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O final de semana tinha tudo para ser tranquilo, como geralmente eram os finais de semana no sítio da minha família.

Chegamos lá no sábado de manhã, arrumamos a casa, tiramos a poeira e tratamos de nos divertimos.
Nossa casa era isolada de tudo e de todos, cercada de mato por todos os lados.

O vizinho mais próximo era um primo de meu pai e de meu tio, que, mesmo assim, morava num rancho distante quase 3 km da gente.
Naquele final de semana éramos seis: eu e meus pais, meu tio, sua esposa e minha prima - com quem sempre brinquei muito, pois temos quase a mesma idade.

E o dia transcorreu quieto e alegre, sem qualquer sobressalto ou estranheza, sem sinal do que viria...
Fizemos churrasco, ouvimos música e nós, as crianças, brincamos por todo o terreno correndo atrás das galinhas, até a noite chegar, silenciosa e escura, com a lua sumida no céu.

Minha mãe não gostava de noites assim, então nos recolhemos cedinho para dormir.
Cada família foi para o seu quarto.

A noite ia quieta, até por volta de meia noite, quando tudo começou.

Acho que fui o primeiro a perceber o barulho distante, que vinha manso, e, quando dei por mim, vi meu tio já alerta na sala, tentando entender o som que chegava até nós.
Era um barulho de motos, muitas motos, que pareciam vir lentamente pela alameda que descambava em casa.

E o barulho aumentava, ficava cada vez mais alto, até que meu tio entrou em nosso quarto e chamou meu pai.

- Tadeu, acorda! Vem vindo gente!
Meu pai acordou assustado, desnorteado, e deu de cara comigo acordado.

Eu devia estar com os olhos arregalados, devia estar bem assustado, porque, quando viu minha cara e ficou tenso.

- Quem é, Ivo?

- Não sei, só sei que é muita gente.
Nesse ponto, minha mãe já estava acordada e me segurava forte pelo braço, como se fosse me perder a qualquer momento.

Enquanto meu pai saia do quarto, minha tia entrou, trazendo minha prima pelas mãos, e se aconchegou do nosso lado na cama.
O problema é que, fazia uns meses, vinham ocorrendo uns assaltos violentos na região, sempre em casas isoladas - e era justamente disso que minha mãe tinha medo.

Sem falar nada, meu pai e meu tio pegaram as espingardas e se encostaram na porta, prontos a repelir qualquer coisa.
Neste ponto, o barulho já invadia nossa casa de forma violenta, barulho de motores que entrava por todos os lados, como se uma grande gangue de motoqueiro rondasse a pequena residência, para nos intimidar.

Apesar de parecer barulho de moto, no meu íntimo achava bem diferente...
Estávamos no quartos, abraçados, amedrontados, cercados por nossas mães, enquanto os homens, igualmente assustados, tentavam manter um pouco de calma.

E pelas diversas frestas entrava o som ensurdecedor, além da luz forte de dezenas de faróis que vinham de todos os lados.
Quando não podia ficar pior, as pessoas de fora começaram a gritar, uns urros horrendos que me deixavam em dúvida se eram homens ou bichos.

Por vezes, achei ter entendido o que gritavam, mas, outras vezes, a impressão era de que usavam alguma língua totalmente desconhecida.
Foram ao menos 5 minutos vivendo aquilo, a luz que cegava e parecia entrar até pelas frestas do telhado; o som ensurdecedor que machucava os tímpanos; nós, chorando no quarto, e os homens na sala, incrédulos.
Foi quando também percebi vento, como se fosse vento de tempestade, de furacão, que fazia bater violentamente as portas e janelas.

Era como se tudo fosse explodir a qualquer momento e aqueles de fora fossem entrar, uma sensação de medo desesperador.
Meu pai ainda pensou abrir uma fresta para tentar ver, entender, o que acontecia lá fora, mas foi impedido por meu tio.

- Vai abrir e fazer o quê?

- Vou dar um tiro. Quero ver ser homem depois de um tiro.

Meu tio completou de forma seca:

- E se não for homem, Tadeu?
Nessa hora eu já não tinha qualquer noção da realidade, nem ideia do que acontecia, tão atordoado que estava.

E tudo aumentava, barulho, luz, grito e vento, quando, do nada, como se por mágica, fez-se silêncio e escuridão...
Foi como se estivéssemos em transe, flutuando, e, do nada, tivéssemos acordado.

No quarto, nós quatro entreolhávamo-nos sem nada entender.

Meu pai e meu tio ainda seguravam a porta, firme, como se, agora, a casa pudesse ser invadida.
Depois de uns 10 minutos de quietude e breu, meu pai quebrou o silêncio, ainda sussurrando:

- Ivo, vou sair. Assim que eu passar, fecha a porta rapidinho. Se alguma coisa entrar, qualquer coisa, atira - disse, enquanto pegava a lanterna.
E por mais que minha mãe pedisse que ele não fosse, que esperasse, meu pai saiu por um fio aberto da porta.

Durante algum tempo ele ficou lá fora, buscando explicações, andando pelo terreno.

Vez em quando a gente via o feixe da lanterna de meu pai entrar pelas frestas...
Tempo depois ele bateu na porta e entrou.

- E aí, Tadeu?

- Cara... não tem nada lá fora.
- Como assim?

- Não tem ninguém, nada. Nem marca de pneu, nem sinal de gente. Nada.

- Impossível! Você viu e ouviu aquilo. Devia ter umas 20 motos, rondaram todo o terreno ao redor...
Mais confiantes, eles saíram novamente e foram buscar alguma resposta, mas, de fato, não havia nada.

A terra estava batidinha, limpinha, como se nunca tivesse sido pisada antes.
Mas ninguém negava que, minutos antes, tinha gente, ou algo, lá.

Da mesma forma, não havia pegadas, nem bitucas, nem marca de óleo.

E se ouvimos o barulho chegar e crescer, seu sumiço foi imediato, como se tivesse sido desligado por um simples botão.
Naquela noite ninguém dormiu.

Meu pai e meu tio fizeram café e ficaram na sala, conversando em voz baixa, e eu ouvi, em sussurros, diversas teorias sobre o que acontecerá.

Mamãe e titia ficaram nos velando; e eu, tive um sono leve, entrecortado por pesadelos.
Na manhã seguinte, um domingo nublado, nós andamos pelo terreno, e, de fato, não havia nada. Nenhum sinal que explicasse o que ocorreu.

Minha tia quis chamar a polícia, mas alegar o quê? As coisas que nos rodearam suniram no ar - e, quem sabe, não tivessem vindo do ar...
Contamos a história para varias pessoas, e ninguém arrisca dar uma explicação.

Até alucinação coletiva já falaram, mas a gente tem plena certeza do que viveu.

E nunca vou esquecer daquelas voz guturais falando em língua estranha...
...e nem do vento assustador que parecia querer derrubar a casa, a luz que entrava por tudo e o barulho ensurdecedor, que, hoje, duvido ter sido de moto.

A cada um, que tire suas conclusões do que vivi.

Fim
P.s.: essa história me foi contada pelo @MaxOsecarr, via DM. Ele viveu isso com a família dele num sítio da família, na cidade de Registro, interior de São Paulo.

@MaxOsecarr muito obrigado por me deixar contar sua história. ❤️
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