Não desejo que Bolsonaro morra. E não é por moralismo. Mortes doem demais em quem está próximo. Não consigo, e também não quero conseguir, desejar isso a ninguém.
Mas discordo ainda mais do ministro André Mendonça.
Vejam: o jornalista não ameaçou de morte o presidente. Apenas relatou que acha esta morte, por doença, desejável.
O ministro está errado.
Mas principalmente por outra razão. André Mendonça finge não entender por que liberdades de expressão e de imprensa são desejáveis.
Só podemos saber quais são as ideias que desejamos preservar e as que pretendemos descartar de um jeito.
Botando na praça pública e debatendo.
Em geral é uma minoria. Quando o presidente é extremista, haverá mais gente manifestando este desejo.
Não adianta jogar essa vontade para de baixo do tapete, se ela existe.
É isso que Hélio Schwartsman fez. E seu artigo já despertou vários outros artigos e posts.
Que o questionam muito mais do que o oposto.
Pois muito bem: se um jornalista escreve no NYT ou no WaPo a mesma coisa sobre Donald Trump, ninguém no governo sequer cogitaria um processo.
A Primeira Emenda não o permite.
Como não são ameaças de assassinato, mas manifestações de desejo, nem o Serviço Secreto, que por obrigação garante a vida do presidente, liga pra isso.
É do jogo.
Mas Hélio tem pleno direito de desejar a morte do presidente e tornar público este desejo.
Em democracias funciona assim.
E que não escape a ninguém esta ironia: desejo de morte é algo que os Bolsonaro conhecem muito bem.