A discussão ia animada, já quase acertados todos os detalhes, quando os soldados do Exército entraram e prenderam todos os futuros editores.
Recebeu o Nobel de Literatura de 1929.
Considerado um dos maiores romancistas do século XX.
E estava na reunião, junto de meu pai, por meio de um volume de A Montanha Mágica, de sua autoria.
Mas, aí, veio a prisão e A Montanha foi confiscado.
Dessa vez meu pai ficou 2 dias presos e, quando solto, não retornou a leitura do livro, que ficou guardado.
Por uma estranha coincidência, sentiu vontade de recomeçar a leitura de A Montanha Mágica e pediu para minha mãe pegar o velho exemplar para ele.
Para esconder a prisão dele prenderam outro Carlos Sampaio, completo inocente, que era apresentado quando minha família fazia solicitação de visita ou de informações.
Meu pai nunca me contou das torturas que sofreu, mas muita gente me fala, e daí sei das coisas:
Sabe o que meu pai fez?
Jamais disse o nome de alguém ou deu qualquer informação.
Meu pai pesava 45 quilos quando finalmente puderam visitá-lo.
E passou 3 anos preso.
Mas quem estava lá?
Isso mesmo: o surrado exemplar de A Montanha Mágica, do Thomas Mann, cuja leitura tinha sido mais uma vez interrompida pelos militares.
Em 1978 eu nasci.
E, em 1980, morando em Belém, minha mãe precisou ir ao Rio para conversar com Cleonice Berardinelli, sua orientadora no doutorado.
E adivinhem qual livro meu pai resolver levar para a viagem?
O velho exemplar de A Montanha Mágica.
Correria. Medo. Uns protegendo os outros e levando as informações mais comprometedoras.
Meu pai foi perseguido pelas ruas do centro de BH e conseguiu fugir em cena de filme.
Meu pai tinha certeza de que morreria se fosse capturado. Por fim, ficaram dias escondidos numa casa em obras, no meio dos tapumes.
Sempre foi um livro que quis ler, mas nunca rolou. E, naquele monento, A Montanha estava no topo da minha pilha de leitura.
Meu pai ficou branco, mas não disse nada.
Nela, A Montanha Mágica.
E meu pai, talvez para testar alguma teoria, talvez para ver até onde vai minha coragem, tem me cobrado de ler o livro que permeia nossa história.
Não falo de prisão, mas, você leria um livro com esse histórico de situações ruins no meio de uma pandemia?
Aí entram vocês.
Depois dessa narrativa, devo ler A Montanha Mágica?