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O CAVALO DE BOLSONARO

Corre por aí um tweet maldoso dizendo que que se o Imperador romano Calígula pôde nomear seu cavalo - Incitatus - como cônsul, nada mais justo que o presidente Bolsonaro possa nomear seu filho - Eduardo - como embaixador do Brasil nos EUA. [1/12]
Mas a piada não é só maldosa, também é injusta: Calígula nunca nomeou seu cavalo cônsul. As fontes mais antigas sobre o episódio – Suetônio e Dião Cássio - indicam apenas a intenção do imperador, não sua realização. [2/12]
Os reais objetivos de Calígula são motivo de discussão entre historiadores. As fontes sobre seu reinado são muito posteriores aos eventos narrados e interessadas em retratar o antigo imperador de forma bastante inglória. [3/12]
Anthony Barrett lembra que Cláudio – o sucessor de Calígula - tinha muitos motivos para justificar o assassinato de seu antecessor como em razão da sua monstruosidade e tirania como indivíduo, não como monarca. [4/12]
Portanto, O cavalo de Calígula poderia ser interpretado como mais um elemento na construção de sua imagem como insano. Afinal de contas, só um maluco completo teria a intenção de nomear seu cavalo como cônsul. [5/12]
Alguns historiadores aceitam a validade dos relatos, mas apontam que os planos de Calígula para seu cavalo seriam mera piada; outros afirmam que o Imperador estaria criticando o Senado, ridicularizando os senadores e afirmando seu poder. [6/12]
Em qualquer caso, não se trataria de um ato de loucura: Calígula saberia que a ideia era absurda. Sua malandragem foi usar o absurdo a seu favor e contra as já combalidas instituições romanas. No jogo de poder romano, Calígula foi vitorioso sobre o Senado. [7/12]
Portanto, a ideia de Bolsonaro supera um dos episódios mais absurdos da história romana. Qualificações dos candidatos à parte - Incitatus era um cavalo campeão, Eduardo Bolsonaro fritou hambúrguer no Maine -, Calígula sabia que a ideia era absurda, Bolsonaro não sabe. [8/12]
Se o relato foi fabricado para demonstrar a loucura do monarca ou se tratava de um ataque do imperador contra o Senado, o certo é que o cavalo de Calígula nunca foi nomeado cônsul, muito menos embaixador. [9/12]
Já Bolsonaro não parece capaz nem de reconhecer que sua ideia é um absurdo. De qualquer forma, o inegável é que as instituições sofrem outro ataque. Agora não é o Senado romano que é diminuído e ridicularizado, mas o Itamaraty e a diplomacia brasileira. [10/12]
O episódio do cavalo de Calígula foi registrado como evidência da insanidade e incapacidade do governante, mas demostra como a política romana era complexa, como a memória dos imperadores foi alvo de disputa e como a história molda nossas percepções e perspectivas. [11/12]
O episódio do cavalo de Bolsonaro parece mostrar a complexidade do jogo político brasileiro, mas é só mais uma evidência da insanidade e incapacidade do governante. [12/12]
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