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Hoje quero lembrar Gabriela Leite, que defendia prostitutas e, para desespero do moralismo feminista, dizia que se prostituiu porque quis. Bons tempos quando Gabriela estava viva e tinha ideias como a "Grife Daspu" para escandalizar a Daslu. Comentários 👇
Gabriela diz que os clientes das prostitutas são "homens frágeis". Mas diz num tom de ternura. Hoje a "fragilidade masculina" é um dos principais "talking points" do sexismo feminista. Ela diz também que sexo não tem nada a ver com amor. Aqui, eu discordo com base em pesquisa.
Há alguma variação na rede neural que produz os neurotransmissores vasopressina e oxitocina, ligados ao apego afetivo e ao amor. É plausível que, para uma parte substancial da população, separar sexo de amor seja algo fisiologicamente difícil. O tabu vem disso também.
O sexo está de forma não-negligenciável ligado ao amor para parcela grande da população, especialmente em mulheres. Temos evidências de que o sexo casual faz mais mal para a saúde mental das mulheres do que a dos homens. Não é surpreendente do ponto de vista da evolução.
Fêmeas produzem poucos gametas grandes, e, no nosso caso, têm um enorme custo envolvido na reprodução, um custo energético que vai da produção de tecidos à amamentação. Nem se compara com o custo primário aos machos, que para os que abandonam filhos é quase zero.
A pílula anticoncepcional não tem nem 100 anos de idade. Ainda estamos entendendo seu impacto no comportamento. Certamente foi uma coisa revolucionária, como diz a Gabriela. Mas podemos entender por que muitas pessoas ainda pensam moralmente como se ela não existisse.
O valor econômico é só um dos vários valores que existem, apesar de tentativas de alguns economistas de reduzir todos os valores a ele (não funciona). Quando o sexo é transformado em mercadoria, isso conflita com outros valores advindos da substancial ligação entre sexo e amor.
Em resumo, eu respeito algumas das ideias da Gabriela, primeiro porque têm tudo a ver com liberdade. Certamente devemos ser livres para fazer certas coisas cujo status moral é incerto, como a prostituição. Se é eticamente recomendável fazê-lo é outro assunto.
A própria Gabriela reconhecia que não era uma mulher típica. Por exemplo, diz que a separação que a prostituição causou entre ela e a mãe a fazia sofrer às vezes, mas que ela não é muito de sofrer por isso. A vida dela seria uma infelicidade para boa parte das outras mulheres.
Pra fechar indico umas referências:
Sobre diferenças de sexo no apego afetivo/romântico journals.sagepub.com/doi/abs/10.117…
Sobre valor econômico em meio a outros valores: Michael Sandel, "What Money Can't Buy" (não é muito preciso em economia, mas o argumento central é bom).
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