Uma coisa interessante sobre o último Datafolha e a prisão de Queiroz: o índice de descrença na relação de Bolsonaro é muito parecida com o que as pessoas pensam do governo como um todo. É a Trumpificação: os atos e fatos sendo julgados à luz da pessoa do "líder" (1/7).
Isso é uma consequência do projeto Bannon: o líder não é mais como parte de um projeto, mas um protagonista pessoal que encarna um projeto. Você não olha mais para o que ele faz ou deixa de fazer, mas no que isso significa para a realização desse projeto (2/7).
É claro, a aprovação ao "grande projeto", materializado na figura de Bolsonaro pode ser mais ou menos aprovado, mas ele é colocado de forma polarizante: não é o escândalo, mas o que você pensa de Bolsonaro/Trump enquanto projetos encarnados (3/7).
Bannon desloca o centro do ser da ação política para o futuro: você tem fé no projeto? Se sim, tem de defender o governo. É o inverso do "populismo de direita" contemporâneo: não é pessoa. Bolsonaro é afirmado pessoalmente como esse (anti)messias e ele, em si, pouco importa (4/7)
Lembra muito a teologia medieval: não é o padre que batiza, é Cristo, é o padre enquanto aquele que faz às vezes de Cristo -- o vigário --, então o batismo ou o casamento promovido por um vigário que venha a ser desmascarado ou expulso não é nula (5/7).
No caso, Bolsonaro é tanto mais um anticristo, uma vez que sua ação é tanto mais diabólica -- no sentido etimológico, no sentido em ele rompe com o simbólico -- e não autonômica, mas anômica -- a Lei afirmada seletivamente (6/7).
O que se precisa entender disso: o governo passa a ter polos antagônicos visíveis que serão, daqui para frente, salvo algum grande desastre, estáveis e duradouros. Como com Trump (7/7).
