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Curiosidade do Japão: Dia 11/06/2020

Uma vez me perguntaram como que é a linguagem neutra em japonês, e a resposta rápida é: Ela não existe pq essa pauta ocidental não é aplicável à língua japonesa.
Mas, antes de aprofundarmos sobre o tema precisamos falar de gênero gramatical
Quando falamos de gênero dentro da linguística temos o gênero gramatical e o gênero referencial.
Gênero gramatical é uma característica linguística que permite classificar as palavras de uma língua em diversas categorias.
Gênero gramatical é um mero sistema linguístico que auxilia na construção de concordância gramatical.
Existem línguas que tem 18 gêneros gramaticais como o swahili, e línguas que não tem nenhum gênero gramatical, como é o caso do inglês e do japonês.
E pensar que gênero gramatical = homem, mulher é um pensamento linguístico eurocêntrico.
Existem línguas que separam as palavras entre seres animados/inanimados, ou humanidade/animalidade, ou até mesmo em classificações gramaticais mais complexas como fones ou prefixos.
Gênero referencial é o gênero para qual a palavra se refere.
Ex: O gênero gramatical de Leite é masculino em português (O leite), feminino no espanhol (LA leche) e inexistente no inglês (the milk). Mas o Gênero referencial é inexistente nas três línguas pq ele não é um ser vivo
O problema que falantes de línguas latinas tem é que o mesmo vocabulário usado para o gênero gramatical (feminino/masculino) é usado para o gênero referencial. O que causa acaba refletindo na linguagem diversos problemas sociais como machismo e binarismo.
Porém na língua japonesa não temos o conceito de gênero gramatical, só algumas palavras carregam gênero referencial, que podem ser facilmente evitadas.
Por ex: Ao invés de falar Mulher (女 - onna) ou homem (otoko - 男) basta usar pessoa (人 - hito)
Essa adoção de termos neutros já tem sido adotada principalmente por causa do movimento feminista japonês. Profissões que carregavam a ideia de serem exclusivamente femininas foram substituidas por novas palavras que indicam qualquer gênero.
Ex: Antigamente usava-se a palavra kangofu (看護婦) para se referir a enfermeiras. O kanji para fu (婦) significa mulher adulta. Ou seja: Existia a ideia de que a enfermagem era uma área exclusiva de mulheres.
Hoje é usado a palavra kangoSHI (看護師). Já que 師 significa mestre.
E a luta por uma terminologia legal neutra já é comum entre todos os LGBT como, por ex, a troca da palavra mãe (haha-oya 母親) por um-dos-pais (kata-oya 片親) em certidões de nascimento ou registros escolares.
E os pronomes?
Então, para começar a gente tem que lembrar que fora dos materiais didáticos raramente os japoneses usam pronomes.
O normal é tratar as pessoas pelo nome, ou simplesmente não falar o pronome (vc tem que subentender quem é o sujeito da frase pelo contexto)
Então ao invés de usar palavras que normalmente são traduzidas como ele (kare 彼) e ela (kanojo 彼女), basta usar a forma que já é usada no dia a dia: aquela pessoa (anohito - あの人) ou sua forma formal anokata (あの方)
E se vc quer falar com desprezo de alguém é só usar koitsu.

Outro ponto que muita gente confunde é que os pronomes na língua japonesa são carregados de valores culturais (Por isso temos mais de 50 palavras só para traduzir o conceito de eu)
E para simplificar muitas metologias ensinam que watashi (私) é neutro, boku (僕) é masculino e uchi (ウチ) é feminino.
O que está parcialmente certo, só que esquece que um homem adulto falando boku pode parecer infantil e muitas mulheres tbm usam boku.
Ou seja, não dá para a gente simplificar a língua japonesa sob pautas ocidentais.
Pessoas nb japonesas usam uma mescla de pronomes que já existem na língua japonesa para melhor expressar sua identidade assim como pessoas binarias tbm o fazem.
A única pauta que é exclusiva da comunidade nb e muito debatida é a aceitação da opção X seja aceita em documentos oficiais já que o termo guarda-chuva para os gêneros nb em japonês é X-JENDAA (Xジェンダー).
Espero que essa linha não tenha ficado muito confusa por causa da terminologia técnica de linguística, mas é aquilo que eu tenho falado em todas as minhas linhas: Não dá para olhar as pautas LGBT como universais. Cada povo tem seu jeito de trabalhar suas próprias pautas
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