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O golpe militar de 64, durou 21 anos, torturou e matou meu tio Francisco do Rosário, em 1981 (já no fim do regime, portanto). Rosário não era sequer militante político. A história foi a seguinte. Siga o fio.
Francisco do Rosário Barbosa, um jovem e tímido mineiro que vivia há alguns anos no Rio, trabalhava em Maria da Graça, subúrbio da cidade, numa empresa de clipping jornalístico. Ele trabalhava a noite e voltava pra casa, em Copacabana, de madrugada. O ano era 1981.
Uma madrugada, ele estava no ônibus, voltando do trabalho pra casa, de madrugada, quando o veículo é parado por uma blitz. Policiais armados entram no ônibus e começam a pedir documentos aos passageiros. Francisco deve ter visto alguma truculência e protesta.
Então ele é violentamente espancado ainda no ônibus, e posto num táxi, que é orientado a levá-lo à delegacia. Chegando lá, é levado a uma sala e torturado por horas, e morre no mesmo dia.
A esposa do meu tio liga para meu pai, José Barbosa do Rosário, para relatar o desaparecimento do meu tio. Ninguém imaginava o que aconteceu, até porque, repito, Francisco não tinha militância política. Era apenas um jovem com opiniões contra a ditadura, que escrevia poemas.
Depois de uma ou duas noites de terror, descobriu-se que meu tio fora largado na porta do Souza Aguiar, ensanguentado e moribundo, e que suas ultimas palavras, segundo os funcionários do hospital, foram:
“Meu nome é Francisco do Rosário e eu fui torturado pela polícia militar”. E morreu, ainda na porta do hospital.
O governo tentou esconder o corpo, que foi levado ao IML, sem que à família fosse permitido vê-lo. Meu pai então consegue, com ajuda de um vereador, entrar clandestinamente, com um fotógrafo.
O que viram no IML foi a barbárie. O corpo do meu tio estava todo retalhado de cortes, queimaduras de cigarro, unhas arrancadas, e dezena de marcas de espancamento.
Meu pai, que era o primogênito da família, reúne todos (eram 9 irmãos!), explica o que aconteceu e diz que a única maneira digna de lidar com tal tragedia, era usá-la para lutar contra a ditadura, denunciando aquela barbárie. E aí começa uma longa luta juridica.
Meu pai publica um livro (o único livro de sua vida, apesar de ter sido um exímio escritor), intitulado Quando a polícia mata, que usa para indiciar os assassinos. Ele inicia uma campanha. Dá entrevistas, aparece no Fantástico.
A ditadura já estava em seus estertores e o caso serve para abalá-la ainda mais. Os assassinos são condenados e presos, mas com penas leves. A família ficou muito traumatizada. Eu era uma criança pequena e não lembro de nada, mas minha mãe conta q eu percebia tudo.
Meu pai era um homem durão, taciturno, e eu o vi chorar apenas uma vez, e só porque chegamos em casa subitamente e o flagramos no sofá, com lágrimas nos olhos e rosto transtornado. Ele não explicou porque chorava.
Tenho quase certeza que ele chorava com a lembrança de seu irmão, o doce e tímido Francisco Rosário, vitimado por monstros, pagos com nosso dinheiro, criados pela ditadura militar hoje defendida por um presidente imbecil!
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