Era um lugar pequeno, bem familiar e de pouco movimento. O mar era manso na maioria das vezes e a areia era tomada por famílias e crianças correndo livres.
Queríamos estar com outros jovens, curtir a adolescência, namorar.
Nesse período, eu e meu irmão saímos todas as noite para procurar agitação, sem hora para voltar.
E tudo ia bem, até por volta de 2 da manhã, quando começou a chover forte.
A ideia era ficar ali até a chuva passar para podermos ir embora, mas isso não aconteceu.
A chuva piorou e acabou virando tempestade.
Para ficar pior, além do vento forte e da aguaceira, começou uma tempestade de raios com os piores trovões que já vi.
E quando achei que não pudesse ficar pior...
Ficamos todos assustados e tentamos nos distrair cantando ou fazendo piadas, mas ninguém estava tranquilo.
Foi quando comecei a perceber um ponto branco que se destacava lá longe na praia.
Me preparei para gritar, avisar a ele que estávamos ali, que havia abrigo, mas na exata hora que abri a boca, o rapaz que estava ao meu lado a tapou e fez shiii com a mão.
Por que diabos aquele cara que nem me conhecia tinha feito aquilo.
Mas, antes de brigar, percebi o olhar de medo e desespero dele.
O vulto ainda vinha correndo pela praia, bem perto da água, quase na nossa frente, e foi aí que novamente um raio enorme estourou.
Não havia ninguém na praia.
- Cara, você também vii aquilo, né? - perguntei.
- Vi sim, mas fica quieto.
Quando reparei, estavam todos olhando para o mesmo local sem entender nada, com olhos arregalados de medo.
De repente, o silêncio que se fazia foi quebrado pelo grito de uma das meninas, que apontava freneticamente para o mar.
- TEM ALGUÉM NA ÁGUA! TEM ALGUÉM SE AFOGANDO, FAÇAM ALGUMA COISA.
Diante da inércia de todos, a menina começou a correr para o mar.
Conseguimos alcançá-la quase no meio da faixa de areia, enquanto ela ainda gritava pela pessoa que se afogava.
- A GENTE TEM QUE IR LÁ, ELE VAI MORRER.
- Pára! Ela já está morta...
“Na terça-feira teve um afogamento aqui na praia. É raro acontecer, mas nesse dia teve uma ressaca anormal, com correnteza forte, a moça foi levada e não encontraram o corpo”
- Ela ainda deve estar perdida, sem aceitar que morreu. O que vocês viram foi o espírito dela vagando sem rumo aqui na praia, última terra firme que teve. Por isso não podia chamar. Ela podia vir.
- Mas ela me ouviu gritar. Ela ouviu meu grito e me olhou, e tenho certeza que ela estava vindo na minha direção quando vocês me alcançaram.
A menina entrou em surto.
- O que vai acontecer se ela me ouviu? Que vai acontecer se ela veio na minha direção!!??
Mas ninguém falou mais nada diante do choro amedrontado dela, que só quis ajudar a morte.
Fomos para casa, mesmo com a chuva.
Dormi já de manhã, quase quando a luz voltou. Ao acordar, no meio da tarde, a primeira coisa que fizemos foi procurar o grupo da noite anterior.
Estávamos todos lá, menos a tal menina.
Chegando lá, descobrimos que desde quando chegou ardia em febre. Os avós dela já tinham dado remédio mas nada fazia melhorar.
E não havia sinal de nada, nem garganta inflamada, nem dor, só uma febre terrível que aterrorizava a todos.
Os avós dela não entendiam, mas a gente compreendia quando ela gritava ELA TÁ AQUI, EU TO COM MEDO, VAI EMBORA, TENTEI AJUDAR, VAI EMBORA...
Resolvemos contar tudo para a avó da menina, que imediatamente se pôs a rezar.
Um médico veio e sugeriu internar para fazer exames, e assim foi feito.
Mas quando a menina já estava entrando no carro, subitamente ela começou a melhorar.
Pediu água, pediu comida e a febre cessou.
Foi quando passou alguém gritando na rua, chamando o povo todo.
- GALERA ACHARAM O CORPO DA AFOGADA, TÁ LÁ NO TRAPICHE, VEM VER...
Fim
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