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Enfim, o que eu percebo é que as pessoas que trabalham em empresas ou para o Estado por muito tempo, pensam de maneira completamente distinta desses 23 milhões de trabalhadores por conta própria e 4 milhões de empregadores.
E este segmento tem muita influência, porque a independência que possui lhe capacita para a militância política, mas se a esquerda oferece apenas a sintaxe ideológica de “funcionário”, ele vai procurar outras ideias.
Eu penso nisso há muito tempo. Boa parte do que a esquerda vende como “esquerda”, na verdade é apenas cultura de funcionário público. Não estou julgando moralmente, se é bom ou ruim, mas sim que uma certa animosidade que vem emergindo, há alguns anos, contra a esquerda,
em especial contra o petismo, pode ter raizes nesse descolamento crescente de parte da sociedade para com esses setores corporativos, onde a esquerda construiu seu núcleo duro.
Como eu trabalho por conta própria desde a adolescência, conceitos como “férias”, “greve”, “decimo terceiro”, sempre foram termos de uma outra galáxia. Nunca soube o que era. E hj, pelo IBGE, sei que há 27 milhões de brasileiros na minha condição.
Talvez seja por isso que eu não consiga entender a cabeça de alguns companheiros e desconfio que também eles não me entendem. Narciso acha feio o que não é espelho.
