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Faz alguns anos, fui convidado a dar aulas em um curso de inglês em Itatiaia, interior do Rio de Janeiro.

A proposta foi maravilhosa. Ofereceram hospedagem, ajuda no deslocamento, na mudança, e o salário estava acima da média.

Estavam realmente buscando professores.
Quando cheguei lá, descobri que a escola era relativamente nova e estava muito bem instalada em um casarão antigo que, apesar de muito bonito, era meio assustador.

Conheci todo mundo, conheci as instalações e fui conhecer meu novo apartamento, que era bem pertinho.
E tudo parecia mil maravilhas. Nem sei dizer o quanto eu fiquei feliz com aquela mudança.

Um emprego bacana, ganhando bem, um apartamento muito legal, tudo pertinho, e Itatiaia era uma cidade linda.

Eu estava nas nuvens, ansioso para dar a primeira aula no dia seguinte.
Aula dada, turma de moleques novos e interessados, já no final do horário eu comecei a sentir uma dor de cabeça muito forte que quase me nocauteou.

Para piorar, mal sai da sala e tive uma diarreia fortíssima que me obrigou a quase correr ao banheiro.

Puta azar: ia adoecer.
Mas, estranhamente, bastou sair da escola, já me preparando para uma noite ruim, que milagrosamente eu fiquei bem.

Parecia que nada tinha acontecido. Achei que pudesse ter comido algo estragado, mas só tinha comido em casa.

De qualquer forma, relaxei.
Todas as vezes que eu ia dar aula sentia a mesma coisa, a dor de cabeça e dor de barriga. Só mudava a intensidade, as vezes muito forte, as vezes mais fraco.

Resolvi comentar com o dono da escola sobre aquilo e senti que ele ficou tenso, mas não falou nada, só desconversou.
Isso e outra coisa estranha começou a chamar minha atenção.

Havia uma senhora bem velhinha que cuidava do prédio. As vezes a via de longe, limpando o quintal, atarefada, e só uma vez a vi sentada na recepção da escola, mas ela nunca falava comigo. Parecia ter raiva de mim.
Até que, uma noite, voltando do supermercado, passei em frente ao colégio (era perto de casa) e vi a senhora lá, no portão.

Resolvi me apresentar, já que não tinha tido a oportunidade, mas bastou eu falar oi, ela fechou o rosto, virou de costas e sumiu no quintal.
Fiquei realmente chateado. No dia seguinte fui reclamar com a secretaria, dizer que era um absurdo a falta de educação da mulher.

E quanto mais eu falava e reclamava, mais a funcionária ia ficando branca e assustada.

Ao final, ela respirou fundo e me disse:
- Olha... nem sei como te dizer isso, mas não tem ninguém assim trabalhando aqui...

- Mas claro que tem! Eu já vi essa senhora várias vezes no quintal cuidando das plantas, sentada aqui!

- Não, cara... nem tem ninguém que fique de noite aqui no prédio...
Depois de muito insistir, ela me contou que a antiga dona do imóvel sofreu durante anos com um câncer no intestino que resultava em dores horrendas - e que não aguentando mais aquilo ela teria se matado com um tiro na cabeça.

Imaginem como eu fiquei...
Ela ainda disse que nada, absolutamente nada, dava certo naquele local. Escritório de advocacia, órgão público, restaurante... tudo fechava como se amaldiçoado, empregados e clientes sofrendo dores estranhas - e que o mesmo estava acontecendo agora com a escola.
Não era só eu que estava tendo dor de barriga e dor de cabeça. Várias pessoas estavam reclamando dos mesmos sintomas do que eu, como se aquela velha senhora não quisesse ninguém na casa onde ela se matou.

Por isso minha proposta de trabalho tinha sido tão boa...
Fui falar com o dono.

No mínimo ele tinha que saber que eu sabia. E, diante da minha sinceridade, ele foi bem franco e pediu ajuda. Não tinha mais professor querendo trabalhar ali, ele tinha investido tudo na franquia e não podia fechar assim.

Resolvi ajudar, até que...
Bem, dias depois da minha decisão, tivemos uma reunião de equipe.

O foco era pedir união de todos para manter a escola aberta e ninguém perder o emprego.

As reclamações só aumentavam, os alunos começaram a sentir, algo tinha que ser feito.

Mas não uma reunião de noite, né?
Pois é... o dono da escola marcou uma reunião depois da última aula, umas 19:30...

Todos nós estávamos assustadíssimos, porque, quando chegava essa hora, ninguém mas queria ficar ali - mas dessa vez a gente ficou, porque era nossa sobrevivência.
Só que mal a reunião começou, as coisas começam a degringolar.

Primeiro, começou a fazer um frio muito forte, e por mais que a gente desligasse o ar, o frio não passava.

Depois, as luzes começaram a piscar de forma insistente, como se fosse faltar energia.
Nos éramos um grupo pequeno, éramos seis com o dono, e todo mundo fiquei assustado.

A reunião foi se arrastando, até que uma professora disse que precisava ir ao banheiro e saiu da sala.

E mal ela fechou a porta, ouvimos um grito horrendo.
Quando chegamos no corredor, ela estava jogada no chão, chorando com o rosto enfiado nas mãos, como se escondendo de algo.

Tentamos acalmá-la, mas nada funcionava, até que ela começou a apontar para o fundo do corredor gaguejando, sem conseguir falar.

Olhamos e vimos...
No fim do corredor escuro, quase em frente ao banheiro, havia um vulto que foi saindo cada vez mais à luz fraca do corredor, e quando mais se revelava mais nosso horror aumentava...

Todos vimos a mesma coisa, mas antes que pudéssemos ter certeza, faltou luz e ficamos no breu.
Nós todos nos abraçamos com força e gritamos de susto pela repentina falta de luz.

Eu tive certeza de que morreria ali, seja por conta do vulto que havia sumido na escuridão, seja por conta do meu coração, que parecia pular pela boca.

Ficamos uns segundos assim.
Aí fui me acalmando, até ensaiei um riso nervoso, no que fui acompanhado por todos...

Alguém ligou a lanterna do celular e logo a luz voltou, e não havia mais nada lá.

De qualquer forma, tratamos de pegar nossas coisas e sumir dali o quanto antes.
Estávamos fazendo isso, fechando luzes, desligando computadores, rindo da nossa besteira - apesar de todos saberem que vimos algo...

O dono da escola ficou para trás, foi o ultimo a sair, e quando estava trancando a porta, deu um grito, trancou tudo correndo e saiu nos puxando.
Já na rua ele começou a chorar e disse que acabava ali, que no dia seguinte ele pagava todo mundo, que pedia desculpas, mas não dava mais.

A gente ainda perguntou o que tinha acontecido, porque ele tinha mudado de ideia tão do nada, mas ele só fazia chorar, se despediu e foi.
No dia seguinte, sem entender nada, ainda fui conversar com ele, mas o cara estava irredutível. Ia fechar as postas, perder dinheiro, mas era isso mesmo.

Já no final da conversa, insistindo muito, ele resolveu me contar o que viu, na hora que ficou sozinho trancando o prédio:
Ele disse que viu a velha surgir da sombra, toda suja de merda, com o rosto todo desfigurado pela bala que a matou, e que a velha falou para ele ir embora, deixar a casa, pois ela não queria que ninguém a visse assim, da forma que foi encontrada morta.

Fim
História baseada no relato da @Tiazinha_78 no Instagram.

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