O futuro de Bolsonaro: Queiroz capturado, Bolsonaro quieto, mas ainda sem sinal de uma deposição do presidente. Muita gente frustrada, muita gente confusa. Mas é preciso entender o que se passa no Brasil há seis anos e entender como essa canalhice tem explicação (1/10).
Com Queiroz preso e -- notem, esse detalhe é até mais importante -- o celular de Bebbiano de volta ao Brasil, o temos é um governo sitiado com um presidente emudecido para negociar com os atores que detém, agora, o poder real (2/10).
Bolsonaro precisa negociar para não perder o real. O Centrão já usou dessa crise toda para conseguir cargos e verbas em troca de não levar a cabo o impeachment mais do que merecido de Bolsonaro (3/10).
Antes da pandemia, lembremos, Bolsonaro já arquitetava um confronto com as instituições para acumular mais poder, a pandemia veio e mudou a agenda, mas ele tratou de usar do caos para retomar essa pauta, o que ajudou a gerar mais mortes (4/10).
A dividida de bola com o STF elevou a temperatura porque, de fato, o presidente ameaçava a corte. O resultado foi a prisão de ativistas-chave do Bolsonarismo e, no fim, a prisão do homem-bomba do esquema da família Bolsonaro: Fabrício Queiroz (5/10).
Bolsonaro não tem o que fazer, senão negociar sua posição com a centro-direita que controla o STF e o Congresso assim como se expressa e expressa a opinião das organizações Globo. O primeiro passo: calar a boca. Notem, ele calou (6/10).
O segundo passo é tirar os olavistas dos postos-chave, abrindo espaço para os arrivistas do Centrão. Weintraub caiu e teve de fugir. Um novo ministro da educação teve a vida e o currículo devassados. Bolsonaro terá de negociar a indicação desse cargo e de todos os outros (7/10).
Por outro lado, Paulo Guedes, o superministro da economia aclamado pelo mercado segue prestigiado pela Globo, enquanto, paradoxalmente, sustenta Bolsonaro a cada crise. Guedes acha que Bolsonaro é uma personagem necessária, mas sobreviveria a sua queda (8/10).
O Congresso, incluso até mesmo setores da centro-esquerda, vão lá e topam a agenda do mercado, mostrando-se confiáveis até para o "trabalho sujo", vide privatização da água, para mostrar que Bolsonaro é inútil -- mas só comprovam a utilidade simbólica de Bolsonaro (9/10).
Portanto, agora as coisas caminham para Bolsonaro ser apenas uma Rainha da Inglaterra, mas não ser destituído: pode ser que a piora da pandemia e da economia forcem sua derrubada antes de 2022, ou mesmo um ato impensado dele por não se conformar com a situação (10/10).
P.S.: o quadro estacionário de uma governança da centro-direita radical na economia, mas civilizada nos costumes poderia se sustentar, a questão é a conjuntura real que pode se agravar muito e teima contra. Se se sustentar será isso, caso não tramarão uma esquerda moderada.
P.S.B.: Uma esquerda radical tem de meter a mão nessa cumbuca e mudar esse jogo de contentes. Saindo do hype revoltista, mas saindo do comodismo. Seriedade custa cara e é inglória, mas é o que muda as coisas realmente.
