Thread by @phpacha

Esse editorial de hoje da Folha é uma aula sobre os limites da oposição liberal ao governo Bolsonaro.

Segue o fio.
www1.folha.uol.com.br/opiniao/2019/0…

O ponto central aqui é a definição (implícita) de uma "oposição respeitável" ao bolsonarismo.

Essa definição se apoia em uma distinção entre "propostas conservadoras legítimas" e "[propostas conservadoras] que ameacem pilares do pacto civil".

No segundo âmbito (ameaça ao pacto civil), a Folha destaca a tentativa de censura do prefeito @MCrivella e a apologia ao autoritarismo do @CarlosBolsonaro.

Nesse caso, a única reação possível de uma "oposição respeitável" é o "repúdio frontal". É aqui que a Folha risca o chão.

Ou seja, se estamos enfrentando uma ameaça explícita de censura editorial ou a defesa de um regime autoritário, a Folha (e o liberal brasileiro) é uma aliada. Mas se nos afastarmos um pouco desse ponto, a Folha não vai segurar a mão de ninguém.

Como a Folha faz parte da "oposição respeitável" ao bolsonarismo, ela até afirma que não gosta de muitas "propostas conservadoras legítimas", mas que não tem opção se não respeitar sua tramitação no Congresso. Esse é o primeiro caso enunciado acima.

E as "propostas conservadoras legítimas"?

- Liberação do porte de armas;
- Redução da maioridade penal;
- Definição do "núcleo familiar como união entre homem e mulher";
- "Ampliar ao restrição do aborto";
- "Disciplinar a conduta de professores".

Um estudo em eufemismo!

Ou seja, a Folha até discorda dessas propostas (o liberal brasileiro toma banho!), mas as legitima duplamente: quando reconhece uma legitimidade em abstrato e quando formula cada uma delas lançando mão do mais brutal eufemismo.

O Escola Sem Partido é efetivamente uma iniciativa de censura, mas aparece para a Folha como um forma de "disciplinar" os professores. Segundo a Folha, nem todo tipo de censura ameaça "os pilares do pacto civil", principalmente a que recai sobre os professores.

Mas não temam! A Folha tem uma palavra de alento: sendo parte da "oposição respeitável", a Folha reconhece o caráter moderador do Congresso (!) e a sua função como via de expressão dos desejos e anseios da população (!!).

Em resumo, uma "oposição respeitável" faz como a Folha: não aceita censura editorial nem um regime autoritário, mas vai rifar qualquer minoria para manter a ilusão de que está tudo bem.

Até a água bater na bunda. Mas aí a Folha conhece bem o potencial do oportunismo.