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Se a relação entre futebol e política gera controvérsias, quando o assunto é futebol e economia o entendimento é mais claro. Um dos caminhos que ajudam a entender as transformações econômicas do Brasil nos últimos tempos é analisar os patrocínios nas camisas dos clubes. Segue:
Começando pelo período pós-ditadura (a partir de março de 1985), o Brasil tinha uma economia completamente instável, altos índices de inflação, aparecimento de moedas, ou seja, um cenário péssimo para empresas, tanto estrangeiras quando nacionais, investirem em futebol.
Quem ousou arriscar foi uma das maiores marcas do planeta, a norte-americana Coca-Cola. Nesse período ainda não era comum ver logomarcas estampadas nas camisas dos clubes brasileiros, esse processo se acentuou mesmo nos anos no final dos anos 80.
A CBF passava por uma grave crise financeira em 87, e o campeonato brasileiro corria o risco de não acontecer. Foi aí que surgiu o Clube dos 13 para organizar uma competição própria, a Copa União. A entrada da Coca no mercado futebolístico brasileiro se deu nesse contexto.
Inicialmente ela patrocinou o campeonato e 6 times. Durante os anos seguintes, aumentou o patrocínio de 6 para 10 equipes. Essa quantidade grande de clubes recebendo dinheiro de uma mesma marca pode ser entendida pela fraqueza do mercado.
Dois grandes times não foram patrocinados pela Coca, mas não ficaram com as camisas vazias. Corinthians e Flamengo tinham acertos com Kalunga e Petrobrás (LUBRAX). Depois de 3 anos de predomínio da Coca-Cola, a multiplicidade de patrocinadores começou a ser vista.
Já nos anos 90, mais precisamente em 94, o Plano Real, proposto pelo ministro Fernando Henrique Cardoso, mudou a realidade da economia brasileira. O real apareceu, assim como novas políticas monetárias. A inflação gigante diminuiu, gerando estabilidade pro país.
Com a economia estabilizada, diversas empresas de diversos ramos entraram apostaram no marketing esportivo: companhias aéreas no Atlético-MG e São Paulo, alimentícia no Palmeiras, de tintas no Corinthians e Santos, refrigerante no Botafogo, automobilística no Fluminense...
A Parmalat, por exemplo, já tinha fábrica no Brasil há algum tempo, mas com o crescimento econômico da década de 90, quis expandir ainda mais sua marca. E deu certo. O consumo de leite em caixa subiu mais de 30% em 6 anos. Os milhões investidos no Palmeiras tinham ótimo retorno.
O caso da Parmalat parece ter aberto os olhos de outras empresas alimentícias, que também decidiram patrocinar times nos anos posteriores. Foi o caso da Mabel (Goiás), Cirio (São Paulo), Bauducco (Coxa) e Batavo (Corinthians). No final do século, foi a vez das automobilísticas.
A estabilidade da economia fez com que as pessoas pudessem ter créditos para a compra de carros. A Hyundai tinha parceria com o Fluminense desde a metade dos anos 90, e viu suas concorrentes chegarem forte no mercado brasileiro. Chevrolet e Fiat foram as principais investidoras.
A primeira optou por Inter e Grêmio, a segunda por Cruzeiro e Atlético-MG. Com o governo Lula, as políticas para possibilitar e incentivar o consumo das camadas que tinham saído da extrema pobreza e das que ascenderam à classe média e o aparecimento da tecnologia, (+)
as empresas de eletrônicos passaram a figurar nas camisas. Quem não se lembra da marca LG estampada nos uniformes do São Paulo campeão brasileiro, da Libertadores e do Mundial? Ou do Santos campeão paulista com a Semp Toshiba e Panasonic?
Além delas, Motorola, Siemens e Samsung patrocinaram clubes nos anos 2000. A venda desses produtos eletrônicos, que era de 2 milhões no século XX, passou para 14 milhões até 2010. Outro setor que se beneficiou com as novas políticas econômicas foi o de construção civil.
MRV, Tenda, Suvinil, Cimento Nassau, OAS aproveitaram a oportunidade e investiram no futebol, mas uma crise mundial em 2009, aquela que Lula chamou de "marolinha", afetou diretamente esse mercado e a duração dos patrocínios não durou muito para alguns.
Isso fez com que alguns clubes ficassem sem parceiros comerciais por um período, e os que tinham algum investimento estatal, como Botafogo (Liquigás) e o Vasco (Eletrobrás), perdessem. Já nos anos 2000 foi a vez dos bancos aparecerem.
Querendo alavancar os créditos consignados, os bancos viram a oportunidade perfeita no futebol. A partir de 2011 a BMG montou uma dinastia: nada menos que 11 times estampavam a sua logomarca. Um novo período de instabilidade econômica fez com que outro banco se popularizasse.
Agora um estatal. A Caixa Econômica, no período em que empresas privadas não queriam mais investir no futebol brasileiro, se mostrou a salvação para alguns clubes. Foram cerca de 25 times patrocinados nas principais divisões do país. No ano passado, porém, isso acabou.
Paulo Guedes, ministro da economia do governo atual, deixou claro que tinha coisas melhores para fazer com o dinheiro. Com isso, os bancos digitais e privados voltaram, mas com novos acordos - como os aplicativos para as torcidas, bônus, valores menores.
Lembrando que tem as nuances econômicas e de patrocínio durante esse tempo, falei mais no geral mesmo. Para quem quiser ler mais sobre isso:

trivela.com.br/estatais-carro…

poder360.com.br/economia/setor…

www1.folha.uol.com.br/esporte/2019/0…

noticias.r7.com/economia/caixa…
Há algum tempo fiz essa outra thread sobre os primeiros patrocínios masters de cada clube:

Se puderem seguir a página no instagram, agradeço demais 😊

instagram.com/camisa_oito
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