Thread by @SflOrlando

DITADURA DO PROLETARIADO — A TRHEAD

Um dos conceitos que mais causa problema na obra marxiana é "ditadura do proletariado". Isso acontece pq há uma extensa bibliografia posterior e externa a Marx que trabalham este conceito de forma diversa a aquela trabalhada por Marx.

O primeiro a elaborar o conceito não foi Marx. Ele pegou emprestado de Auguste Blanqui, que cunhou o termo como um governo transitório onde o grupo revolucionário se tornaria governante temporariamente, até extinguir as bases capitalistas e, claro, as classes.

Karl Marx tomou emprestado o conceito, no entanto, não de forma estrita. Isso por que Blanqui acreditava que a população não tinha condições de governar a si mesma no momento posterior à revolução, sendo necessário que os revolucionários fossem o novo Estado.

O sentido transitório também estava presente em Marx, entretanto, inicialmente entendeu, ainda que de forma vaga, um processo de classe, não de grupo revolucionário, como contraposição ao que Marx chamava de "ditadura da burguesia".

O deslocamento de grupo revolucionário para classe operária é essencial para entender as diferenças entre Blanqui e Marx.
Enquanto para o primeiro, a transição era um processo de continuidade da revolução, Marx entendia que a transição era o primeiro procedimento de superação +

da necessidade revolucionária.

Posteriormente, Marx rompe totalmente com essa versão do conceito.
No prefácio ao manifesto comunista de 1872 ele escreve:

Em suma, Marx diz que a ideia de ditadura do proletariado está antiquado, face o estágio de desenvolvimento das forças produtivas e da própria classe operária, não precisando mais de guias iluminados.
Não é mais a tomada do Poder burguês o horizonte próximo, mas sua destruição.

Em outro livro, o "A Guerra Civil na França", Marx reformula os termos: "uma vez estabelecido em Paris e nos centros secundários o regime comunal, o antigo governo centralizado teria de ceder lugar só autogoverno dos produtores".

Marx, em 1871, já rejeitava a ideia de um Estado centralizado para condução do processo pós-revolucionário. Entendia que a transição deveria ser a própria revolução com a dissolução das relações e modos de produção capitalista, sendo suplantada pela autogestão operária.

Marx em Crítica do Programa de Gotha escreveu novamente sobre a necessidade de uma intermediação entre o capitalismo e o comunismo, e este intermediário seria a ditadura revolucionária do proletariado. Como a ideia ficou vaga, Engels explica que o conceito em Marx significava +

A própria Comuna de Paris. Ou seja, um processo de tomada de meios de produção. Em Marx, o próprio processo se tornou a antítese à ditadura da burguesia.

Tomar o conceito como o embrião da experiência stalinista é desinformação de forma pura.
A bibliografia marxiana tem de ser analisada em sua integralidade, não com conceitos arbitrariamente recortados.

@iczro @dcarvalho2049 @ItaloPetraglia

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