Thread by @tantotupiassu

Estava assistindo a Live do @michelpinho sobre a Ditadura Militar e lembrei de uma episódio que muito tem relação com nosso atual momento.

Vocês conhecem o Massacre de Manguinhos?

Não?

Então sentem que vou contar.

Em 1970, o Instituto Oswaldo Cruz, hoje Fundação Oswaldo Cruz, já era um centro de conhecimento científico reconhecido mundo afora. Já naquela época, era o centro de pesquisas de maior importância na América latina.

Isso se devia, principalmente, à qualidade de seus cientistas.

Mas os cientistas da @fiocruz não eram bons somente em ciência. Eles também eram honestos e faziam muito bem o papel de fiscalização do local.

Exatamente por isso, tiveram diversos embates com os dirigentes do então Instituto, por conta de desvios e desmandos.

Um desses dirigentes do Instituto se chamava Francisco de Paula da Rocha Lagoa.

Os cientistas da @fiocruz, valentes, brigaram muito para que se fizesse ciência ali dentro, sempre combatendo politicagens e roubalheiras.

Mas aí chegou a Ditadura e, com ela, muita coisa aconteceu.

Um dos acontecimentos foi a nomeação do tal Francisco de Paula da Rocha Lagoa como Ministro da Saúde, em tese, com poder de total desmando no Instituto.

E o que ele fez, assim que foi nomeado?

Começou a perseguir todos os cientistas que o tinham enfrentado.

E ele perseguiu tanto esses cientistas, que conseguiu que o regime militar cassasse, por dez anos, os direitos políticos de dez renomados cientistas, vinculados ao Instituto Oswaldo Cruz há mais de 30 anos.

Esses cientistas representavam quase 13% da força pensante do local.

O Massacre de Manguinhos foi isso, um massacre à honra de pessoas honestas e justas, mas, principalmente, um massacre contra a ciência brasileira.

Os dez cientistas saíram pelo mundo encontrando outras oportunidades, e a @fiocruz se viu obrigada a retroceder no tempo.

Foram abertos inquéritos penais, civis e administrativos contra eles, expoentes da ciência nacional e, obviamente, nada foi para frente.

Mas a Ditadura podia qualquer coisa, inclusive ""matar" uma das instituições de maior renome nacional.

Os cálculos mais conservadores dizem que, por conta da demissão desses 10, o Brasil perdeu a formação de outros 180 cientistas. Nos cálculos menos conservadores, teríamos perdido quase 1000 cientistas.

Isso porque, o que forma um cientista é outro cientista mais experiente.

OS dez cientistas só foram reintegrados à @fiocruz em 1986, cinco anos depois da sanção da Lei de Anistia. Apenas um optou por não regressar à instituição. Preferiu continuar na Universidade Santa Úrsula, em Botafogo, na Zona Sul do Rio, que o acolhera quando do massacre.

Um livro excelente para conhecer mais dessa história é "O massacre de Manguinhos"do Herman Lent, um dos cientistas demitidos. É da editora da @fiocruz e revela de forma bem próxima as crueldades e ignorâncias da ditadura militar brasileira.

E, bem... como se afundar uma das maiores instituições científicas do Brasil, pela demissão sumária dos seus 10 melhores cientistas, por pura perseguição de um ego ferido? Pergunte à ditadura militar.

Com carinho, para @papodecobra @fiscaldoibama e @otaviovulcaobio