É uma história interessantíssima que envolve de Marighella à Nise da Silveira.
Meu pai não fala muito sobre ela, e aí está o @mariomagalhaes_ para provar.
Por conta disso, de 64 até 85 a vida foi tensa.
Por isso eles decidiram ter filhos mais tarde.
Ter filho naquelas condições podia ser a maior temeridade, então eles resolveram esperar.
Agora, vamos fazer um corte para a vida acadêmica da minha mãe.
Se tornou uma enorme conhecedora de Camões, Eça de Queiroz, Pessoa e Antônio Vieira.
Na volta para Belém, ela foi aprovada na UFPA e foi ser professora.
E aí entro eu, rs
Era o ano de 82, ainda plena ditadura, e minha mãe foi convidada para palestrar sobre Camões em um congresso especializado no RJ.
Sem ter com quem me deixar, me levou.
Lembro sempre da minha mãe tensa andando comigo, sempre desconfiando de alguém que pudesse nos prender.
Naquele dia, embarcando para o RJ, estava tranquila.
Até que alguém perguntou:
- Meu filho, e que você vai fazer no Rio?
E eu, do alto da minha inocência, respondi:
Silêncio absoluto no avião. Pessoas olhando com cara feia para minha mãe, como se ela fosse uma perigosíssima bandida.
E ela, sem reação, só conseguiu dizer:
- CamOnista...
- Não, meu amor, eu sou CAMONISTA, estudiosa de Camões. Estamos indo para um congresso de CAMONISTAS - disse ela, tomando controle da situação.
Aí as pessoas entenderam a confusão e riram, e ainda disseram Graças a Deus.
Com uma atuação considerada “perigosa”, inimiga da Ditadura com histórico de prisão e casada com um clandestino, qualquer passo em falso significava um grande perigo.
Ela pensava sobretudo em mim...
Felizmente nada aconteceu, tudo deu certo. O encontro da camonistas foi um sucesso - e descobri os perigos da palavra Comunista naqueles tempos sombrios.
Fim
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