Pois bem, o Brasil se aproxima da resolução, a pior ou a melhor, dessa enorme crise: Bolsonaro não vai recuar, vai até o final, e e isso, como já falei várias vezes aqui, o coloca em rota de colisão com a direita tradicional (1/12).
A Ditadura caiu por força dos trabalhadores no fim dos anos 1980, quando a convergências dos nascentes movimentos sociais se une às lutas do novo sindicalismo. A oposição liberal ao regime foi obrigada a incluir esses atores, mas nunca com muito gosto (2/12).
A Nova República é isso: a direitaça pró regime militar na berlinda, mas com campo para ocupar cadeiras no legislativo, fazer seus "negócios", militares na tutela da vida civil, liberais com a faca e o queijo na mão e as esquerda meio dentro como antagonista (3/12).
Primeiro, se tentou suplantar um sistema partidário e robusto que se anunciava com Collor. Ele colapsa. Aí parece que o Brasil teria de "se contentar" a ver a disputa entre duas forças civilizadas e cada vez mais tendentes ao centro: PSDB e PT (4/12).
Bolsonaro é, aí, aparentemente apenas um dos clowns populistas de direita tolerados inclusive pelos democratas d'antanho como expressão da "pluralidade" do país, mas enquanto isso, a democracia superficial não constrói instituições e não toca no tabu da tutela militar (5/12).
O PT caminhou mais ao centro para poder governar dentro dos trâmites da Nova República, a partir daí temos algo bom e ruim ao mesmo tempo: o PT se colocando em posição de governar e o PT deixando de ser o elemento de pressão pela luta de direitos (6/12).
Com erros e acertos, fato é que nos termos das grandes instituições a democracia parecia nos trilhos depois de 8 anos de FHC e 8 anos de Lula. Mas ledo engano. O neoliberalismo, produzido pelo primeiro e tolerado pelo segundo, produziu patologias sociais (7/12).
A partir daí, surge uma demanda pela resolução do enigma Brasil: de um lado mais livre e includente, do outro outro, profundamente arcaico, violento, reacionário. Tudo isso explode sob uma presidência como a de Dilma, que supôs poder substituir a política pela gestão (8/12).
A treta é que Dilma conseguiu a proeza de desmontar o complexo arranjo Lulista e a direita tradicional em parte catalisou uma onda radical, em parte embarcou nela, mas se destruiu. O impeachment de Dilma foi uma tragédia sobretudo para o PSDB (9/12).
Bolsonaro só vence porque antes houve impeachment ilegal de Dilma e porque a Lava Jato colocou Lula na cadeia ilegalmente. Ainda assim, precisou do uso massivo e ilegal de redes sociais para vencer Haddad. Por sinal, fosse Alckmin o candidato, ele perderia (10/12).
O problema de Bolsonaro é que ele é incontrolável. Ele usou o establishment de direita como escada para um projeto pessoal torpe e bárbaro e, no meio do caminho, ofereceu tudo para a oligarquia nacional (11/12).
Bolsonaro atende a um mito recorrente de várias culturas: a entidade invocada que se rebela contra o mago triste que pretendeu usa-la. Hoje, ou é ela ou a direita tradicional. O Brasil é pequeno demais para ambos (12/12).
