Chegamos lá no sábado de manhã, arrumamos a casa, tiramos a poeira e tratamos de nos divertimos.
O vizinho mais próximo era um primo de meu pai e de meu tio, que, mesmo assim, morava num rancho distante quase 3 km da gente.
E o dia transcorreu quieto e alegre, sem qualquer sobressalto ou estranheza, sem sinal do que viria...
Minha mãe não gostava de noites assim, então nos recolhemos cedinho para dormir.
A noite ia quieta, até por volta de meia noite, quando tudo começou.
Acho que fui o primeiro a perceber o barulho distante, que vinha manso, e, quando dei por mim, vi meu tio já alerta na sala, tentando entender o som que chegava até nós.
E o barulho aumentava, ficava cada vez mais alto, até que meu tio entrou em nosso quarto e chamou meu pai.
- Tadeu, acorda! Vem vindo gente!
Eu devia estar com os olhos arregalados, devia estar bem assustado, porque, quando viu minha cara e ficou tenso.
- Quem é, Ivo?
- Não sei, só sei que é muita gente.
Enquanto meu pai saia do quarto, minha tia entrou, trazendo minha prima pelas mãos, e se aconchegou do nosso lado na cama.
Sem falar nada, meu pai e meu tio pegaram as espingardas e se encostaram na porta, prontos a repelir qualquer coisa.
Apesar de parecer barulho de moto, no meu íntimo achava bem diferente...
E pelas diversas frestas entrava o som ensurdecedor, além da luz forte de dezenas de faróis que vinham de todos os lados.
Por vezes, achei ter entendido o que gritavam, mas, outras vezes, a impressão era de que usavam alguma língua totalmente desconhecida.
Era como se tudo fosse explodir a qualquer momento e aqueles de fora fossem entrar, uma sensação de medo desesperador.
- Vai abrir e fazer o quê?
- Vou dar um tiro. Quero ver ser homem depois de um tiro.
Meu tio completou de forma seca:
- E se não for homem, Tadeu?
E tudo aumentava, barulho, luz, grito e vento, quando, do nada, como se por mágica, fez-se silêncio e escuridão...
No quarto, nós quatro entreolhávamo-nos sem nada entender.
Meu pai e meu tio ainda seguravam a porta, firme, como se, agora, a casa pudesse ser invadida.
- Ivo, vou sair. Assim que eu passar, fecha a porta rapidinho. Se alguma coisa entrar, qualquer coisa, atira - disse, enquanto pegava a lanterna.
Durante algum tempo ele ficou lá fora, buscando explicações, andando pelo terreno.
Vez em quando a gente via o feixe da lanterna de meu pai entrar pelas frestas...
- E aí, Tadeu?
- Cara... não tem nada lá fora.
- Como assim?
- Não tem ninguém, nada. Nem marca de pneu, nem sinal de gente. Nada.
- Impossível! Você viu e ouviu aquilo. Devia ter umas 20 motos, rondaram todo o terreno ao redor...
A terra estava batidinha, limpinha, como se nunca tivesse sido pisada antes.
Da mesma forma, não havia pegadas, nem bitucas, nem marca de óleo.
E se ouvimos o barulho chegar e crescer, seu sumiço foi imediato, como se tivesse sido desligado por um simples botão.
Meu pai e meu tio fizeram café e ficaram na sala, conversando em voz baixa, e eu ouvi, em sussurros, diversas teorias sobre o que acontecerá.
Mamãe e titia ficaram nos velando; e eu, tive um sono leve, entrecortado por pesadelos.
Minha tia quis chamar a polícia, mas alegar o quê? As coisas que nos rodearam suniram no ar - e, quem sabe, não tivessem vindo do ar...
Até alucinação coletiva já falaram, mas a gente tem plena certeza do que viveu.
E nunca vou esquecer daquelas voz guturais falando em língua estranha...
A cada um, que tire suas conclusões do que vivi.
Fim
@MaxOsecarr muito obrigado por me deixar contar sua história. ❤️