A proposta foi maravilhosa. Ofereceram hospedagem, ajuda no deslocamento, na mudança, e o salário estava acima da média.
Estavam realmente buscando professores.
Conheci todo mundo, conheci as instalações e fui conhecer meu novo apartamento, que era bem pertinho.
Um emprego bacana, ganhando bem, um apartamento muito legal, tudo pertinho, e Itatiaia era uma cidade linda.
Eu estava nas nuvens, ansioso para dar a primeira aula no dia seguinte.
Para piorar, mal sai da sala e tive uma diarreia fortíssima que me obrigou a quase correr ao banheiro.
Puta azar: ia adoecer.
Parecia que nada tinha acontecido. Achei que pudesse ter comido algo estragado, mas só tinha comido em casa.
De qualquer forma, relaxei.
Resolvi comentar com o dono da escola sobre aquilo e senti que ele ficou tenso, mas não falou nada, só desconversou.
Havia uma senhora bem velhinha que cuidava do prédio. As vezes a via de longe, limpando o quintal, atarefada, e só uma vez a vi sentada na recepção da escola, mas ela nunca falava comigo. Parecia ter raiva de mim.
Resolvi me apresentar, já que não tinha tido a oportunidade, mas bastou eu falar oi, ela fechou o rosto, virou de costas e sumiu no quintal.
E quanto mais eu falava e reclamava, mais a funcionária ia ficando branca e assustada.
Ao final, ela respirou fundo e me disse:
- Mas claro que tem! Eu já vi essa senhora várias vezes no quintal cuidando das plantas, sentada aqui!
- Não, cara... nem tem ninguém que fique de noite aqui no prédio...
Imaginem como eu fiquei...
Por isso minha proposta de trabalho tinha sido tão boa...
No mínimo ele tinha que saber que eu sabia. E, diante da minha sinceridade, ele foi bem franco e pediu ajuda. Não tinha mais professor querendo trabalhar ali, ele tinha investido tudo na franquia e não podia fechar assim.
Resolvi ajudar, até que...
O foco era pedir união de todos para manter a escola aberta e ninguém perder o emprego.
As reclamações só aumentavam, os alunos começaram a sentir, algo tinha que ser feito.
Mas não uma reunião de noite, né?
Todos nós estávamos assustadíssimos, porque, quando chegava essa hora, ninguém mas queria ficar ali - mas dessa vez a gente ficou, porque era nossa sobrevivência.
Primeiro, começou a fazer um frio muito forte, e por mais que a gente desligasse o ar, o frio não passava.
Depois, as luzes começaram a piscar de forma insistente, como se fosse faltar energia.
A reunião foi se arrastando, até que uma professora disse que precisava ir ao banheiro e saiu da sala.
E mal ela fechou a porta, ouvimos um grito horrendo.
Tentamos acalmá-la, mas nada funcionava, até que ela começou a apontar para o fundo do corredor gaguejando, sem conseguir falar.
Olhamos e vimos...
Todos vimos a mesma coisa, mas antes que pudéssemos ter certeza, faltou luz e ficamos no breu.
Eu tive certeza de que morreria ali, seja por conta do vulto que havia sumido na escuridão, seja por conta do meu coração, que parecia pular pela boca.
Ficamos uns segundos assim.
Alguém ligou a lanterna do celular e logo a luz voltou, e não havia mais nada lá.
De qualquer forma, tratamos de pegar nossas coisas e sumir dali o quanto antes.
O dono da escola ficou para trás, foi o ultimo a sair, e quando estava trancando a porta, deu um grito, trancou tudo correndo e saiu nos puxando.
A gente ainda perguntou o que tinha acontecido, porque ele tinha mudado de ideia tão do nada, mas ele só fazia chorar, se despediu e foi.
Já no final da conversa, insistindo muito, ele resolveu me contar o que viu, na hora que ficou sozinho trancando o prédio:
Fim
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