musicais.
Meu filho está fascinado que peru é um bicho e também um país, mas que em inglês o bicho é "turkey", que é na verdade um outro país (Turquia). E eu fui pesquisa e, bem... está tudo relacionado.
O peru é natural da região entre México e EUA, mas, por ser um bicho estranho, é historicamente é associado a países exóticos por quem vê. Desta forma, em Israel, peru é "odu", palavra que também serve pra designar o país Índia.
No Camboja e Escócia, o peru é chamado de "frango francês". Na Malásia, "frango holandês". E há várias designações gentílicas para o bicho, sempre em caráter exótico.
Uma das minhas maiores birras na vida é o povo da minha idade, que foi criança ou adolescente nos anos 80, bancar um saudosismo ao estilo "as novas gerações são horríveis, a minha é que era boa". Era tudo uma porcaria, cara. Você que era criança.
As suas lembranças são boas porque você se lembra de coisas boas da sua família e de sua vida. No mais, a TV era uma porcaria, a escola era violenta e o Brasil já era a merda que é.
To dizendo isso porque começou a bombar na ORS uma página do bairro onde morei em Jundiaí. E de repente passei a ver gente que não lembrava da existência há 25 anos, ou vizinhos de quem tinha me esquecido completamente.
Jards Macalé pensava em se matar naquele estranho final de anos 70. A música não era mais a mesma, e o pulo de vanguardista para tio esquisito tinha sido rápido demais. Ele não entendia mais o mundo que mudava e o mundo não mais o entendia, e ainda havia tomado um pé na bunda.
Jards decidiu, então, ligar para os amigos para, sem dar na telha, se despedir.
João Gilberto foi um deles e notou haver algo errado com o amigo. E disse "Jards, venha me visitar, venha, venha". Jards assim o fez.
Ao chegar no apartamento do Leblon, Jards abriu a porta e se deparou com um ambiente a meia luz. E João Gilberto e seu violão cantando "Rancho Fundo", de Ary Barroso. "Deita aí no sofá, Jards, deita".