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Se você é de esquerda ou tá preocupado com a questão do álcool em nossas comunidades e movimentos, vale a pena seguir esse fio. Vou colocar aqui dados e outras reflexões que complementam o debate anterior. Lembrando: não tou pedindo proibicionismo. É sobre autocuidado. +
Eu falava que existe uma relação entre o consumo de álcool e a estruturação de um conformismo, de nossa subalternidade. Esse é um debate que o próprio mercado da área não esconde. Vejamos o que fala uma plataforma desse mercado chamada Catalisi.. +
catalisi.com.br/quem-somos/
"O crescimento em volume de vendas seria creditado principalmente ao aumento de consumo de parte da população que viu sua renda disponível cair ou mesmo enfrentou desemprego nos últimos anos".

Exato: o crescimento ocorre porque mais DESEMPREGADOS beberão!
catalisi.com.br/o-que-esperar-…
O que garante o lucro é um desgraça social. O BR já é o terceiro maior produtor de cervejas do mundo. Perde para China e EUA. Produzimos 13,3 bi de litros de cerveja, segundo o SINDCERV. São R$ 77 bi em faturamento, 2% do PIB e... 117mil hectares.. +
sindicerv.com.br/o-setor-em-num…
A maior empresa do ramo é a AMBEV. Sobre seu dono, J.P. Lemman, sabemos que ganhava quase R$500 mil por hora em 2017. É o maior bilionário do país, com fortuna de R$ 105,9 bi em 2018. No país da desigualdade isto já é crime. +
economia.uol.com.br/noticias/redac…
Ele está por trás destas candidaturas que dizem renovar a política enquanto apoiam políticas privatizantes. Algumas destas políticas serão nefastas para nosso povo e ampliarão as desigualdades e gerarão desempregos, mas já vimos que desemprego pode ser bom para seus negócios. +
O problema é o que o uso abusivo do álcool causa em nós e no sistema de saúde. Vamos então ver um pouco do Panorama 2019 da CISA (Centro de Informação sobre Saúde e Álcool). Os dados revelam sobre nosso perfil de bebedores e sobre nossas dores. +
cisa.org.br/panorama2019
Nosso consumo per capta foi de 7,8l de álcool puro em 2016. Uma dose de destilada por semana em média. A média do mundo é de 6,4l. Entre os bebedores nosso consumo é de 3 doses por dia, 0,7 a mais que o mundo. Por regra, o consumo está diminuindo, mas ainda é alto para nós. +
Há um indicador chamado BPE = Beber Pesado Epsódico. Quando bebe-se uma quantidade excessiva (60g de álcoo puro) em pouco tempo. Também chamado de porre. O BR aumentou o número de BPE de 2010 para 2016, passando de 12,7% para 19,4%. O golpe nos "obrigou" a beber. +
Tudo isto fica mais grave para homens. Entre eles 32,6% relataram BPE alguma vez. Já as mulheres, apenas 6,9%. Só que entre bebedores, aí fica menos discrepante: 43,4% de BPE de mulheres no último mês da pesquisa contra 55% de homens. +
Esse aumento assustador da relação entre BPE das mulheres no geral e das que bebem alerta que elas precisam ter bastante atenção e foco no autocuidado. Eu sei que a culpa do estupro é sempre do estuprador, mas o risco da mulher amplia com o abuso da bebida. Veja..+
Quase metade das mulheres que reportaram BPE também relataram relações sexuais desprotegidas. Há estudos em períodos anteriores associando o BPE ao aumento da probabilidade da violência sexual. +
scielo.br/scielo.php?scr…
No BR temos uma população de 21,4% de abstêmios que nunca beberam. Consumimos mais cerveja (61,8%) do que destilados (34,3%). E o consumo abusivo está mais associado a quem tem mais escolaridade (puta merda!) entre a faixa de 18-24 anos. Educadores, ressaltem o autocuidado. +
Nosso primeiro consumo é em média ao 12,5 anos. 32% dos estudantes (14-18) relataram BPE no último ano. Os fatores associados relatados por eles: tabagismo, uso de maconha e agressão física. Como assim a educação não tá nessa visão ainda?! +
Agora começa a nossa dor e a do SUS. Em 2017 foram 268 mil internações parcialmente atribuídas ao álcool. E mais 63 mil totalmente atribuível. Isso correspondeu a 2,37% de todas as internações no SUS. SC, RS, PR e ES foram os estados com maiores internações. +
Em 2016 estas internações foram devido a:
24,3% queda
10,5% acidente de trânsito
8,4% sindrome de dependência
6,8% doença hepática alccólica
6,5% doença cardíaca isquêmica
4,5% outros transtornos por uso
4,5% violência interpessoal

Foram R$ 109,1 mi gastos no SUS pelo álcool. +
Em 2016 foram 72,4 mil óbitos pacialmente atribuível ao álcool e 20,5 mil totalmente atribuível. Se compararmos com os 43 mil mortos por arma de fogo, então podemos dizer que sim, há rastro de uma outra expressão do genocídio que não queremos ver. +
Como no caso das armas de fogo, os homens são as maiores vítimas. Foram 51,3 mil óbitos deles e 20,8 mil das mulheres relacionados com o álcool. Os estados que mais registraram estas mortes foram ES, PE, PB e RS. Como não associar as formas do genocídio?
Não encontrei dados sobre a questão racial para o uso abusivo de álcool. Mas no EUA há estudo na Universidade do Texas que afirma que quem sofre racismo está mais propenso a sobre depressão e alcoolismo. Segue @psitiagocabral para saber mais. +
brasil.elpais.com/brasil/2017/11…
Sobre a questão indígena, há desenvolvimento de pesquisas e elas estão nos alertando sobre a necessidade de compreender o alcoolismo entre os parentes. Você tb acha e-book da FIOCRUZ sobre o caso dos Kaingang no PR. +
scielo.br/scielo.php?scr…
Agora quero falar-lhes sobre a água, a principal matéria prima desta indústria. O relatório anual da AMBEV 2018 afirma que usaram 38,6 mil megalitros de água na produção, sendo 44,2% de superfície e 40,6% de lençóis freáticos. +
ri.ambev.com.br/download_arqui…
Vocês sabem o que significa, né? Estamos em plena crise hídrica no mundo. Nossa água é o bem mais valioso para o futuro próximo. Por onde quer que eu olhe esta cadeia produtiva e nosso consumo inconsciente eu não consigo parar de ver nós alimentando nosso pesadelo de amanhã. +
Há exemplos muito claros no mundo que não dá para propor transformações que não passem por nossas transformações também. Urge portanto que movimentos sociais, territórios e povos se debrucem e debatam com a devida relevância este tema entre os seus. Estamos perdendo nossa gente.+
Se nossas lutadoras e lutadores são o fundamento de nossas lutas, então cuidar delas e deles é estrutural em nossas organizações. Quem é relapso com as dores de seu povo, não pode reclamar da ação de setores consevadores que, mal ou bem, recepciona a dor dos nossos. +
Por fim: organizações, territórios e movimentos sociais precisam ter clareza sobre esta dor e não incentivar, não promover e nem romantizar o uso do álcool. Construam novas formas de descarregar esta libido que não seja se machucando. Vamos dialogar!
Quem não viu o fio que começou esse debate, é esse aqui:
@beatrizdiniz, como estão nossos rios?
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