Primeiro, porque vendia frutas no lombo de uma carroça e percorria a cidade todos os dias.
Segundo, porque ela costurava, e como a cidade quase não tinha lojas, era ela quem fazia muitas das roupas das festas de Barbosa.
A casa, em si, era pequena, mas tinha um gigantesco jardim na frente e um quintal maior ainda.
A cidade não era violenta, mas vovó sempre trancava o portão de noite.
De noite...
Devia ser por volta de 21 hs, todo mundo se preparando para dormir, quando ouvimos uma batida fraca na porta da sala.
Para alguém bater na porta teria sido necessário passar por tudo isso, o que nos deixou bem preocupados.
Com cautela, meus avós foram até a porta e perguntaram quem era.
Minha avó, mulher sempre valente, correu e abriu a porta, mesmo com meu avô contrariado.
Deram de cara com uma mulher magra carregando um bebê.
A criança, agarrada na mãe, também chorava.
E nós notamos as diversas marcas roxas nos braços e corpo dos dois. Era uma completa desconhecida, o que chamou nossa atenção.
- Moça, se acalme. Que aconteceu? - vovó falou enquanto me mandava buscar água na cozinha.
- Por favor, não deixe ele me encontrar.
- Ele quem?
- Você precisa me dizer quem tá te procurando. A gente precisa chamar a polícia.
- É meu marido, mas a polícia não pode fazer nada.
Dito isso, vovó mandou arrumar a cozinha do fogão a lenha, que ficava depois da cozinha “tradicional”, meio que isolada do resto da casa.
Assim, todos ficavam seguros.
Atamos uma rede e nos certificamos de que o fogão a lenha estava apagado.
Com a casa mais calma, começamos a nos preparar para dormir novamente, quando, então, ouvimos...
Agora, os murros eram tão fortes que saia até poeira do caixilho, como se estivessem derrubando a porta.
E, naquele exato momento, o caos se instalou.
E, da cozinha onde estavam mulher e criança, veio um grito alucinante de horror, que na hora me fez chorar.
Enquanto meu avô corria, enquanto minha avó vigiava a porta, eu fiquei observando.
E foi então que aconteceu. Minha mãe nunca soube explicar...
Minha mãe gritou por socorro e todos correram para apagar o incêndio, mas não tinha muito o que fazer.
O cômodo ardia em chamas.
Meu avô, armado, deu a ordem:
- Eu vou sair pra pegar o vagabundo. Vocês tentem baixar a chama pra ela não chegar muito perto da casa.
Dizendo isso, ele destrancou a porta e sumiu na escuridão. E nos pegamos baldes...
Reaolvemos entrar na cozinha, apesar de esperar encontrar uma cena horrenda, e, de fato, havia.
Mas não havia sinal do corpo da mulher, nem da criança e, mais estranho, NADA ESTAVA QUEIMADO.
Checamos janelas, mas todas estavam trancadas por dentro. Não tinha como eles terem saído dali.
Nisso, meu avô voltou:
- E aí, encontrou alguém?
- Como assim?
- É que além das marcas de sapato de homem, também tem rastro de uma mulher e uma criança.
Todos se olharam sem entender nada.
Minha mãe ficou trancada em casa com os irmãos menores, minha avó e meu vô foram fazer uma segunda checagem.
Demoraram pouco, mas voltaram mais assustados ainda.
- O que foi? Viram algo?
Minha avó contou então que, enquanto verificavam novamente o gradil, passou na tua um cortejo de vira-latas, indo na direção do cemitério, rosnando baixo como se vissem algo do outro mundo...
Naquela noite ninguém dormiu, todos passaram as horas amontoados num único quarto, meu avô com a arma na mão.
E o dia amanheceu, e todos estavam prontos para superar aquilo...
Mas uma coisa chamou a atenção. O mesmo bando de vira-latas da noite anterior acompanhava o cortejo, agora, em silêncio, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
E voltou, minutos depois, com a seguinte história:
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