Thread by @marte_awqakuq

"Não existe arte de direita."

Não apenas existe como a história da arte tem uma marca fortíssima de elitismo, racismo e conservadorismo.

E não, arte contemporânea não sai desse eixo. O único crédito que a gente pode realmente dar ao período atual é que existem artistas tentando, sempre sem sucesso, revolucionar o sistema.

A prova é que o maior expoente em "arte revolucionária" hoje é o Banksy, um cara de discurso liberal e com dinheiro o bastante para viajar mundo afora "" "" "" "" pixando""" "" "".

Claro, nós artistas /iniciados/ e aceitos deste honrado sistema conhecemos outros nomes, muito mais questionadores e coerentes em suas propostas.

Mas o público geral conhece o Banksy. Ponto.

Ele representa o grupo de artistas inconformados que criticam o sistema com todas as suas forças mas se alimentam dele, são dependentes. Eu não condeno ISSO, é impossível viver de arte sem baixar a cabeça pra máquina, mas no caso dele existe uma pitada a mais de hipocrisia.

E, mesmo que a identidade dele seja um "mistério" (risos), nós sabemos o suficiente sobre esse grande rebelde: ele é um homem cis, branco e europeu.

Nada contra esse tipo de pessoas, tudo contra eles serem os porta-voz de nossas pautas.

Aí eu me deparo com "não existe arte de direita." Vi as pessoas compartilhando essa frase com desenhos do Gabriel Piccolo, achei engraçado. Desde então, por todas essas semanas, fiquei matutando muito. Conclui que, na verdade, pouca arte NÃO É de direita.

O fato de nós, como artistas, estarmos inseridos num sistema que é exatamente igual, não estou exagerando, ao mercado de arte europeu de 700 anos atrás, embute nas nossas produções a ideología a qual nós TEMOS QUE responder.

Claro, não é algo direto. Eu posso passar a minha vida fazendo posters comunistas para distribuir de graça pela cidade. Seria um grande ato de resistência contra o sistema, mas, esse é o macete cruel, isso não seria visto como PRODUÇÃO de arte.

Porque arte, meus caros, é o trabalho. E trabalho vale dinheiro, valem horas. Não importa quanto a gente discuta e analise o que significa para NÓS o trabalho, o Deus Mercado decidiu por nós artistas, há 700 anos atrás na Itália, e nós acatamos.

E desse pequeno e nada sutil detalhe saem todas as raízes horríveis que vocês conhecem, aquelas citadas no início da thread.

Classismo porque arte é para poucos. Museus, mesmo quando gratuitos, são hostis a população "não iniciada". As pessoas não entendem arte contemporânea porque ela PRECISA ser explicada, essa é a moral, e nenhum acadêmico quer se dar ao trabalho de explicar.

Arte é racista porque, atualmente, todas as produções dentro de espaços formais artísticos foram descolados de qualquer raiz que NÃO SEJA europeia. Cadeiras sobre "arte indígena" ou "arte asiática" quase sempre serão opcionais e ensinadas como algo a parte.

A arte é conservadora, mas do tipo mais espertinho. Ela se vende como a grande vanguarda do mundo, mas o mercado só realmente absorve as mudanças quando é insuportável ignorá-las. Lembram do homem pelado do museu? Imaginem ele sendo negro. Ele estaria preso, certamente.

A ideia é que a revolução vai acontecer de uma hora pra outra e substituindo repentinamente as coisas velhas e ruins por coisas novas e boas. Nesse mundo, eu aprendi que o mundo da inúmeras voltas, mas o capitalismo simplesmente troca de máscara.

Arte é o termômetro da humanidade. Ela reflete os períodos, inclusive em seus espaços ocultos e linhas apagadas. É obrigação da classe acadêmica revolucionária prestar atenção, pois é a partir desse mundo que a gente descobre o que as cortinas da mídia tentam efeitar.