Thread by @LuisFelipeGiest

De acordo com o notável "The Politics of Innovation", de Mark Z Taylor, a "causa causae" da diferença de performance em inovação tecnológica dos países é algo que ele chama de "insegurança criativa"

Taylor explica que aceleração da inovação tecnológica depende de um tipo de mobilização nacional que, infelizmente, está além da capacidade que os governos costumam dispor

Para q isso ocorra é necessário um balanço desequilibrado entre a percepção de ameaças externas e ameaças internas (como percebidas pelos grupos de pressão) em favor das primeiras.
Em outras palavras, a segurança nacional tem de ser um preocupação relativamente importante.

O Brasil, que acabou de ter divulgados dados da pesquisa de inovação (Pintec) do IBGE, está percebendo que 20 anos após ter pisado fundo na emulação de modelos da promoção da CT&I, pouco se avançou.
Taylor tvz ajude a explicar essa performance desanimadora.

Enquanto internamente passamos pelo 4o governo no qual boa parte da população vocifera nas redes seu desejo de que o Presidente morra, é muito dificil convencer os brasileiros de que estão sob severa ameaça externa.

O Global Firepower, mais conhecido ranking de poder militar relativo, mostra um "PwrIndx" de 0,199 (quanto mais próximo de zero, melhor, de froma que os EUA = 0,061).
Esse índice o coloca na 10a posição global.

Na América Latina, o próximo da lista é o México, com 0,606 (38o); na América do Sul, que reúne ameaças mais plausíveis, é o Peru, que com um índice de 0,622, é o 40o globalmente.

O Global Fire Power é muito criticado por supostamente dar muita ênfase a equipamentos disponiveis.
Recurso interessante para outra perspectiva é o Atlas de Defesa da América do Sul, do GEDES/Unesp (gedes-unesp.org/atlas/).

O Atlas traz uma interessantíssima aba de indútria de defesa.
A tabela a seguir congrega os resultados de todos países sul americanos com ao menos uma empresa nos diversos tipos de produtos de emprego militar:

Como não é dificil observar, por esse critério a discrepância "a favor" do Brasil é ainda maior (embora, como esperável, alguns resultados inverossímeis do Global Fire Power, como o Peru estar a frente da Argentina, apareçam muito distintos).

Curiosamente, embora pareça uma super potência na America do Sul, o Brasil é desproporcionamente frágil na comparação com países de fora do subcontinente.
O Reino Unido, por exemplo, com PIB muito próximo ao nosso, possui uma base de defesa mais de 5X a brasileira.

Em um mundo de drones, constelações de satelites e misseis de cruzeio hipersônicos, é evidente que a percepção de ameaça não coincide com sua real dimensão.
Mas Taylor está certo: grupos e decisões politicas movem-se essencialmente com base em impressões, eventualmente em mitos.

Não obstante, nesse #DiaNacionaldaCiencia desejo que outro tipo tb muito real de ameaça, a ameaça sanitária, nos faça despertar.

A pandemia deixou evidente, apesar do porte do SUS, a fragilidade de nosso complexo industrial de saúde.
Que sirva de foco de mobilização para que, ao menos nesse setor, o Brasil passe a dar a devia importância à Ciência e aos seus elos com o setor produtivo

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